"Perdi a minha mãe, um irmão, um sobrinho e dez primos. Só o corpo da minha mãe apareceu, já em Espanha, e os de três primos - uma no autocarro com o bebé e outro no mesmo sítio. O mais triste é, passados estes 15 anos, não saber onde eles estão. É horrível", relata, entre lágrimas, Ilda Martins.
Muitos dos familiares das 59 vítimas mortais da queda da ponte Hintze Ribeiro, Entre-os-Rios, a 4 de março de 2001, não conseguiram ainda fazer o luto e necessitam de apoio psicológico. Há 36 corpos que nunca foram recuperados.
"Estamos a pensar criar condições para acompanhamento médico dos familiares e vamos trabalhar nesse sentido", indicou ao
CM Augusto Moreira, líder da Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios. Há 15 anos, perdeu a mãe e o irmão - este tinha estado, um mês antes da tragédia, num boicote popular para impedir que o trânsito passasse na ponte.
O sentimento de revolta mantém-se hoje, como no momento da ruína da travessia. "Não se fez justiça. O próprio governo disse que a culpa não ia morrer solteira e a culpa morreu solteira. Perdemos 59 pessoas quando isso podia ter sido evitado e eles não quiseram porque tiveram oportunidade de evitar a tragédia. Quiseram que a tragédia acontecesse. E, depois, não fizeram a justiça a que se propuseram", disse Manuel Santos, marido de Ilda Martins.
"Que tipo de inspeção foi feita? Foi ir ao restaurante, comer umas postas de lampreia e beber uma caneca do bom tinto de Castelo de Paiva? E o juiz que fez o julgamento dos areeiros nunca conheceu o Douro antes de Crestuma. Deu-os como ilibados quando um areeiro tinha, num pilar, dois ferros cravados com duas argolas, onde passava o cabo de arrastão para retirar a areia", conclui.