Natália Correia nasceu há 81 anos na casa onde mora no Beco das Cruzes, em Alfama, Lisboa. É naquela moradia que se concentram as memórias de uma vida ao lado do marido, Eduardo, de 82 anos. Desde 2013 que o casal vive "em pânico", devido à possibilidade de serem despejados. Estão provisoriamente protegidos, até março do próximo ano, mas pedem garantias de que não vão perder a casa.
Os problemas começaram há cinco anos, quando o casal foi confrontado com um aumento da renda. "A senhoria antiga veio ajustar a renda e ficou em 70 euros. Ela pensou em vender o prédio quando veio esta onda dos turistas", recorda Eduardo.
A subida no preço foi aplicada ao abrigo do novo regime de arrendamento urbano, que veio permitir a atualização das rendas a idosos e pessoas portadoras de deficiência, com mais de 15 anos de contrato. A lei implica ainda que, após um período de cinco anos, entra em vigor um ano de regime livre.
"A senhoria disse que íamos receber o recibo, que vem acompanhado com uma carta. Ela disse para não ligarmos à carta", conta Eduardo. O casal garante que nunca leu o documento e que foram alvos de uma "sacanice".
Em 2017, os idosos foram notificados pela Associação Lisbonense de Proprietários, na sequência de uma ação de despejo da nova senhoria. Teriam de abandonar a casa na passada quarta-feira.
Mas o "sossego" regressou quando receberam uma carta a a avisar que não teriam de sair da habitação. A nova lei, aprovada em julho, protege os idosos e portadores de deficiência, até 31 de março de 2019.
Mesmo com a incerteza presente, o casal recusa baixar os braços. "Não saio daqui. Só se for morta", diz Natália.