Parte da guarnição do navio patrulha ‘Mondego’, da Marinha, recusou sábado à noite largar do cais do Funchal em missão, alegando avarias graves do navio, relataram ao CM fontes militares e confirma oficialmente a Marinha. Em causa 13 dos 29 militares que estavam a bordo do ‘Mondego’.
Estão retidos no navio e a ser inquiridos, arriscando responder por insubordinação. A Armada, que assume a avaria num motor, descreve que se "recusaram ocupar os respetivos postos na preparação da largada para execução de uma missão". As associações de militares alertam para o desinvestimento que levou a esta situação e sustentam que os 13 militares apenas cumpriram o dever de tutela e protegeram o navio e as suas vidas.
Fonte oficial da Marinha relata ao CM que "a missão atribuída ao NRP ‘Mondego’ era de curta duração e próxima da costa, com boas condições meteo-oceanográficas" e que "o comandante do navio reportou à cadeia hierárquica que, apesar das limitações mencionadas, tinha condições de segurança para executar a missão". Cabe ao comando do navio avaliar "em primeira instância" o estado de prontidão, seguindo-se a "sua cadeia hierárquica e a estrutura de manutenção da Marinha". "O Comando Naval (cadeia hierárquica) deu liberdade ao comando do navio para abortar a mesma em caso de necessidade superveniente" e a Superintendência do Material não considerou que o navio estava inseguro para navegar, afirma a Armada.
A mesma fonte oficial descreve que os "navios de guerra, sendo um conjunto de sistemas muito complexos e muito redundantes, podem operar em modo bastante degradado sem impacto na segurança" e as guarnições estão treinadas para tal e "preparadas pela lidar com os riscos inerentes, o que faz parte da condição militar". A Marinha afirma que os quatro sargentos e nove praças "avaliaram que este não estaria pronto para navegar e recusaram-se a cumprir com a missão". "No entanto, alguns referiram ao comandante que se a missão fosse salvar vidas iriam para o mar. Cabe apenas à Marinha, e a sua linha hierárquica, a definição de quais os navios em condições de cumprir com as missões atribuídas", afirma a fonte oficial.
"Os militares em causa, não cumpriram com os seus deveres militares, usurparam funções, competências e responsabilidades não inerentes aos postos e cargos respetivos. Estes factos estão ainda a ser apurados em detalhe, e a disciplina e consequências resultantes serão aplicadas em função disso", assegura a mesma fonte oficial.
Num documento a que o CM teve acesso, os 13 militares denunciam avarias num dos dois motores e em um dos três geradores, que ficaram inoperacionais. Apontam essas e outras (fugas de óleo e risco de incêndio) "limitações técnicas graves, que comprometem a segurança do pessoal e do material e o cumprimento da respetiva missão". A situação foi provocada por falta de manutenção, uma vez que (devido a cortes orçamentais) há poucos navios operacionais e o Mondego tem sido chamado a missões consecutivas.
O sargento-mor António Lima Coelho, da Associação Nacional de Sargentos, assinalou ao CM a sua "preocupação com as condições com que os nossos militares estão a desempenhar cada vez mais missões, com menos meios e menos gente, por vezes com risco para os mínimos de segurança". "Não há só desinvestimento em pessoal, mas também em material", afirma.
Já o cabo-mor Paulo Amaral, da Associação de Praças, afirmou ao CM que "as condições em que o NRP ‘Mondego’ se encontra a prestar serviço na Zona Militar da Madeira não são as ideais". "O navio carece de reparações várias e de manutenção num motor, atrasada 2 mil horas de funcionamento, e nos geradores, atrasadas 4 mil horas. Para o pessoal de bordo o realizar precisa do navio parado uma semana, o que não tem sido possível devido aos consecutivos empenhamentos. É um grande constrangimento para o pessoal a bordo", explicou Paulo Amaral.