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Alzira "morreu quando fugia do fogo" em Pedrógão

Morreu atropelada quando tentava escapar às chamas. Não está na lista oficial de mortos.

27 de julho de 2017 às 01:30
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Alzira 'morreu quando fugia do fogo' em Pedrógão

Eram 20h00. O grande incêndio de Pedrógão Grande batia à porta da aldeia quando Alzira Costa fugiu de casa para evitar as chamas, na Senhora da Piedade. Levava o telemóvel, uma lanterna e o dinheiro todo que tinha guardado em casa. Morreu atropelada e é a 65ª vítima da tragédia.

Uma vítima do fogo que a Justiça, para já, investiga à parte por não ter morrido queimada ou intoxicada. "Quando fui ao Instituto de Medicina Legal deram-me esse dinheiro que estava junto ao corpo dela. Ela nunca ia levar o dinheiro se não estivesse a fugir. Até deixou a porta aberta. A minha mãe morreu quando fugia do fogo", descreve ao CM a filha única, Laura Moreira, que agora trata da casa e dos terrenos.

Na curva da estrada junto à casa ainda há vestígios do atropelamento, como pedaços da lanterna. Alzira, 71 anos, seguia pela esquerda, a subir o caminho. Tudo indica que a viatura vinha no sentido oposto. O impacto foi violento e o corpo parou numa ribanceira, na berma contrária. "Ela, para ser atropelada, teve de ser uma grande coisa, tinha de haver muito pouca visibilidade", considera a filha. "O corpo tinha muitas escoriações, por todo o lado", afirma.

Não entende porque é que a mãe não está na lista oficial publicada pelo Ministério Público. "Não faço ideia como é que a minha mãe desaparece do conjunto de nomes das vítimas. Foi dos primeiros corpos a ser levantado e dos primeiros funerais em Vila Facaia. Se não fosse o incêndio ela não ia sair de casa e ainda cá estava", diz Laura Moreira.

Com o nome de Alzira fora das vítimas, a filha não recebeu apoio. "Nunca recebi ajuda como as outras famílias porque não fazia parte das afetadas. Só agora é que estou a receber apoio. Mas ainda assim já paguei o funeral, por exemplo", afirma.

Para a família não há dúvidas de que se não fosse o incêndio, Alzira Costa ainda estava viva. "A minha mãe era uma pessoa muito forte e resistente. Não era muito alegre porque teve muitas dificuldades. Criou-me com muito custo. Mas tinha muita vida dentro dela. Tinha muitas coisas para fazer", desabafa a filha.

Será José a 66ª vítima de Pedrógão?

Exigem que seja considerado vítima do incêndio. "Ficou cercado porque foi tudo muito rápido", relata ao CM Dina Duarte, vizinha. "Com a temperatura a subir, o quarto ficou muito quente", descreve. Mais tarde "foi retirado, numa altura em que havia muito fumo, e houve inalação de fumos e mudanças de temperatura. Obviamente que o estado de saúde piorou".  

Nos dias seguintes foi hospitalizado "de urgência duas vezes, mas voltou para casa". "À terceira ficou lá internado e acabou por morrer. Dupla pneumonia", refere Dina Duarte. Para quem ali mora não há dúvida de que a morte se deveu ao incêndio.

"Ele não morre por causa do fogo, mas em consequência do fogo e por isso devia ser contabilizado. Se não fosse aquele dia 17, ele ainda estaria entre nós", afirma.

PORMENORES 

"Vítima indireta", diz filho

O reformado estava acamado "há mais de um ano" com multipatologia, sofrendo de problemas respiratórios e de hipotensão. O filho Alfredo Tomás, 55 anos, diz à Lusa que o pai é uma "vítima indireta" das chamas.

Justiça investiga

O Ministério Público explica que a morte de José Rosa Tomás, "até ao momento, não está sinalizada como diretamente relacionada com o incêndio", mas que vai "recolher elementos".

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Está a ser desenvolvida no Porto uma solução que permite aos drones reforçar as comunicações sem fios em cenários de emergência.

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