Ninguém percebe o que aconteceu. Porque é que o burro Vicente matou Ricardo, um menino de dez anos, filho do tratador do animal.
Ricardo visitava muitas vezes o burro. Vicente era “um bom animal”, dizem os populares de Zibreira, em Torres Vedras, habituados que estavam a fazer-lhe festas.
Mais. “Vicente canta”, pediam. E o burro zurrava. Zurrava tanto que o Sr. Caetano, dono da quinta, teve de deslocá-lo para um terreno mais baixo, afastado da aldeia.
Mas sábado, pelas 11h00, Ricardo desafiou os amigos a visitarem o animal. “Estava convencido que ele não lhe fazia mal”, comenta, agora, António Carlos Lourenço, proprietário do Café Central da Zibreira, onde o luto pela morte do menino impede a visualização dos jogos do Euro. “A televisão está aí, desligada. Não queremos saber de nada tal é a dor.”
Ricardo morreu. Miúdo destemido e enérgico, como muitos da sua idade, saltou o muro que guardava o animal e pediu aos amigos: “Chamem pelo Vicente. Chamem-no.”
Telmo, com 13 anos, e André, de 11, acederam e gritaram pelo burro. E o animal apareceu. Correu na direcção do menino, abocanhou-o pelo braço e atirou-o ao chão.
Telmo e André ficaram estupefactos. Correram em busca de ajuda. Telmo telefonou para o 112. “Duas vezes”, asseguram populares (ver caixa). André foi chamar o pai de Ricardo.
“O Sr. Jorge [como é conhecido na aldeia] estava a trabalhar mais abaixo. Foi o primeiro a chegar ao local”, conta Maria Teresa Ricardo, mãe de Telmo.
“E quando eu lá cheguei... – Maria Teresa lança as mãos à cabeça – vi o pai debruçado sobre o filho. Só dizia ‘Ricardo, meu querido filho’.”
Maria Teresa viu marcas de mordida no braço do menino. Já José Pedro Costa, que alertado por Telmo acorreu também ao menino, escusa pormenores, referindo apenas que “estava mordido por todo o lado”.
Maria Teresa lembra ainda que o pai de Ricardo enxotou o burro. “Disse-lhe ‘Xou, xou Vicente.”
E o burro assistiu, ao largo, ao transporte do menino pelos Bombeiros de Torres Vedras para o hospital local. Mas de pouco serviu. Ricardo não resistiu aos ferimentos.
“Dizem que o burro mordeu-lhe o baço e ele perdeu muito sangue. Viu--se até quando a ambulância abandonou o terreno. Ficou um rasto de sangue”, conta Maria Teresa.
Já o burro Vicente foi abatido ontem de manhã. “Há quem tenha ouvido tiros e visto familiares do Ricardo”, comenta-se na aldeia.
MORADORES REVOLTADOS COM SOCORRO TARDIO
“Ricardo foi socorrido tardiamente”, acusam os populares da aldeia de Zibreira, em Torres Vedras, assegurando que “o 112 recebeu, pelo menos, quatro chamadas de pedido de socorro, de duas pessoas”.
“O Telmo [um rapaz com 13 anos] telefonou duas vezes. Uma quando o burro mordeu Ricardo e outra um pouco mais tarde, quando viu que a ambulância nunca mais chegava”, conta a mãe, Maria Teresa Ricardo.
“Depois o Sr. José Pedro Costa telefonou mais duas vezes”, informação que o próprio confirma ao CM. “Telefonei uma primeira vez e tive de contar a história toda apesar de o rapaz [Telmo] já ter ligado. E voltei a ligar, porque nunca mais vinham. E pediram-me outra vez para contar a história toda.”
José Pedro Costa está inconformado com a demora. Contactado pelo CM, os Bombeiros Voluntários de Torres Vedras esclarecem que receberam o alerta “às 11h58 e imediatamente saiu do quartel uma ambulância que chegou a Zibreira às 12h12”.
“E o serviço terminou às 13h25”, refere a mesma fonte, acrescentando que não é a primeira vez que as pessoas se queixam da demora. “Se ligassem directamente para o quartel nós mandaríamos imediatamente uma ambulância. Mas nós recebemos a chamada às 11h58 do CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] de Lisboa e saímos logo até porque o caso era muito grave”, reafirma a mesma fonte. O 112 é um serviço que está ligado à PSP que por sua vez encaminha a chamada para o INEM, Instituto de Emergência Médica. Este, segundo um responsável, recebeu o alerta às 11h57: “A polícia transferiu para nós a chamada. Era de um adulto”, esclarece, acrescentando que às 11h58 alertaram os Bombeiros de Torres Vedras, que chegaram ao hospital às 12h36.
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