"Estou em estado de choque. É um amigo que se perde", disse, emocionado, Adolfo Luxúria Canibal.
O vocalista de Mão Morta e poeta referiu ainda o valor e a importância de José Mário Branco para a música e cultura portuguesas.
Adolfo Luxúria Canibal e José Mário Branco escreveram em conjunto a canção intitulada "Loucura", que foi recentemente recuperada para um disco de tributo lançado este ano.
O escritor Valter Hugo Mãe escreveu no Instagram: "Que insuportável notícia, a da morte de José Mário Branco. Toda a música portuguesa empalidece. Que génio que perdemos agora. Que tristeza esta porcaria chamada morte", lamenta.
O ator Miguel Costa despede-se do músico no Facebook:" O Amor incondicional pela música, a inquietação permanente. Hoje ficamos mais pobres. Muito mais pobres. Até sempre José Mário Branco", diz o artista.
Camané conta à TSF que conheceu José Mário Branco aos 18 anos, no Bairro Alto. "Está muito para além de um cantor de intervenção. É um artista extraordinário, um produtor fantástico", afirmou o fadista lamentando a perda de "um amigo, uma pessoa de quem gostava muito". José Mário Branco foi produtor de Camané durante 20 anos e sempre "fugia ao caminho fácil".
O cantor João Pedro Pais deixou uma homenagem a José Mário Branco no Twitter: "Homenageio o homem e exímio cantautor. Muito Obrigado!".
JOSÉ MÁRIO BRANCO.
— João Pedro Pais (@Joaoppais) 19 de novembro de 2019
Homenageio o homem e exímio cantautor. Muito Obrigado! https://t.co/cfmRZVE9x2 pic.twitter.com/mcNOoWhFZj
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou esta terça-feira a morte do músico e produtor José Mário Branco, dizendo que "resistir, em Portugal, terá sempre um disco [seu] como banda sonora".
Numa mensagem publicada na conta oficial do ministério, na rede social Twitter, José Mário Branco é lembrado como um "nome maior da música portuguesa" e uma "voz de luta e de intervenção".
"[A] Ministra da Cultura lamenta profundamente a morte de José Mário Branco, nome maior da música portuguesa. Voz de luta e de intervenção, o seu legado é intemporal e é património coletivo", acrescentou, na mesma mensagem.
O presidente da Assembleia da República manifestou-se esta terça-feira consternado com a notícia da morte de José Mário Branco, considerando que foi um "antifascista", um dos maiores nomes da canção portuguesa e uma "figura ímpar da música de intervenção".
"Foi com grande consternação que acabei de saber do falecimento, aos 77 anos, de José Mário Branco. José Mário Branco é inquestionavelmente um dos maiores nomes da canção portuguesa, num percurso que começou muito antes do 25 de Abril e que durou até aos dias de hoje. E que durará, na verdade, enquanto tivermos memória", escreveu Ferro Rodrigues numa mensagem de pesar enviada à agência Lusa.
Como autor, segundo o presidente da Assembleia da República, ficarão de José Mário Branco "álbuns incontornáveis da música portuguesa, como "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades" (1971), "Margem de Certa Maneira" (1973), "FMI" (1982), "Correspondências" (1990) ou "Resistir é Vencer" (2004)".
"José Mário Branco foi uma figura ímpar da música de intervenção, da canção de Abril, tendo a sua música sido rica no recurso a vários géneros musicais, do cancioneiro popular à clássica, passando pelo rock, o jazz ou a música francesa. Ficarão também na memória coletiva as suas colaborações com outras figuras maiores da música portuguesa, como José Afonso, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, Manuela Azevedo ou Camané", referiu também Ferro Rodrigues.
Nesta sua mensagem, Ferro Rodrigues destacou também que José Mário Branco foi um "antifascista, perseguido pela PIDE" e "a sua intervenção cívica empenhada e atividade política levaram-no ao exílio em França no tempo da ditadura (em 1963), onde, apesar da distância, nunca deixou de aspirar e lutar pelo fim do regime".
"Regressou a Portugal em 1974, com a liberdade, para ajudar a construir um País mais justo, propósito que nunca deixou de o inquietar. Hoje é um dia de enorme tristeza pessoal. À família (nomeadamente aos filhos e netos) e aos muitos amigos, quero transmitir, em meu nome e em nome da Assembleia da República, a expressão do mais sentido pesar, assim como reconhecer a importância da obra que José Mário Branco deixou ao país, bem como o seu exemplo de inconformismo, coerência e rebeldia", acrescentou Ferro Rodrigues.
O escritor José Jorge Letria lamentou esta terça-feira a morte do músico José Mário Branco, comentando que "Portugal perdeu um dos seus maiores criadores musicais de sempre".
Contactado pela agência Lusa, o escritor e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) disse ter uma memória pessoal "muito forte e intensa" de "um homem corajoso que esteve preso e no exílio".
José Jorge Letria sublinha a marca profunda "como autor de canções intemporais e poderosas, que deram voz ao anseio de mudança, e ao desejo de liberdade e democracia que havia nos cantores e nos portugueses nessa época no final dos anos 1960 e 1970".
"Foi um excecional autor de canções, mas foi sobretudo um orquestrador excecional, outra marca que também deixa, e que conseguiu imprimir nos discos que fazia com Zeca Afonso, Sérgio Godinho e outros", disse, recordando que José Mário Branco lhe fez os arranjos musicais do disco "Até ao Pescoço" (1972).
O presidente da SPA recordou que "Cantigas do Maio" (1971), disco de José Afonso, que teve produção de José Mário Branco, "foi fundamental, e por ter a canção 'Grândola Vila Morena', iria mudar a história politica contemporânea portuguesa", porque foi usada como senha da resistência na revolução do 25 de Abril.
"Logo a seguir ao 25 de Abril, quis definir a estrutura da organização em que os cantores se iriam integrar para fazer chegar as suas vozes ao povo português", disse Letria à Lusa.
O músico Sérgio Godinho manifestou uma "dor muito profunda" pela morte de José Mário Branco, um autor "riquíssimo e fundamental na música portuguesa", disse à agência Lusa.
"Tenho uma dor muito profunda, de repente esta morte súbita. Sempre fomos extremamente leais. Nunca houve um desentendimento. No essencial estivemos sempre próximos e cúmplices. [...] Somos irmãos de armas. As nossas vidas tocaram-se muito e tocaram-se em muitas aventuras criativas e pessoais", afirmou o cantautor.
Sérgio Godinho recorda-se de ter conhecido José Mário Branco em Paris, onde este estava exilado: "E imediatamente desenvolvemos uma amizade. [...] Começámos a fazer parcerias e letras para aquilo que viria a ser o seu primeiro disco, e o meu primeiro disco, que foram gravados mais ou menos ao mesmo tempo".
José Mário Branco editou "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" em 1971 e Sérgio Godinho lançou "Os Sobreviventes" em 1972.
Independentemente da amizade que os uniu ao longo de décadas - reavivada ainda no espetáculo "Três cantos", com Fausto Bordalo Dias -, Sérgio Godinho considera que José Mário Branco "teve uma importância fundamental no renovar da música portuguesa" e sublinha dois artistas com quem ele trabalharam: José Afonso e Camané.
Sérgio Godinho nomeia "a enorme etapa no desenvolvimento sonoro" dos discos do Zeca Afonso que tiveram participação de José Mário Branco e a ligação "absolutamente fulcral" com o fadista Camané. "Foi ele que impulsionou muito".
"Era alguém riquíssimo e fundamental na música portuguesa", disse o músico de 74 anos.
Os dirigentes do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) manifestaram também "profundo pesar" pela morte do músico José Mário Branco, dizendo que "o mundo da cultura fica mais pobre".
"Foi com profundo pesar que o PEV recebeu a notícia do falecimento de José Mário Branco. José Mário Branco, músico, autor, poeta, produtor e um dos nomes mais importantes da música portuguesa dos últimos 50 anos. Homem comprometido com a construção de um mundo melhor, é autor de uma obra singular no panorama musical, tornando-se o expoente da música de intervenção portuguesa, tendo por isso sido perseguido pela PIDE até se exilar em França. A sua obra não se cingiu à música de intervenção, tocou desde a música de intervenção e a canção de Abril até ao fado", lê-se em comunicado.
Para os ecologistas, "o mundo da Cultura fica mais pobre" e, "nesta hora de luto e dor", os responsáveis de "Os Verdes" enviam "a mais profunda solidariedade e amizade, endereçando os seus mais sentidos pêsames à sua família".
O pianista e compositor Mário Laginha disse sentir uma "profunda tristeza" com a morte de José Mário Branco, "um músico inspiradíssimo que manteve sempre a juventude" ao longo da carreira.
"É com profunda tristeza e uma sensação de perda para a música portuguesa que recebi esta notícia", disse o músico, contactado pela agência Lusa.
"É um dos expoentes máximos da música de intervenção, e tudo o que ele fez foi bom. Sempre que ele punha a mão [num projeto] - não só como compositor, mas também como arranjador e produtor - havia a certeza que iria ser alguma coisa boa e bem feita", comentou Mário Laginha, acrescentando que Branco "manteve sempre uma enorme juventude do ponto de vista musical", ao longo da carreira.
Mário Laginha, que acompanha Camané no seu último álbum, lançado em novembro, "Aqui Está-se Sossegado", salientou o trabalho que José Mário Branco fez com o fadista, em produção e arranjos de vários fados.
"O Camané é um bom exemplo de alguém que o José Mário Branco compreendeu e explorou as potencialidades, mas sempre encontrando um equilíbrio em relação ao repertório, para além das grandes canções que escreveu para o fadista", recordou.
Para Laginha, "foi um músico inspiradíssimo": "Tenho canções que me acompanharam na adolescência e ainda hoje me lembro delas", tal como muitas pessoas de várias gerações.
O primeiro-ministro, António Costa, lamentou a morte do músico José Mário Branco, considerando que foi uma figura cimeira da música moderna e da cultura portuguesa. "É com profunda tristeza que lamento a morte de José Mário Branco, figura cimeira da música moderna e da cultura portuguesa, O primeiro álbum - Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades (1971) - foi prenúncio da revolução de Abril e de uma obra empenhada e combativa", escreveu António Costa na sua conta pessoal da rede social "Twitter".
Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período da Revolução de Abril de 1974. O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro.
Foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge ou Samuel.
Estudou História nas universidades de Coimbra e do Porto, foi militante do PCP até ao final da década de 60 do século passado e a ditadura forçou-o ao exílio em França, para onde viajou em 1963, só regressando a Portugal em 1974.
Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.