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João Moura acusado de maus-tratos a animais falha julgamento após apresentar atestado médico

Toureiro está acusado de 18 crimes.
Hugo Rainho e Lusa 18 de Setembro de 2023 às 07:22
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Cavaleiro João Moura começa hoje a ser julgado por maus-tratos a animais de companhia
O cavaleiro tauromáquico João Moura, acusado pelo Ministério Público (MP) de 18 crimes de maus-tratos a animais de companhia, apresentou um atestado médico por acidente de trabalho e falhou o julgamento que começou esta segunda-feira no Tribunal de Portalegre. Está representado pelo advogado Luís Semedo.

O julgamento arrancou às 9h30, no Juízo Local Criminal de Portalegre.

João Moura, que este ano assinala 45 anos da estreia oficial como cavaleiro tauromáquico, está acusado pelo MP de 17 crimes de maus-tratos a animais de companhia e um de maus-tratos a animais de companhia agravado, por factos ocorridos em 2019 e 2020, na sua propriedade em Monforte, no distrito de Portalegre.

Em declarações à agência Lusa, o advogado do arguido, Luís Semedo, considerou que o processo é "inconstitucional", porque os factos que são imputados ao cavaleiro, "segundo a lei e o Tribunal Constitucional", são factos que "não têm punição legal, porque não constituem crime".

"Estamos a discutir e a fazer uma produção de prova de factos que não são crime, isto é utilizar os recursos do tribunal para fazer produção de uma situação que não vai ser punível", defendeu.

O advogado do toureiro considera ainda que, perante as inquirições que foram feitas esta segunda-feira em tribunal, os galgos "não eram todos" propriedade do arguido.

"Afinal os galgos não eram todos do arguido, afinal havia galgos que pertenciam à última testemunha que foi o antigo funcionário, afinal ficamos a saber que era a testemunha que durante o período temporal da acusação, de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020, cuidou dos galgos, foi ele que lhes deu comida, foi ele que lhes mudou as camas, foi ele que limpou as boxes e ficámos a saber que o arguido, não sei se tinha ou não conhecimento disso porque não ficou claro", acrescentou.

O toureiro foi detido pela GNR no dia 19 de fevereiro de 2020, na sequência do cumprimento de um mandado de busca à propriedade, tendo então sido apreendidos 18 cães.

Na altura, fonte da GNR adiantou que a detenção se enquadrava numa investigação realizada pelo Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA). O processo-crime foi originado por um auto de notícia elaborado pela força de segurança.

Após ser interrogado nesse dia no Tribunal de Portalegre, João Moura foi constituído arguido e ficou sujeito a termo de identidade e residência. A próxima sessão do julgamento está marcada para 11 de outubro.

No despacho de acusação, a que a agência Lusa teve acesso, o MP descreve o estado de saúde de cada um dos 18 animais quando foram apreendidos: alguns animais encontravam-se magros ou com "condição corporal baixa" e outros apresentavam "magreza acentuada" ou "estado de caquético", entre outras classificações.

Todos os cães galgos apreendidos tinham lesões ou escoriações e infeções provocadas por parasitas, possuindo alguns doenças, sem que existissem "quaisquer sinais de tratamento", indica o MP.

Na primeira sessão foram ouvidos os veterinários, militares da GNR e técnicos que fizeram parte das buscas e resgate que decorreram, em 2020, na propriedade do cavaleiro tauromáquico, em Monforte.

Uma cadela com quase 8 anos, que sofria de insuficiência hepática e renal aguda, além de apresentar um "estado de caquexia" e "cortes profundos na zona do metacarpo sem sinais de cicatrização", acabou por morrer no dia da operação da GNR.

O MP adianta que, pelo menos entre dezembro de 2019 e 19 de fevereiro de 2020, João Moura "privou os 18 animais de acesso a água e alimento em quantidade suficiente, de alojamento limpo, de quaisquer cuidados de saúde e de higiene, de vacinação e tratamentos de desparasitação".

No dia da operação que levou à detenção, os cães estavam "confinados em boxes de cavalos, dois a cinco animais por boxe, sem quaisquer equipamentos ou utensílios para fornecimento de alimento ou água".

"Os espaços onde estavam alojados apresentavam grande acumulação de excrementos de muitos dias" e os cães "não possuíam um espaço seco e macio para repousar, dormindo sobre o cimento e sobre os dejetos acumulados", descreve a acusação.

Segundo o documento, João Moura, em vez de "proporcionar os cuidados de saúde, nutrição e higiene" aos animais, "tratou-os cruelmente, sabendo que com a sua conduta lhes causava lesões, dor, fome, sede, desconforto e, em consequência, sofrimento".

TRATAMENTO CRUEL
No Juízo Local Criminal de Portalegre, João Moura é acusado de tratar de uma forma cruel os animais. “Tratou-os cruelmente, sabendo que com a sua conduta lhes causava lesões, dor, fome, sede, desconforto e, em consequência, sofrimento”, refere a acusação, salientando que o cavaleiro deveria de “proporcionar saúde, nutrição e higiene” aos animais.

Cadela morreu
Uma cadela com sete anos e que apresentava um “estado de caquexia” e “cortes profundos (...) sem sinais de cicatrização” morreu no dia da ação da GNR.

DEFESA SEM PUNIÇÃO
O advogado do arguido, Luís Semedo, considerou que o processo é “inconstitucional”, porque os factos que são imputados ao cavaleiro, “segundo a lei e o Tribunal Constitucional, não têm punição legal, porque não constituem crime.”

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