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Libertem o corvo Mantorras!

Mais de 120 pessoas já reclamaram num abaixo-assinado a libertação de um corvo chamado “Mantorras”, que a GNR levou há uma semana da aldeia de Chã, em Leiria. A comunidade sente saudades da ave, que adoptou no início do Verão depois de um incêndio, e a sua ausência até inspirou um poema.

03 de setembro de 2005 às 00:00

Suspeito de matar uma galinha, ‘Mantorras’ é declarado inocente no julgamento popular: “O corvo nunca foi ave de rapina, só come o que está morto”, pode ler-se na folha de rosto do abaixo-assinado.

Foi a 24 de Agosto que os militares do Serviço Especial de Protecção da Natureza e Ambiente (SEPNA) da GNR se deslocaram a Chã, após a denúncia de uma moradora que se queixava da morte de uma galinha ‘às mãos’ do ‘Mantorras’.

As autoridades confirmaram que o corvo tinha sido adoptado pelo proprietário do posto de abastecimento de combustíveis de Chã, Diamantino Ferreira. E, por se tratar de uma espécie que não pode ser mantida sem autorização do Instituto de Conservação da Natureza, levaram-no. ‘Mantorras’ esteve ‘detido’ na Ecoteca de Porto de Mós e encontra-se agora num centro de aves em Monsanto, Lisboa.

Os habitantes da aldeia estão revoltados. “Não tinham de prender o bicho porque ele andava livre, nunca esteve em cativeiro”, considera Diamantino Ferreira. “Foi criado aqui, toda a gente gostava dele e não fazia mal a ninguém”, acrescenta, recordando que era frequente ‘Mantorras’ ir ter com os humanos para lhe coçarem as penas.

O corvo surgiu na aldeia no início do Verão, fugido de um incêndio, e desde então costumava andar por ali, comendo o que aparecia e dormindo nas braças de um pinheiro manso junto ao posto de combustíveis.

Diamantino Ferreira não se conforma. “Morreu lá um frango à senhora, ela acusou a pobre miserável da ave e então a GNR veio aí e levou-a”, lamenta, reconhecendo que não conta rever o amigo: “Já perdi a esperança, não há nada a fazer”. Todavia, os clientes do café que explora em Chã, habituados ao corvo, estão a aderir em peso ao abaixo-assinado e um deles até se lançou a escrever um poema. A vontade de todos é única: “Que ‘Mantorras’ volte e seja livre”.

OUTROS DOIS EM 'PRISÃO DOMICILIÁRIA'

DEPOSITÁRIO

A GNR verificou que Diamantino Ferreira mantém outros dois corvos, que não o ‘Mantorras’, em cativeiro. Foi lavrado um auto e as aves estão em ‘prisão domiciliária’. O dono foi nomeado fiel depositário pelas autoridades.

PAPAGAIOS

O casal de corvos que está em cativeiro veio de França há 24 anos. O proprietário já contactou o Instituto de Conservação da Natureza para legalizar esta situação e a de dois papagaios que também

tem consigo.

NECRÓFAGO

O corvo é o maior de todos os corvídeos, chegando quase aos 70 cm de comprimento. É principalmente necrófago, mas também mata pequenas aves e mamíferos, numa dieta que inclui ainda ovos ou cereais.

JOÃO PEDRA

“Aquilo que fizeram ao ‘Mantorras’ é um crime, porque ele andava livre, não estava em cativeiro. Além disso, toda a gente sabe que o corvo não mata, só come carne morta. Outro dia estava aí a beber um café e veio ter comigo à mesa. Se fosse um incendiário, só ficava em prisão domiciliária ou em liberdade.”

DIAMANTINO FERREIRA

“Por altura dos fogos, para que ele não morresse queimado como os irmãos, trouxeram-no aqui ao posto de abastecimento, porque sabem que sou muito ‘passareiro’. Criámo-lo aí, ia para cima dos braços e da cabeça das pessoas e toda a gente gostava dele. Já estava habituado a estar com as pessoas.”

ABÍLIO FERREIRA

“Antes de o levarem deviam ter--se informado se era verdade que matou a galinha. Acho que o deviam devolver. Quando estávamos sentados ali fora vinha ter connosco e deitava-se para a gente lhe coçar a cabeça”, recordou Abílio Ferreira, um dos signatários do abaixo-assinado a circular no café de Chã, que se auto-intitulam “Os amigos do ‘Mantorras’.”

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