Francesco Pelle, de 44 anos, o mafioso italiano apanhado no final de março internado com a Covid-19 no hospital de São José, em Lisboa, onde chegou a estar em coma induzido, teve melhorias no seu estado de saúde e foi esta semana presente ao Tribunal da Relação de Lisboa, que lhe decretou a prisão preventiva. Foi transferido e, até que se cumpra a extradição para Itália, Francesco Pelle vai ficar enclausurado no Hospital-Prisão de Caxias, em Oeiras, apurou o CM junto de fonte da PJ, polícia que geriu todo o processo.
O membro de topo do sindicato do crime ‘Ndrangheta, da Calábria, estava a ser guardado, em São José, por equipas reforçadas da PJ e PSP, para segurança do próprio Francesco Pelle e dos restantes funcionários e utentes do hospital. Em causa estava a divulgação "precoce", em Itália, da sua detenção, o que fez as polícias portuguesas temerem um ataque ao hospital: por um lado, os seus comparsas poderiam tentar libertá-lo; por outro, os inimigos procurariam eliminá-lo.
Francesco Pelle era um dos "30 mais procurados" em Itália. Esteve dois anos de fuga a uma pena de prisão perpétua por ter instigado massacres e homicídios numa guerra entre famílias. Pelle - paraplégico e numa cadeira de rodas desde 2005, após um atentado – é filho de ‘Micu ‘U Mata’, histórico mafioso da região.
A pena perpétua de Francesco Pelle, conhecido por ‘Ciccio Paquistanês’, foi confirmada pelo Supremo italiano em junho de 2019 e diz respeito a um massacre na noite de Natal de 2006. De acordo com os relatos em Itália, Pelle foi, em 2005, atingido a tiro na coluna quando segurava o filho recém-nascido. Ficou paraplégico. Jurou vingança e instigou o ataque de Natal ao rival Giovanni Nirta, matando a mulher deste e dando visibilidade à ‘Vendetta [vingança] de San Luca’ entre os dois clãs – que começou em 1991 com duas mortes numa festa de carnaval. Em maio de 1993, mais quatro mortes numa hora. A trégua de 2000 foi quebrada em 2005, com uma morte "de honra". Seguiu-se o tiro que paralisou Francesco.