A edição de hoje
Um aluno da Casa Pia de Lisboa de quatro anos morreu na segunda-feira, e outro rapaz de dez anos foi ontem internado no Hospital D. Estefânia, em estado considerado grave, devido a infecção por sepsis meningocócica. As autoridades de saúde estão em alerta e admitem a possibilidade de novos casos daquela doença grave e contagiosa poderem ser descobertas nas próximas horas.
A vítima é um dos oito filhos de uma família que reside em Santo António dos Cavaleiros, no concelho de Loures. Frequentava o infantário do Colégio D. Maria Pia como aluno externo e estava doente desde a semana passada. Na segunda-feira não resistiu à infecção generalizada no organismo.
Em declarações ao CM, Álvaro Carvalho, médico da Casa Pia, afirmou que “o segundo aluno [agora internado] é colega de turma da irmã da criança que morreu”.
À hora do fecho desta edição, o aluno reside no bairro lisboeta de Chelas, encontrava-se ainda internado.
Segundo Álvaro Carvalho, foram identificados todos – crianças e adultos – que tiveram contacto com as duas crianças e foram “tomadas todas as precauções recomendadas pela Direcção-Geral de Saúde”.
Essas medidas preventivas passam por administrar antibióticos a todas as pessoas que mantiveram contacto com os dois miúdos. Um total de 53 crianças e quatro adultos que tiveram contacto com a criança morta, receberam antibiótico específico.
“A criança faleceu, alegadamente – uma vez que ainda estamos a aguardar resultados das análises – devido a uma septicemia por meningócica, a bactéria responsável pela meningite mais comum (bacteriana)”, afirmou o médico da Casa Pia.
Acrescentou não ser possível apurar as causas da infecção e, sobre o aparecimento do segundo caso, referiu que não o pode relacionar com o da primeira criança. “Apenas se sabe que teve um contacto estreito através da irmã.”
QUATRO EM DEZ DIAS
O período de incubação da doença, que varia entre quatro a dez dias, leva a Direcção-Geral de Saúde a admitir a possibilidade de surgirem novos casos de meningite bacteriana. Mas nada garante que aconteçam.
O pior cenário foi admitido ao CM por Arlinda Frota, da Direcção-Geral de Saúde: “As crianças partilham o mesmo ambiente escolar, têm comportamentos infantis muitas vezes incontroláveis – beijam-se e têm um contacto fisicamente muito próximo – que pode propiciar o aparecimento de novos casos de infecção. É possível que surjam outros doentes.”
A mesma responsável afirmou “não existir um problema de saúde pública e a situação estar perfeitamente controlada”. Apesar disso, as autoridades estão em alerta”. A decisão de encerrar a instituição cabe à direcção da Casa Pia, que está em estreita colaboração com a delegação de saúde.
COLÉGIO FECHA DOIS DIAS
A Casa Pia de Lisboa decidiu encerrar por um período de 48 horas o Colégio D. Maria Pia, segundo um comunicado da instituição. A decisão do fecho do colégio foi tomada, segundo o conselho directivo, apesar de as “autoridades de saúde declararem não se estar perante uma situação clínica que imponha o encerramento do colégio”. No entanto, dado a dimensão daquela instituição, com um elevado número de educandos e trabalhadores, e ainda tendo em conta as “múltiplas relações de parentesco entre as crianças”, decidiu-se pelo fecho durante um período máximo de dois dias. Segundo o comunicado da Casa Pia de Lisboa, entidade tutelada pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, todos os alunos e adultos que contactaram no colégio com a criança doente vão receber antibióticos específicos distribuídos gratuitamente, serão vacinadas as crianças que ainda não o foram e apela-se aos encarregados de educação e trabalhadores para estarem atentos a sintomas da doença.
SETENÇA A 18 DE FEVEREIRO
Está marcada para 18 de Fevereiro a leitura da sentença do caso de abusos sexuais de um antigo monitor da Casa Pia sobre duas crianças surdas-mudas, um rapaz e uma rapariga. O julgamento de Arlindo Teotónio, acusado de 32 crimes, terminou na terça-feira, no Tribunal da Boa-Hora, com o Ministério Público a dar como provados todos os factos descritos na acusação. A procuradora limitou-se a pedir justiça, enquanto os advogados das vítimas defenderam a condenação do arguido.
Esta será a quarta sentença de um processo autónomo sobre abusos na Casa Pia a ser conhecida, depois das condenações de António Sanches, João Beselga, Luís Godinho e de oito arguidos no caso do Parque, entre os quais Pedro Inverno.
73casos de infecção por meningite meningocócica foram notificados pela Direcção-Geral da Saúde em 2006, número que tem vindo a diminuir em Portugal.
0-4 anos é a faixa etária mais afectada pela doença (44 casos em 2006). Segue-se a idade até aos 14 anos (12 casos, naquele ano). Os adultos também são afectados (17 pessoas, de todas as idades).
FONTE DE INFECÇÃO
O reservatório é a orofaringe humana (zona da garganta) dos doentes e portadores, sendo estes últimos a principal fonte de infecção.
CONTACTO
O contacto directo é o único meio de transmissão, dada a fragilidade da bactéria fora do organismo humano.
CONTÁGIO
A transmissão da bactéria deixa de existir 24 horas após o início da terapêutica eficaz (administração de antibióticos).
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