João Bernardino Gomes, rei do betão e da hotelaria, tem toques de James Bond – tal como o agente secreto, seduz pela conversa apelativa e adora conduzir o seu Aston Martin. A 29 de Janeiro está ao volante do potente automóvel num caminho que conhece de cor: a Marginal, de Cascais para Lisboa, estrada que percorre diariamente. Mas hoje é um dia especial, porque apenas duas horas antes nevou neste percurso, um fenómeno inédito em dezenas de anos.
Como tantos lisboetas, o milionário está impressionado por ver neve onde não é suposto que ela caia. Mas o encantamento tem um fim abrupto – um despiste fatal fá-lo embater de frente num jipe que segue em sentido contrário. O piso estava escorregadio e as autoridades tinham alertado para a perda de aderência dos veículos. Bernardino Gomes foi a única vítima mortal. Tinha 71 anos e uma saúde invejável.
APRECIADOR DO BELO
Recordado como um homem invulgar, capaz de construir um império a partir do nada, teria amanhã, se fosse vivo, mais uma alegria – a apresentação oficial de um ambicioso projecto hoteleiro: o Grande Real Villa Itália. Um edifício construído a partir da recuperação da residência de Humberto II, de Itália, segundo padrões estéticos definidos por Bernardino Gomes.
“A qualidade e o requinte marcavam as suas construções”, explica o seu sobrinho Celestino Morgado, administrador do grupo detido pelo empresário. Vários amigos sublinham que ele gostava de viver rodeado de coisas bonitas.
A história de Bernardino Gomes é a história de um rapaz que nasceu no seio de uma família pobre de Abrantes, com cinco filhos, em 1934. Aos 13, com a 4.ª classe, vem trabalhar para Lisboa como aprendiz de carpinteiro. O olho para o negócio faz com que rapidamente passe de carpinteiro a empresário da construção civil, erguendo os primeiros prédios em Algés. Doze anos depois de chegar a Lisboa casa com uma jovem da sua terra, Auzíria Gomes, então com 23 anos.
O casamento concretiza o namoro da juventude. Os primeiros anos da relação coincidem com a ascensão como empresário. Nos anos 60 a construção de prédios cresce a olhos vistos na periferia de Lisboa. E, dez anos mais tarde, o ‘boom’ do turismo faz nascer novas oportunidades no Algarve. Bernardino Gomes viu tudo antes dos outros. E ficou milionário.
VIÚVA RECEBE HERANÇA
Sem filhos, a viúva é hoje a sua herdeira. O grupo empresarial não será contudo dissolvido. Segundo o sobrinho Celestino Morgado, a vontade de sócios e familiares coincide – todos querem perpetuar a memória do empresário com a consolidação de um grupo já muito forte.
AO GOSTO DOS AMERICANOS
O Grande Real Villa Itália, a inaugurar este ano, conta com um investimento de 25 milhões de euros e irá criar junto da Boca do Inferno um cinco estrelas. A última grande aposta de João Bernardino Gomes recupera a antiga residência do rei Humberto II de Itália e da casa Pinto Basto, surgindo como um produto dirigido a turistas de Itália e Estados Unidos.
Pela história do edifício e pela apetência dos norte-americanos por antigos palácios e casas de reis, o interior decorado por Graça Viterbo reflecte “um sabor italiano com recurso a materiais nobres e estuques trabalhados”.
A opção por dotar este espaço de requinte reduziu o seu número para 120 quartos (em vez dos inicialmente previstos 140), acrescentando ainda um spa marinho que valoriza as águas frias do Atlântico. O empreendimento é um dos projectos de hotelaria para a Costa do Estoril (num total de 140 milhões de euros investido e 1200 camas). O secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade, visita-o hoje.
"Foi um homem que quando surgiu na indústria hoteleira trazia algo de novo e detinha um grande vigor para concretizar os seus objectivos", João Rocha, empresário.
"Tinha um grande interesse pela arte. Muitas vezes, quando num leilão ou num antiquário encontrava uma peça de que gostava, procurava junto de mim uma opinião", Graça Viterbo, decoradora.
"O rigor marcava a forma como trabalhava. Procurava obter o máximo de informação sobre como estavam a decorrer os trabalhos. Extremamente atento, fixava prazos mas, por vezes, ambicionava que as obras estivessem concluídas antes das datas fixadas", Idem.
"Guardo do meu tio a imagem de um homem conversador, bem-disposto mas impulsivo e que mantinha grande proximidade com os funcionários. Alguns deles acompanharam-no mais de 30 anos", Celestino Morgado, sobrinho.
"Era implacável a negociar. Discutia qualquer negócio até ao último tostão, mas aquilo que ficava assente pagar cumpria escrupulosamente", Idem.
"Com o 25 de Abril e a consequente crise económica não se conseguia vender os prédios. Foi um período muito difícil. O que mais o abalava era não ter dinheiro para pagar os salários. Por isso, recorreu a amigos e conseguiu honrar os compromissos", Idem.
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