Os quinze meses que já passou na cadeia não o vergaram. Luís Encarnação, o homem que ontem começou a ser julgado no Tribunal do Funchal por ter arrancado a filha de dois anos dos braços da mãe, continua determinado a não revelar o paradeiro da criança.
Vai para ano e meio que a Polícia Judiciária do Funchal procura Sofia. Em vão. A menina, hoje com três anos, foi levada pelo pai, em 22 de Fevereiro de 2004, não se sabe para onde. Ele não diz – e os inspectores da PJ não conseguem descobrir. Inês Andrade, a mãe de Sofia, vive desde então o pesadelo de não saber se a filha está viva ou morta.
Luís Oliveira Encarnação, pescador, de 32 anos, responde em tribunal pelos crimes de sequestro, subtracção de menor e coacção. Está preso preventivamente desde Março do ano passado.
Marido e mulher desentenderam-se, no início de 2004, quando viviam na cidade açoriana de Horta, onde ele trabalhava na pesca. Inês Andrade fugiu de casa: regressou com a filha, a pequena Sofia Catarina, à sua terra, Câmara de Lobos, na Madeira. Luís partiu atrás dela. Encontrou-a no centro da vila, na noite de 22 de Fevereiro do ano passado – e tirou-lhe a menina.
A polícia sabe que Luís apanhou um táxi em Câmara de Lobos e, mais tarde, seguiu com a filha no carro de familiares em Caniço de Baixo, no concelho de Santa Cruz, a dez quilómetros do Funchal. Luís regressou à cidade da Horta, nos Açores, mas as autoridades têm a certeza de que ele já não tinha a filha.
Luís foi detido nos Açores. Tentou o suicídio – e disse que morria sem revelar o paradeiro da filha. Após um breve internamento hospitalar, foi conduzido sob custódia para a Madeira e interrogado no Tribunal de Instrução Criminal do Funchal. Recusou falar. A juíza decretou-lhe a prisão preventiva – na esperança de que a cadeia o vergasse.
Mas o pescador não cede. Ontem, apresentou-se no tribunal de rabo de cavalo para a primeira audiência de julgamento. Não falou sobre o paradeiro da filha: “A menina está bem”, foi a única coisa que disse.
DESAVENÇAS NOS AÇORES
Luís Encarnação conheceu Inês Andrade num bar de Câmara de Lobos, onde ela trabalhava. Daí a pouco tempo, já viviam juntos – e só então Inês descobriu que ele era casado e tinha dois filhos. Foram morar para casa dos pais dele, em Câmara de Lobos, e pouco tempo depois mudaram-se para casa de familiares, em Caniço de Baixo, no concelho de Santa Cruz. Luís Oliveira Encarnação divorciou-se, finalmente, do primeiro casamento – e o casal voltou a mudar de casa: foi para casa da mãe dela, nos arredores de Câmara de Lobos. Luís, pescador, recebeu uma proposta de trabalho, na Horta, nos Açores. Garantiram-lhe trabalho num barco maior e davam-lhe casa para a família. Sofia Catarina já tinha nascido. Na cidade da Horta, o casal desentendeu-se. A casa, que o dono do barco lhe prometera mobilidada, não tinha condições. O único quarto, segundo Inês contou à família, nem sequer tinha cama – e eles tinham de dormir no chão. Ela pegou na menina e regressou à Madeira, para o aconchego da casa materna. Ele foi atrás e tirou-lhe a filha.
JÚRI
Luís é julgado por um tribunal de júri: três juízes (Celina Nóbrega, Jaime Pestana, Filipe Sousa) e quatro jurados, mulheres, sorteadas entre os eleitores da Comarca do Funchal.
PENA
O arguido é acusado dos crimes de sequestro, subtracção de menores e coacção. Arrisca uma condenação, se for considerado culpado, a uma dura pena de dez anos de cadeia.
ESCUTAS
Luís Encarnação nunca falou. A Polícia Judiciária do Funchal, no decurso das investigações para localizar a menina, colocou sob escuta telefonas de familiares do réu. Nem assim.
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