Pinho só se lembrou dos 1,2 milhões de euros do BES após acusação
Ministério Público defendeu a ida a julgamento de todos os arguidos: Manuel Pinho, a mulher, e Ricardo Salgado.
Débora Carvalho
29 de Março de 2023 às 01:30
O Ministério Público (MP) defendeu ontem que o antigo ministro da Economia Manuel Pinho só confessou os pagamentos do ‘saco azul’ do Grupo Espírito Santo (GES) - admitiu apenas a fraude fiscal - depois de ter sido acusado, em dezembro do ano passado. “Até então parecia ter-se esquecido”.
“Ricardo Salgado sabia que era vantajoso ter uma pessoa como Manuel Pinho a trabalhar dentro do Governo. Sabia que estava a pagar uma quantia ilegal a uma pessoa, que sendo ministro podia influenciar decisões favoráveis ao GES”, afirmou o procurador Carlos Casimiro, que defendeu a ida a julgamento de todos os arguidos no âmbito do caso ‘EDP’ (Manuel Pinho, a mulher, Alexandra, e Ricardo Salgado). Em causa estão crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
A acusação sustenta que Pinho terá sido corrompido por Salgado, quando entrou para o Governo de Sócrates. O antigo governante nunca explicou qual era a origem dos pagamentos do ‘saco azul’ do GES, no período entre 2005 e 2011. Em causa estão 1,2 milhões de euros: uma avença mensal de 15 mil euros e um pagamento de meio milhão, em maio de 2005, um mês depois de tomar posse como ministro.
Ontem, nas alegações finais, em sede de debate instrutório, o magistrado referiu que “foi tudo feito no escondidinho”. “O segredo é a alma do negócio. O dinheiro não saiu de um ato transparente.”
A instrução do caso ‘EDP’, presidida pela juíza Gabriela Assunção, começou e acabou ontem. Demorou menos de quatro horas. A diligência decorreu sob fortes críticas das defesas, que contestaram o facto de a magistrada ter recusado ouvir todas as testemunhas arroladas. A decisão da juíza é conhecida a 14 de abril, na véspera de se esgotar o prazo da medida de coação de Pinho sem que haja decisão instrutória. Está há mais de um ano em prisão domiciliária e assim deverá continuar se for pronunciado.
SAIBA MAIS
“não foi servo de salgado”
Ricardo Sá Fernandes, que defende Manuel Pinho, disse que a instrução serviu apenas para cumprir calendário. “Tribunal deu como bom e certo o prato que o Ministério Público lhe serviu”. “Manuel Pinho não é corrupto e dizer que foi um servo de Salgado é uma calúnia.”
Não é penduricalho
Magalhães e Silva, defensor de Alexandra Pinho, criticou o facto de a cliente ter sido posta como “penduricalho” num alegado acordo corruptivo.
PROCURADOR ADMITE PERÍCIA NO FUTURO
O MP admitiu ontem aceitar a perícia ao ex-banqueiro em julgamento. “Ricardo Salgado não tem condições cognitivas para se defender em tribunal”, disse o seu advogado.
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