José Braz, da Direcção Central de Investigação de Tráfico de Estupefacientes – que realizou a operação ‘Lezíria Branca’ –, disse ontem que os detidos são membros de “um fortíssimo grupo criminoso de elevada estatura no narcotráfico internacional”.
Os dois ‘operacionais’ colombianos, de 29 e 37 anos, naturais de Cali (cidade famosa pelo cartel de droga ali instalado), residiam em Espanha e controlavam o negócio de droga da organização na Península Ibérica. Foram apanhados num Mercedes topo de gama.
Os dois portugueses detidos, de 44 e 52 anos, são, segundo a PJ, “experientes empresários do Norte do País, donos de empresas de transportes internacionais”. “Tinham um papel de liderança na distribuição Ibérica de droga”, referiu José Braz. Ambos têm “antecendentes policiais” e um deles tem pendente um mandado de captura emitido por Espanha pelo tráfico de 200 quilos de ‘coca’, sendo qualificado pela PJ como um dos “responsáveis máximos na Europa de uma organização internacional de tráfico implantada em Espanha e com ramificações noutros países europeus”.
Os 4200 quilos de cocaína estavam num armazém alugado em 98 fardos de 20/30 quilos e 1500 embalagens de um quilo. Estas estavam prontas a serem colocadas no fundo falso de um camião. Toda a droga iria para Espanha em várias viagens, tendo sido Portugal apenas o ponto de entrada na Europa.
Além da cocaína, do Mercedes e do camião foram apreendidos dinheiro, documentação e outros elementos de prova. Os detidos foram presentes ao Tribunal Central de Investigação Criminal, em Lisboa, e colocados em prisão preventiva. A investigação, que durava há cerca de três meses, “foi complexa e difícil”, afiançou José Braz, e irá prosseguir em colaboração com as autoridades do país de origem e destino da droga.
VIGILÂNCIA DEFICIENTE FAZ DE PORTUGAL PORTA DE ENTRADA
A deficiente vigilância da costa portuguesa, por falta de meios humanos e técnicos, põe o País na rota da cocaína da América do Sul. Portugal tem vindo mesmo a ganhar protagonismo à Espanha (onde a Galiza é o local preferido) como porta de entrada de droga na União Europeia.
O País serve também de apoio às rotas internacionais. São vários os casos de iates oriundos da América do Sul, carregados de cocaína, que efectuam escalas na Madeira e Açores, antes de seguirem viagem para o Continente.
O arquipélago de Cabo Verde tem também vindo a ser cada vez mais utilizado pelos traficantes. José Braz, da PJ, referiu ontem que “não há uma invasão de droga”. O cada vez maior número de operações policiais bem sucedidas resulta antes da “actuação mais selectiva e eficaz” das autoridades.
SURPRESA EM ALMEIRIM
Os movimentos no armazém de droga na zona industrial de Almeirim decorreram na sombra até ao fim. Enquanto a distribuição de cocaína durou, nenhuma suspeita surgiu entre os trabalhadores e clientes das empresas ali situadas. E quando a PJ agiu, terça-feira, fê-lo com total discrição, ao ponto de até a GNR de Almeirim ignorar a operação. Ontem, a surpresa marcava as conversas.
“Fiquei de boca aberta”, dizia um dos trabalhadores, enquanto outro reconhecia que “nunca se soube de nada”. Conhecido o caso, muitos tentaram localizar o armazém, um edifício comum de fachada discreta perdido na actividade diária de dezenas de empresas.
Apenas um pormenor destoava. Uma placa a anunciar: ‘Aluga-se’. Por coincidência, na zona industrial há um espaço desactivado cujo proprietário é dono do avião que em Outubro ficou retido na Venezuela por transportar droga.
MINISTRO FELICITOU
O ministro da Justiça foi ontem à PJ felicitar os investigadores envolvidos na operação. Alberto Costa negou ainda ter criticado a PJ quando afirmou, quarta-feira, que a verdadeira eficácia da instituição se avalia pelo número de condenações em julgamento e não pelas notícias sobre os processos em investigação.
“É preciso que os criminosos sejam condenados”, referiu. Santos Cabral, director nacional da PJ, manifestou o seu “orgulho” e afirmou que, com esta operação, a PJ se colocou “ao nível das melhores polícias europeias e numa posição de charneira em termos de cooperação internacional”. Não deixou, no entanto, de destacar os poucos recursos humanos que tem no combate à droga.
Ver comentários