PJ vigia 700 membros de gangs juvenis
Pertencem a cerca de 30 grupos, apenas na Área Metropolitana de Lisboa.
Sérgio A. Vitorino
27 de Março de 2023 às 01:30
A Polícia Judiciária vigia, apenas na Área Metropolitana de Lisboa, cerca de 700 jovens, muitos deles menores, pertencentes a cerca de 30 gangs juvenis. É a atividade destes grupos, e as vinganças entre si, a par com os ajustes de contas ligados ao tráfico de droga, a responsável pelo acentuado aumento dos crimes de homicídio tentado. O ano passado, de acordo com dados da PJ disponibilizados ao CM, ocorreram 405 tentativas de homicídio, em todo o País, mais 63 (18,4%) do que em 2021. Já os inquéritos por homicídios consumados, também aumentaram para 106.
“Neste momento, e desde o último trimestre de 2022, os números estabilizaram e tem havido menos casos”, explica ao CM fonte da PJ. Os homicídios ocorrem maioritariamente à facada, mas as tentativas “são principalmente com arma de fogo”. “Registaram-se muitos tiros nas pernas. Os criminosos já têm destreza com a arma para, em stress, não atirar a zonas letais, e conhecimento da lei [o homicídio qualificado prevê 12 a 25 anos de cadeia mas o tentado é especialmente atenuado] para passarem o ‘aviso’ aos rivais sem matar”, afirma a mesma fonte. Esta é uma abordagem que ocorre principalmente em bairros como a Cova da Moura, na Amadora. Os autores “são na esmagadora maioria jovens entre os 16 e os 23 anos”.
Um desafio para as autoridades continua a ser “fazer ver a estes jovens que não existe impunidade”. E isso estará a ser conseguido, assegura a mesma fonte, devido às dezenas de detenções realizadas nos últimos meses (ver caixa).
PORMENORES
34/MÊS POR TENTATIVAS DE MATAR
Em 2022, a PJ recebeu nove inquéritos por mês de homicídios consumados. E 34 de homicídios tentados.
NÚMEROS ALARMARAM EM 2022
No primeiro semestre houve 55 inquéritos por homicídio consumado e 253 tentado. Desceu a partir de setembro.
CRIMES EM LOCAIS INESPERADOS
Os crimes em contexto grupal e juvenil ocorreram em locais inesperados, como estações de transportes, escolas, parques e centros comerciais.
28 MORTES NUM ANO
Em 2022 registaram-se 28 homicídios consumados em contexto de violência doméstica (24 mulheres e 4 crianças).
CRIME geral subiu 2,4 %
O ministro da Administração Interna avançou que há um aumento de 2,4% da criminalidade geral em 2022, face a 2019. Crime grave baixou 7%.
Operações das polícias levam a menos crime
A estabilização do número de crimes desde o último trimestre de 2022 “não pode ser dissociada” das operações da PJ, PSP e GNR que visaram muitos membros desses gangs. “Estão dezenas em preventiva, por exemplo do gang 300 da Cova da Moura. Os restantes, nesta altura, já ponderam se vale a pena vingarem-se dos rivais matando-os ou ferindo-os”, afirma a fonte da PJ. Este situação leva ainda à diminuição de crimes conexos, como o roubo armado: “Na Grande Lisboa, por exemplo, já tivemos duas semanas sem roubos à mão armada.”
Equipas Mistas com bons resultados
A análise realizada pelas polícias à atividade da criminalidade juvenil e grupal na Área Metropolitana de Lisboa passa, além de colaborações diárias e mais informais, por reuniões de duas Equipas Mistas de Prevenção Criminal, para combate ao fenómeno, que atuam “de forma profícua”, assegura a fonte da PJ, no âmbito do Sistema de Segurança Interna.
Não é por acaso que Lisboa e Setúbal são as regiões com maior número de homicídios consumados (e também de tentados). É aqui que se concentram os 30 gangs juvenis que são especialmente vigiados pelas polícias e também pelos serviços de informações.
‘MACHADADAS’
São várias as ferramentas de que a PJ se faz valer para vigiar os gangs juvenis, além do trabalho de prevenção criminal que é realizado por PSP e GNR. “Acima de tudo fazemos investigação criminal, para obter prova e retirá-los da rua. Paulatinamente dar ‘machadadas’ nos grupos, fazer-lhes mossa”, explica fonte da PJ.
Música é veículo
A música continua a ser um veículo dos gangs para transmitirem ameaças aos rivais. Por isso, as autoridades monitorizam o que se passa na Internet.
CÓDIGO
Os códigos de silêncio, mesmo entre elementos de gangs rivais, são uma das maiores dificuldades com que se deparam os investigadores. “Mesmo quando estão a sofrer no hospital, recusam-se a falar com a PJ”, assinala a fonte.
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