Em entrevista após instrução no caso Marquês, ao referir investigação a suspeitas de financiamento da Odebrecht na campanha de Passos Coelho, admite: "Soube pelo Correio da Manhã".
José Sócrates deu a primeira entrevista após conhecer a decisão instrutória do juiz Ivo Rosa na Operação Marquês e acabou por fazer uma referência ao Correio da Manhã para atacar adversários políticos, do PSD, em particular Pedro Passos Coelho.
Na entrevista que deu ao jornal luxemburguês Contacto, Sócrates volta a recorrer à tese da cabala do Ministério Público (MP) para o "tirar do espaço público e criminalizar todas as políticas do partido Socialista"
Numa pergunta sobre se a acusação do MP não provém da ideia de que os políticos (e a corrupção) nunca haviam sido devidamente investigados antes, Sócrates, que critica o Correio da Manhã durante a entrevista, acaba por evocar o CM para partir ao ataque ao ex-presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, sobre a notícia dada pelo CM e pela Sábado de que o MP investiga a campanha do ex-dirigente social-democrata por suspeitas de financiamento da construtora brasileira Odebrecht. Sócrates constituiu-se assistente neste processo, o processo EDP, relacionado com ao pagamento de alegados subornos ao ‘Príncipe’ (nome de código) entre 2008 e 2015, pedido que foi aceite precisamente pelo juiz Ivo Rosa
Na altura, as autoridades brasileiras enviaram documentação ao DCIAP, que foi anexada ao caso EDP, onde dizem ter "informações indiciárias" em "é possível que os pagamentos descritos com referência à obra do Baixo-Sabor [barragem] em Portugal, possam referir-se ao financiamento da campanha eleitoral do PSD para a eleição do cargo de primeiro-ministro, disputada em 2015, pelo ex-primeiro ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho". Em causa estariam pagamentos à empresa de André Gustavo, publicitário detido em 2017 no âmbito da Lava Jato que "totalizaram 868 mil euros e foram feitos no mesmo período e em valores muito semelhantes aos repasses em espécie feitos ‘por fora’" pela Odebrecht.
"Imagine que você tinha uma informação do Ministério Público brasileiro que lhe dizia que o Sócrates, em 2011, tinha tido um assessor de marketing brasileiro que foi pago pela construtora Odebrecht com 800 mil dólares. As autoridades brasileiras diziam que "desconfiamos que estes 800 mil dólares foram para pagar a campanha eleitoral de Sócrates". Se isso acontecesse, cairia o Carmo e a Trindade. Só que isso sucedeu, mas com uma pequena diferença, o político que os brasileiros perguntaram era Passos Coelho", diz José Sócrates em referência ao caso.
"Interrogaram o doutor Passos Coelho? Se fosse comigo, tinham-me prendido. Eu acho que o meu caso tem motivações políticas de ataque ao PS e defesa do PSD", diz o antigo primeiro-ministro em claro ataque aos sociais-democratas.
Sobre como soube do caso, José Sócrates acaba por admitir: "Pelo Correio da Manhã, os jornalistas fizeram-se assistentes do processo Marquês, foram lê-lo e encontraram isso".
Sócrates não leu despacho de pronuncia do Juiz Ivo Rosa
José Sócrates é questionado sobre se leu o despacho da decisão instrutória do juiz Ivo Rosa, na qual este deixou cair 25 dos 31 crimes que lhe eram imputados pelo Ministério Público.
"Não li. O meu advogado está a ler. Mas bastou-me a síntese do juiz para perceber as três dimensões desta sentença. A primeira das quais é a dimensão de escândalo. Decreta como nula a distribuição do processo ao juiz Carlos Alexandre", começa por dizer o antigo primeiro-ministro socialista, atacando também o Conselho Superior da Magistratura, que, segundo Sócrates, mentiu ao "dizer que a distribuição do processo não tinha sido eletrónica porque o sistema ‘estava em baixo’", referindo-se à entrega do processo ao superjuiz Carlos Alexandre. Recorde-se que o sorteio eletrónico que atribuiu a intrução do caso Marquês ao juiz Ivo Rosa também registou três erros
"O processo iniciou-se com uma fraude e que eu fui preso com base nesta fraude. A fraude foi feita para me prenderem", queixa-se José Sócrates.
Juiz Ivo Rosa não escapa a ‘ataque’
O antigo primeiro-ministro também aponta críticas à decisão de Ivo Rosa, da qual admite recorrer. "Estou a pensar nisso", disse. Sócrates nega ainda que os três crimes de branqueamento de capitais que lhe foram imputados por Ivo Rosa (para além de outros três de falsificação de documentos) sejam os que constam da acusação do MP.
Admite que a explicação de ter recebido empréstimo de Carlos Santos Silva "não convence" Ivo Rosa que "acha que quer eu [Sócrates], quer o Ministério Público, devíamos discutir isso em tribunal".
Diz que se viu obrigado a fazer prova negativa de que não era dono da fortuna "algo que é muito difícil". "Como é que você prova que afinal não é o dono de todos os milhões do Bill Gates?", ironiza.
Sobre as entregas de dinheiro, segundo a acusação do MP, do amigo Santos Silva, argumenta que "se isso fosse assim (…) durante dez anos teria tido um cartão de crédito para ter acesso ao dinheiro, uma coisa razoável e fácil de fazer". Questionado sobre o facto do cartão deixar provas e uma ligação, nega responder à pergunta que considera "perversa".
Atira que todos os argumentos que diria ao MP seriam considerados "para disfarçar" e afirma que nas escutas feitas antes da resolução do BES (onde estaria o dinheiro de Carlos Santos Silva) não "se encontra qualquer preocupação pessoal com o que vai acontecer a esse banco"
"Se o dinheiro do Carlos Santos Silva que estava depositado no BES fosse meu, outras seriam as conversas", conclui.
Sócrates considera que, nos três ‘novos’ crimes que o juiz Ivo Rosa lhe imputou na instrução (três de branqueamento de capitas, que Sócrates diz não constarem na acusação do MP: "são outros"), "não teve hipótese de se defender".
"O que está na acusação é que o Carlos Santos Silva é meu testa-de-ferro. Eu passei sete anos a defender-me dessa acusação. Não me defendi da acusação que o Carlos Santos Silve me corrompeu." E refere que se defendeu da corrupção por parte do Grupo Lena, Vale do Lobo e BES.
José Sócrates considera que Ivo Rosa "errou aí", ao ser pronunciado por crimes que, diz o arguido, não se pode defender nas fases anteriores.
Sócrates justifica entregas de Santos Silva em dinheiro para evitar "más interpretações"
José Sócrates, durante a entrevista recorda a fase de inquérito e justifica que o dinheiro, entregue em numerário e em envelopes, segundo o MP, vindo de Carlos Santos Silva, surgiu pelo facto de ter decidido ficar em Paris para o filho acabasse o secundário e para ele fazer o doutoramento, mas "a necessidade de ter uma casa alugada em Paris e outra em Lisboa" saía "muito caro"e não era colmatada pela venda da casa da mãe.
Sócrates diz que ponderou hipotecar a casa e que Santos Silva se ofereceu para lhe emprestar dinheiro (segundo o MP há três tranches que somam 1,7 milhões de euros). Sobre o porquê dos valores lhe serem entregues em dinheiro diz que ele e Santos Silva temiam "más interpretações".
Questionado do porquê de não ter optado por declarar o empréstimo, foge á pergunta e diz "metam-se na vossa da vida que eu cuido da minha". "A minha relação com ele nada tem a ver com o Estado", defende, sublinhando: "Não tenho nada que me pese na consciência".
Sócrates diz que não se vai "esconder"
Já no final da entrevista, e perante o silêncio do PS relativo ao caso, questionado sobre se o estão a "varrer para debaixo da carpete", Sócrates garante que não se vai "esconder" e recusa que o antigo partido o ‘apague’. "Isso não vai acontecer", garante o antigo primeiro-ministro socialista referindo, no entanto, "uma profunda divergência com o PS".
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