Associações judaicas em Portugal exigem da UE sanções e fim de acordo de associação com Israel
Segundo as duas organizações, a Alemanha "deve exercer todo o seu poder para travar o genocídio".
Cerca de uma centena de cidadãos israelitas, portugueses, palestinianos e alemães manifestaram-se esta quinta-feira em Lisboa e exigiram à UE o fim do acordo de associação comercial com Israel, bem como a imposição de sanções.
Em declarações à agência Lusa, Hagar Yulzari, membro da organização "Israelitas Pela Pressão Internacional", frisou que a ação de protesto, defronte da embaixada da Alemanha, em Lisboa, visa chamar a atenção para a necessidade de a guerra entre Israel e os palestinianos terminar, devendo recorrer-se a "um acordo político".
"A Alemanha e os países da União Europeia têm de impor sanções contra Israel. E têm de fazer o que está nos valores morais da Europa. A União Europeia tem de impor sanções e de suspender o acordo de associação com Israel, independentemente do que [o Presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump faz ou diz", acrescentou Yulzari.
"Já vimos que os Estados Unidos e Trump não vão apoiar tentativas [para se alcançar um cessar-fogo], pois têm interesse na continuação da guerra", sustentou a ativista israelita, cuja organização promoveu a ação de protesto conjuntamente com outro movimento, o "Judeus Pela Paz e Justiça".
Para Yulzari, o ataque perpetrado terça-feira por Israel no Qatar, quando tentou alvejar a delegação do movimento islamita palestiniano Hamas às negociações para um cessar-fogo, é "mais um" a que se assiste nos últimos dois anos, afirmando que não pode dar como certo que a ofensiva israelita em Doha ponha fim às conversações.
"É uma tática que temos observado nos últimos dois anos e sempre que algum acordo ou iniciativa política parece próximo de ser concretizada, Israel faz um ataque maciço. Estes ataques têm a intenção de desviar a atenção do facto que nada deve mudar", argumentou a ativista israelita.
Questionada pela Lusa sobre se é viável a intenção manifestada pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de "eliminar o Hamas", Yulzari respondeu que "será difícil", pois esse objetivo não pode ser concretizado com ataques, uma vez que haverá sempre uma outra organização que apoiará o movimento de resistência islâmico palestiniano.
Nesse sentido, a ativista israelita insistiu na solução política para o fim do conflito.
Sobre a ação de protesto ser realizada em frente à emissão diplomática alemã em Lisboa, Yulzari defendeu que a Alemanha está na primeira linha dos países europeus, pelo que "tem de assumir a sua responsabilidade histórica contra genocídios e contra os crimes contra a humanidade", remetendo mais comentários para o comunicado em que foram apresentadas as razões para a convocação da manifestação.
"Palavras não bastam. A Alemanha deve aplicar sanções duras para travar o genocídio. A Alemanha tem trocas comerciais de 8.000 milhões de euros com Israel e é o segundo maior fornecedor de armas ao país [ficando apenas atrás dos EUA], o que a torna o segundo país mais influente sobre as políticas israelitas", lê-se no manifesto.
"Historicamente, a Alemanha tem manifestado um apoio inabalável a Israel, uma posição moldada pelo passado partilhado entre as duas nações. Contudo, perante a constatação de que está a ser perpetrado um genocídio contra o povo palestiniano, é imperativo abandonar essa posição. A Alemanha condenou as baixas civis palestinianas e introduziu recentemente um embargo parcial a armas destinadas a Gaza. Medidas meramente declarativas são insuficientes", acrescenta-se no documento.
Segundo as duas organizações, a Alemanha "deve exercer todo o seu poder para travar o genocídio".
"Deve retirar o veto à proposta de suspensão do acordo de associação. Não deve apenas rejeitar a venda de armas que possam ser usadas em Gaza, mas suspender todo o comércio de armamento com Israel até que, e a menos que, os bombardeamentos cessem, a ajuda humanitária entre efetivamente e as organizações de saúde e humanitárias possam regressar à Faixa de Gaza. O genocídio tem de acabar", concluiu.
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