Estudo revela que algas marinhas do Norte são arma para mitigar alterações climáticas

Cientistas defendem que a inclusão destas florestas de algas nas políticas de conservação marinha e de carbono azul seja uma prioridade.

11 de setembro de 2025 às 14:49
algas, marinhas Foto: Getty Images
Partilhar

Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) e do Centro de Ciências Marinhas e Ambientais (MARE) identificaram as florestas de algas marinhas da costa Norte como "ferramenta natural para mitigar os efeitos das mudanças climáticas".

"O estudo recomenda ainda políticas específicas para a monitorização, conservação e eventual restauro dessas áreas, reforçando sua importância não apenas como sumidouros de carbono, mas também como habitats vitais para a saúde dos oceanos", revelou hoje o CIIMAR, da Universidade do Porto, em comunicado.

Pub

De acordo com o centro de investigação da Universidade do Porto, face à crise climática, os cientistas defendem que a inclusão destas florestas de algas "nas políticas de conservação marinha e de carbono azul seja uma prioridade, tanto a nível nacional quanto global", indicou o CIIMAR.

O trabalho, publicado em agosto na revista Scientific Reports, focou-se no estudo das florestas marinhas da costa norte de Portugal (algas kelp), em especial nas espécies 'Laminaria hyperborea' e 'Saccorhiza polyschides', as duas espécies predominantes nesta zona do país.

A investigação, liderada pelo investigador Francisco Arenas do CIIMAR e João Franco do MARE, com contributo de uma equipa de investigadores de ambos os centros, foi financiada pelo programa BlueGrowth das EAA Grants, e teve como objetivo quantificar pela primeira vez o stock de carbono armazenado por estes habitats no norte de Portugal.

Pub

"Com a Lei de Restauro da Natureza da União Europeia em fase inicial de implementação, torna-se premente desenvolver e implementar técnicas de restauro ecológico eficazes, particularmente em habitats que apresentam elevada vulnerabilidade, mas também alto potencial de provisão de serviços do ecossistema como é o caso das florestas marinhas", defendeu Francisco Arenas, investigador do CIIMAR, citado na nota de imprensa.

As florestas de kelp são habitats formados por grandes algas castanhas "que desempenham um papel crucial na manutenção da biodiversidade e na produtividade marinha local", descreve a instituição.

Os cientistas alertam que estes habitats "são altamente vulneráveis às alterações climáticas", tendo já sido detetado "um processo de tropicalização nas águas portuguesas que coloca em risco a biodiversidade associada, e os serviços ecológicos que estas florestas fornecem".

Pub

Entre eles está "a capacidade para capturar e armazenar carbono, o chamado Carbono Azul, contribuindo para a mitigação das alterações climáticas", referiu o investigador.

Os resultados agora publicados "mostram que estas florestas armazenam cerca de 16,48 gigagramas (Gg) de carbono numa área de 5.100 hectares, equivalente a mais de 5.000 campos de futebol".

"Apesar de cobrirem uma área relativamente pequena face à dimensão do planeta, estas florestas de kelp demonstram uma eficiência de captura de carbono por metro quadrado comparável ou superior a habitats mais extensos", assinalam.

Pub

Este valor "corresponde a 14% do carbono azul até agora inventariado para Portugal, cujas estimativas anteriores se restringiam a sapais e pradarias marinhas", afirmam.

"Estima-se que estes habitats consigam sequestrar e exportar cerca de um terço do carbono capturado anualmente por todos os habitats vegetais marinhos do país", destacam.

"Esta taxa excecional de sequestro de carbono evidencia o papel essencial, e até agora largamente subvalorizado, das florestas de kelp na mitigação das alterações climáticas", observa o CIIMAR.

Pub

Segundo Francisco Arenas, estas florestas marinhas são "frequentemente desconhecidas e subvalorizadas, apesar de possuírem um valor ecológico e económico de extrema importância na costa norte de Portugal".

Estes habitats "são fundamentais quer pela sua capacidade de mitigar alterações climáticas, mas também enquanto promotores da biodiversidade local, fornecendo abrigo, alimento e áreas de reprodução para inúmeras espécies marinhas".

Pub

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

Partilhar