Expedição científica a montanha submarina entra na semana final de trabalhos

Considerados 'oásis oceânicos', onde já estão identificadas mais de 800 espécies, os picos do banco de Gorringe atraem também grande variedade de fauna pelágica.

23 de setembro de 2024 às 09:38
banco gorringe, fundo do mar Foto: Direitos Reservados
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A expedição científica que desde 07 de setembro está a fazer um levantamento da biodiversidade de dois dos picos da maior montanha submarina de Portugal, o banco de Gorringe, entra esta segunda-feira na semana final de trabalhos.

A expedição reúne uma equipa internacional de cerca de 30 cientistas - a maioria a trabalhar a bordo de uma "armada" de três navios que tem o antigo bacalhoeiro Santa Maria Manuela como navio-almirante - e está a recolher dados sobre a saúde e a biodiversidade do habitat oceânico criado pelos picos Gettysburg e Ormonde do banco de Gorringe.

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Estes dados resultarão num relatório científico, com publicação prevista para o primeiro trimestre de 2025, para sustentar a gestão daquela área, que desde 2015 já é área marinha protegida da Rede Natura 2000 mas exige proteção mais robusta.

O trabalho em curso, a partir do Santa Maria Manuela e dos catamarãs privados 'Feel Good' e 'Oceanus II', inclui filmagens e registos fotográficos, mergulhos a profundidades variáveis para recolha de amostras, a utilização de 'drones', um sistema submarino de câmaras de vídeo para capturar imagens de animais no habitat natural sem a presença humana e um veículo subaquático controlado remotamente para observação de zonas mais profundas.

Os montes submarinos Gettysburg e Ormonde - apesar de submersos, ao elevarem-se desde profundidades de cerca de 5.000 metros são mais altos que as montanhas do Pico (Açores) e Serra da Estrela juntas e são as montanhas mais altas da Europa ocidental - são ecossistemas de elevada biodiversidade, com habitats que vão desde florestas de algas perto da superfície até recifes de coral de água fria a grandes profundidades.

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Considerados 'oásis oceânicos', onde já estão identificadas mais de 800 espécies, para além da flora e fauna bentónica (associada ao fundo) os picos do banco de Gorringe atraem também grande variedade de fauna pelágica (que vive em água aberta), incluindo mamíferos marinhos, como golfinhos e baleias, tartarugas e aves marinhas.

A campanha científica - promovida pela Fundação Oceano Azul, Oceanário de Lisboa, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e Marinha Portuguesa - é um esforço para impulsionar o caminho de Portugal no cumprimento da estratégia europeia de conseguir que até 2030 pelo menos 30% do oceano seja protegido, com pelo menos 10% com proteção estrita.

Emanuel Gonçalves, coordenador da expedição e administrador da Fundação Oceano Azul, disse na altura da partida dos cientistas para o banco de Gorringe, que está a ser feita "uma radiografia do estado de saúde do oceano" numa zona de grande riqueza biológica e que "muitos não sabem que Portugal tem esse enorme valor nas suas águas".

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Considerado um local de elevado interesse, mas ainda pouco explorado apesar de campanhas científicas anteriores, o banco de Gorringe é, defende Emanuel Gonçalves, um "desencadeador muito importante para acelerar em Portugal medidas de proteção e gestão eficaz de áreas marinhas".

A expedição tem o envolvimento institucional do Governo Português, Fundo Ambiental, Autoridade Marítima Nacional, Oceana, National Geographic Pristine Seas e Waitt Institute.

A equipa científica envolve o Instituto Hidrográfico, IPMA, e os centros de investigação CCMAR -- Universidade do Algarve, CESAM -- Universidade de Aveiro, CIBIO e CIIMAR -- Universidade do Porto, MARE -- IPLeiria, Okeanos -- Universidade dos Açores, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Associação para a Investigação dos Mamíferos Marinhos (AIMM), Aquário Vasco da Gama, Moss Landing Marine Laboratories da universidade de San Jose (Estados Unidos), Marine Futures Lab da universidade de Western Australia e o Laboratory of Applied Bioacoustics da Universidade Politécnica da Catalunha.

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A cerca de 130 milhas náuticas (cerca de 240 quilómetros) a sudoeste do cabo de S. Vicente, no Algarve, o banco de Gorringe foi originalmente cartografado em 1875 por Henry Gorringe, comandante do navio da marinha dos Estados Unidos USS Gettysburg e é uma cordilheira submarina com cerca de 180 quilómetros de comprimento e 60 quilómetros de largura que se ergue desde uma profundidade de 5.000 metros até um planalto de profundidade entre os 200 e os 300 metros e com os dois picos principais a erguerem-se até aos 60 metros e aos 25 metros da superfície.

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