Generalidade da hierarquia católica portuguesa favorável à posição do Papa sobre abusos
Coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja alertou que "há que olhar para a exegese" dos números do documento.
O coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja disse esta segunda-feira que, na generalidade, a hierarquia católica portuguesa "é favorável" à posição do Papa na condenação dos abusos.
"Com algumas divergências, e nalguns casos, a opinião dos bispos e dos superiores gerais, que foram entrevistados individualmente, é manifestamente favorável ao transmitido pelo Papa" Francisco, que considerou, em 2019, na Carta Apostólica "Vos estis lux mundi", que "os crimes de abuso sexual a crianças são crimes que ofendem a Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e afastam-nas da comunidade", afirmou Pedro Strecht.
Ao intervir na sessão de apresentação do relatório desta Comissão Independente sobre os casos de abuso na Igreja Católica desde 1950, o pedopsiquiatra Pedro Strecht alertou que "há que olhar para a exegese" dos números do documento, 512 casos validados em 564 testemunhos recebidos, apontando a extrapolação de um número mínimo de vítimas da ordem das 4815 e "importa referir que, na realidade, foi apenas a partir de 1995 que estes crimes passaram a ser inscritos no Código Penal português enquanto abuso sexual de crianças, e apenas a partir de 2007 se tornaram públicos".
"Sabemos, também, que a percentagem da sua existência enquanto praticada por membros da Igreja é muito pequena, sobre a realidade do assunto dos abusos sexuais de menores em geral", acrescentou Pedro Strecht, acrescentando que é também "baixo o número de abusadores dentro do seio da Igreja e, por isso mesmo, continua a ser importante não confundir a parte com o todo".
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica começou a receber testemunhos em 11 de janeiro do ano passado.
Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se vê agora envolvida também em controvérsia, com a organização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.
Esta segunda-feira será conhecida a primeira reação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), presidida pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e para 03 de março foi já convocada uma assembleia plenária extraordinária da CEP para analisar o relatório.
Liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, a comissão independente é ainda constituída pelo psiquiatra Daniel Sampaio, pelo antigo ministro da Justiça e juiz conselheiro jubilado Álvaro Laborinho Lúcio, pela socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, pela assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e pela cineasta Catarina Vasconcelos.
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