Leão XIV defende agências de notícias como "antídoto" contra "informação lixo"
Para o Papa, os media "não podem nem devem" separar o seu trabalho da divulgação da verdade".
O Papa Leão XIV defendeu esta quinta-feira que as agências noticiosas devem funcionar como "antídoto" contra a proliferação da "informação lixo", desafiando à criação de "uma barreira" contra quem usa a mentira para dividir as sociedades.
"O vosso trabalho requer competência, coragem e sentido de ética. Isto é inestimável e deve ser um antídoto contra a proliferação de 'informação lixo'", disse Leão XIV.
O líder da Igreja Católica falava esta quinta-feira, no Vaticano, durante uma audiência com cerca de 150 executivos e diretores de agências de notícias de todo o mundo, incluindo uma delegação da agência Lusa, liderada pelo presidente do Conselho de Administração, Joaquim Carreira.
"Com o vosso trabalho, podem agir como uma barreira contra aqueles que, através da antiga arte de mentir, procuram criar divisões para reinar. Podem também ser um baluarte de civilidade contra as areias movediças da pós-verdade", acrescentou.
Leão XIV apontou o paradoxo de na era da comunicação as agências de notícias estarem a ultrapassar um período de crise, sustentando que a comunicação deve libertar-se da "orientação errada que está a corrompê-la" e que pode ir da concorrência desleal à "prática degradante" do clickbait.
"As agências noticiosas estão na linha da frente e são chamadas a agir num ambiente de comunicação de acordo com princípios - nem sempre partilhados por outros - que compatibilizem sustentabilidade económica com a proteção do direito a informação rigorosa e equilibrada", disse.
Para o Papa, os media "não podem nem devem" separar o seu trabalho da divulgação da verdade", fomentando a transparência das fontes, responsabilidade, qualidade e objetividade, elementos que considerou "a chave para restaurar o papel dos cidadãos como protagonistas do sistema" e para os convencer a exigirem "informação digna desse nome".
A audiência privada com o Papa marcou o arranque da 39.ª Conferência Internacional Minds (Media Innovation Network), um consórcio integrado por 26 agências de notícias da Europa, América, Ásia e Oceânia, incluindo a agência Lusa, cujo objetivo é a troca de conhecimentos e experiências sobre produtos informativos, avanços tecnológicos e iniciativas comerciais.
A agência italiana ANSA, que celebra o 80.º aniversário, é a anfitriã da conferência que junta durante dois dias, na capital italiana, diretores e executivos das principais agências noticiosas.
Numa altura em que a Inteligência Artificial "está a mudar a forma como recebemos informação e comunicamos", o líder da Igreja Católica considerou fundamental saber quem controla esta informação e com que objetivos.
"Temos de estar vigilantes para garantir que a tecnologia não substitui os seres humanos e que a informação e os algoritmos que hoje a governam não estejam apenas nas mãos de alguns", alertou.
Durante a audiência, Leão XIV recordou ainda os jornalistas que "todos os dias" arriscam a vida para informar sobre o que está a acontecer, bem como dos muitos que morreram no exercício da profissão.
"São vítimas da guerra e da ideologia da guerra, que procura evitar que os jornalistas estejam lá. Não os podemos esquecer. Se hoje sabemos o que está a acontecer em Gaza, Ucrânia e em outros países ensanguentados por bombas, a eles o devemos", lembrou.
A Conferência da Minds abordará temas como o desafio que representa a inteligência artificial nos meios de comunicação, os desafios da cibersegurança para as agências de notícias, as tendências atuais de produção e consumo de informação ou a sobrevivência do setor na era da pós-verdade.
Desde a sua criação em 2007, a rede internacional Minds tem vindo a incorporar novos participantes e integra as principais agências que fazem parte da Aliança Europeia de Agências de Notícias (EANA), como a espanhola EFE, a norte-americana Associated Press, a japonesa Kyodo, a turca AA, ou a australiana AAP.
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