Leão XIV homenageia centenas de cristãos mortos no século XXI
Papa lamentou ainda o crescimento do número de vítimas em muitas partes do mundo.
O Papa Leão XIV homenageou este domingo centenas de cristãos que foram mortos no século XXI, elogiando a coragem e lamentando o crescimento do número de vítimas em muitas partes do mundo.
O Vaticano tem documentado a morte de cristãos, não como parte de processos de canonização, mas para recolher e recordar as suas histórias.
Entre as vítimas, contam-se casos de cristãos mortos por militantes islâmicos, grupos mafiosos ou agricultores da Amazónia, envolvidos na defesa da floresta tropical e dos pobres.
Leão XIV presidiu a uma oração para os homenagear, convidando patriarcas ortodoxos e ministros de mais de 30 confissões cristãs, no âmbito do esforço do Vaticano para destacar o que chama de "ecumenismo de sangue", conceito de unidade lançado pelo falecido papa Francisco, tendo em conta cristãos perseguidos e mortos pela sua fé, independentemente da sua confissão.
"Muitos irmãos e irmãs ainda hoje carregam a mesma cruz de Jesus pelo seu testemunho de fé em situações difíceis e contextos hostis", disse Leão XIV. "Como ele, são perseguidos, condenados e mortos."
A cerimónia realizou-se na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, 25 anos depois de João Paulo II ter presidido ao Jubileu dos Novos Mártires, no Coliseu.
Leão XIV citou alguns exemplos de martírio, ocorridos desde então, como o da irmã Dorothy Stang, freira norte-americana que passou três décadas a tentar preservar a floresta da Amazónia e a defender os direitos dos colonos pobres, assassinada a tiro em 2005, à ordem de grandes latifundiários.
"Quando aqueles que estavam prestes a matá-la pediram uma arma, ela mostrou a Bíblia e respondeu: 'Esta é a minha única arma'", lembrou o Papa.
Uma comissão de estudo do Vaticano, criada em 2023, documentou mais de 1.500 casos de mártires desde 2000, incluindo os 21 trabalhadores coptas ortodoxos decapitados por militantes islâmicos na Líbia, em 2015, e cristãos mortos por organizações criminosas.
O vice-presidente da comissão, o historiador Andrea Riccardi, disse, num encontro público, na semana passada, que a lista completa de nomes não seria divulgada de imediato, por questões de segurança em algumas partes do mundo.
Os números conhecidos desta lista de mártires inclui 643 mortos na África Subsariana, a maioria em ataques de militantes islâmicos; 357 na Ásia e na Oceânia, incluindo as vítimas dos ataques bombistas suicidas do Domingo de Páscoa de 2019 contra três igrejas em Colombo, no Sri Lanka; 304 no continente americano, incluindo missionários e ativistas assassinados por defenderem a Amazónia; 277 no Médio Oriente e no Norte de África, a maioria cristãos de confissões não católicas; e 43 na Europa, sem esquecer que estão documentadas 110 mortes de cidadãos europeus, noutros continentes, a maioria missionários.
Embora a comissão de estudo faça parte do gabinete de canonização do Vaticano, Riccardi, que foi ministro da Cooperação Internacional do Governo italiano de Mario Monti (2011-2013), sublinhou que o trabalho está completamente separado do processo de beatificação.
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