Líder da CIPLP acredita que má perceção da religião islâmica na própria comunidade transforma-se em radicalismo

Para Mussa Suefe é importante frisar que a religião muçulmana se pauta pela "educação e formação".

19 de setembro de 2025 às 15:03
Muçulmanos celebram fim do Ramadão Foto: Filipe Amorim/Lusa
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O presidente da Comunidade Islâmica dos Países de Língua Portuguesa (CIPLP), Mussa Suefe, declarou à Lusa que existe uma má perceção da religião na própria comunidade, o que provoca o radicalismo que se sente, nomeadamente no norte de Moçambique.

"Nós já admitimos e assumimos que nem todos os muçulmanos percebem de forma íntegra a sua religião islâmica. Daí que a primeira coisa que nós temos como desafio de combate é a questão do radicalismo, em que a pessoa deve perceber melhor a sua religião islâmica para cumprir e também fazer entender aos outros", contextualizou à Lusa Mussa Suefe, à margem da 3.ª Conferência Internacional Islâmica dos Países de Língua Portuguesa, na Mesquita Central de Lisboa.

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Um segundo desafio citado pelo presidente desta comunidade é a perceção de que "os males que afetam o mundo são imputados ou associados aos muçulmanos, o que tem de ser refutado com ensinamentos e lições muito bem claras que estão transmitidas no Alcorão [livro sagrado da religião islâmica] e nos ditos do profeta Maomé".

"As pessoas que talvez tentam associar a religião islâmica com esses males, elas podem ter razão, por causa do radicalismo de que falámos, onde os crentes percebem mal os ensinamentos do Alcorão", lamentou.

Para o líder da CIPLP, é importante frisar que a religião muçulmana se pauta pela "educação e formação", o que, explicou, está no primeiro versículo revelado no livro sagrado: um incentivo à leitura e à aprendizagem.

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Suefe ressalvou que os desafios da paz têm sido imensos e têm sido colocados em causa em países como Moçambique, onde o terrorismo tem permitido a associação desse "mal aos muçulmanos", que passam a ser categorizados dessa forma: de terroristas.

No entanto, deixou a nota de que Moçambique, enquanto país, nunca atribuiu esse mal do terrorismo aos muçulmanos.

"O nosso país nunca assumiu, nunca falou isso, que este mal perpetuado em Moçambique é dos muçulmanos, porque sabe-se muito bem que a religião islâmica é pela paz", reiterou.

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O presidente da CIPLP frisou ainda que o islamismo "nunca se pautou pela guerra, mas sim pela paz" e que "não há fundamento nenhum em optar-se pela guerra e criar-se terror".

Organizada pela CIPLP e sob o lema "Voz da Comunidade: Promovendo Diálogo Intercultural e a Cooperação entre os Países de Língua Portuguesa", a conferência, sob tutela da Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL), decorre entre hoje e sábado no Salão Nobre Al Muhaidib da Mesquita Central de Lisboa, explicou Suefe durante a sessão de abertura.

O evento pretende ser um espaço de reflexão, diálogo e cooperação, reforçando os laços entre as comunidades muçulmanas e as sociedades de língua portuguesa, de acordo com o comunicado de imprensa da organização.

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Durante os dias da conferência serão eleitos conselheiros permanentes para a CIPLP e, numa reunião da direção, será discutido o plano de atividades para 2025-2026, assim como o respetivo orçamento, declarou Suefe.

No evento desta manhã, que reuniu dezenas de crentes, estiveram presentes o Imã da Mesquita Central de Lisboa, Sheikh Munir, o presidente da CIPLP, Mussa Suefe, o vice-presidente da CIPLP, Abdul Razac Seco, a madrinha da cerimónia, Fátima Camara, o presidente da CIL, Mahomed Iqbal, a embaixadora para a Palestina em Portugal, Rawan Sulaiman, o presidente da junta de freguesia de Campolide, Miguel Belo Marques, assim como os representantes desta comunidade em São Tomé e Príncipe, Wilton Neves, Brasil, Fahdi Saifi, Timor-Leste, Abdula bin Said Sagran, e Cabo Verde, José Oliveira Yussuf.

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