Manifesto contra ideologia de género e cultura de morte apresentado por Passos Coelho gera polémica
Conservadores de várias áreas assinam textos polémicos sobre defesa da família tradicional e críticas ao aborto, eutanásia, casamento e adoção por casais do mesmo sexo.
O livro ‘Identidade e Família’ foi lançado há cerca de um mês, mas só esta segunda-feira, na apresentação pública, a cargo de Pedro Passos Coelho, saltou para a ribalta devido ao seu conteúdo.
Ao longo de 207 páginas, 22 nomes de várias áreas – em comum as posições conservadoras –, entre eles o economista João César das Neves, o padre Gonçalo Portocarrero de Almada, o antigo presidente do CDS José Ribeiro e Castro e o jurista Paulo Otero, tecem considerações contra o que consideram ser a "destruição da família tradicional" e a "imposição da ideologia de género". Condenam a eutanásia, o aborto, o casamento e adoção por casais do mesmo sexo, a legislação que "facilita o divórcio" e os "‘influencers’ digitais que fomentam a desorientação das pessoas".
Na introdução, assinada por Bagão Félix, Paulo Otero, Pedro Afonso e Victor Gil, explica-se que o livro surge no contexto da missão Movimento Ação Ética. Os autores afirmam lutar pelo bem e dizem que o "mal sequestrou a sociedade". Apresentam a família como a única sociedade humana "natural, universal e intemporal" e apontam o dedo à escola pública, que "corre perigo de se transformar num lugar de doutrinação ideológica", onde os pais são postos de lado. "Esta obra tem tudo para constituir um livro-semente", concluem.
João César das Neves é um dos principais visados. O economista considera estranha a convicção de que "ao longo dos séculos a mulher foi sucessivamente oprimida e desprezada".
À esquerda, as reações e as críticas a Passos Coelho, que ‘apadrinhou’ o livro, não se fizeram esperar. "Desprezível. Misoginia em estado puro", diz o ex-ministro da Educação João Costa. "Chalupas, agora encabeçados por Pedro Passos Coelho", afirma Isabel Moreira, deputada do PS. "A extrema-direita inventa guerras culturais para impor retrocessos", diz a bloquista Catarina Martins. Já Pedro Nuno Santos, líder do PS, diz que a visão de Passos Coelho sobre a sociedade e família é "assustadora".
Frases
"As mulheres sempre foram a maioria da população, o que torna insólito que sejam dominadas pela minoria masculina. Essas senhoras, alegadamente tiranizadas, nunca se queixavam ou manifestavam o seu desagrado".
João César das Neves
"Vamos, certamente, deparar-nos pela frente com Frankenstein, pois colocamos em causa a sua ‘nova ordem mundial’".
Nuno Brás
"Nunca será salutar e coesa uma sociedade em que o divórcio deixa de ser a exceção e passa a ser a regra".
Pedro Vaz Patto
"A educação sexual não é uma educação para o amor, nem sequer uma educação da afetividade".
Gonçalo Portocarrero
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