Maria de Sousa, a "figura ímpar" da Imunologia e da Ciência em Portugal
Investigadora portuguesa morreu esta terça-feira, aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.
Maria Ângela Brito de Sousa ficou reconhecida através de investigações e estudos que, em parte, contribuíram para a definição da estrutura das funções dos órgãos que compõem o sistema imunulógico. Responsável pela fundação do Mestrado em Imunologia no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, em 1985, a investigadora portuguesa contribuiu, em muito, para uma área fundamental da saúde que ensina neste momento o País a combater a pandemia de coronavírus.
Maria de Sousa morreu esta terça-feira, aos 81 anos, vítima do novo coronavírus. A cientista estava internada no hospital na Unidade de Cuidados Continuados do Hospital de São José, em Lisboa.
O curso de Medicina, concluído em 1963 na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foi apenas a primeira porta aberta para um percurso ligado à saúde, à investigação e ao ensino.
Da Escócia aos EUA: a investigação e o contributo para a ciência
Nascida em Lisboa em 1939, a imunologista portuguesa passou pela Universidade de Glasgow, na Escócia, como Leitora. Viajou depois para os EUA, onde foi Professora Associada na Escola de Estudos Pós-Graduados de Cornell Medical College. Na ocasião foi igualmente Membro Associado e Diretora do Laboratório de Ecologia Celular no Memorial Sloan Kettering Cancer Center do Sloan Kettering Institute (SKI), em Nova Iorque.
Responsável pela descoberta da área timo-dependente, conhecida universalmente por área T, a investigadora portuguesa foi igualmente autora de artigos científicos reconhecidos internacionalmente e fundamentais para a definição da estrutura das funções dos órgãos que compõem o sistema imunológico.
O estudo da imunologia
E foi precisamente o estudo do sistema imunológico dos pacientes com hemocromatose hereditária que a ajudou a fundar o Mestrado em Imunologia, em 1985, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). A investigação sobre a patologia não ficaria por aqui e prosseguiu mais tarde entre o ICBAS, o Hospital Geral de Santo António e o Instituto de Biologia Celular e Molecular (IBMC).
O contributo para a Academia
Maria de Sousa, docente e investigadora na Universidade do Porto, deu um enorme contributo na vertente académica. A cientista liderou a fusão de três mestrados que deram origem primeiro programa doutoral em Portugal - Programa Graduado em Biologia Básica e Aplicada (GABBA), identificado além-fronteiras como um programa de excelência.
A sua Última Aula foi proferida em 2009, no Salão Nobre do edifício histórico da Reitoria da Universidade do Porto. A Professora Catedrática de Imunologia, que ali leccionou entre 1985 e 2009. Um ano mais tarde foi-lhe confiado o título de Professora Emérita da instituição.
O reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, afirma que a investigadora recebeu "merecido reconhecimento internacional numa altura em que ser cientista, particularmente uma mulher cientista, não era tarefa fácil".
A sua morte, considera o reitor, "é uma perda enorme para a Universidade do Porto e para a academia portuguesa", mas salienta a honra da instituição ao ter acolhido a docente na década de 80, para "desenvolver brilhantemente o seu trabalho como docente e investigadora".
O trabalho reconhecido: dos prémios às distinções
A investigadora portuguesa acumula no currículo vários prémios e distinções, nomedamante o prémio Bial Merit Award in Medical Sciences, em 1994, e no ano seguinte a condecoração de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 2004 recebeu o Prémio Estímulo à Excelência, atribuído pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior e em 2011 o Prémio Universidade de Coimbra.
Em 2012 foi novamente condecorada, desta vez como Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, título que foi renovado em 2016 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Em 2014, lançou o livro "Meu Dito, Meu Escrito", uma "colecção de textos preparados em resposta a convites ou obrigações vindos de lugares tão diferentes como a Academia de Ciências de Lisboa, o Festival de Paredes de Coura, a Fundação Calouste Gulbenkian, o Porto Cidade de Ciência, e outros", segundo escreve a editora Gradiva.
Uma "carreira brilhante"
2016 foi um ano igualmente importante ao receber a distinção pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aGrã-Cruz da Ordem Militar de Santiago de Espada, uma das mais importantes ordens honoríficas atribuídas pelo chefe de estado.
"Figura ímpar da ciência portuguesa", com uma "carreira brilhante", e também "um exemplo de cidadania". Foram estas as palavras utilizadas por Marcelo Rebelo de Sousa para lamentar a morte da imunologista esta terça-feira, vítima da Covid-19.
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