Ministro diz que aceitaria demissão do reitor da Universidade do Porto, que acusa de mentir

Reitor da Universidade do Porto alega que foi pressionado para aceitar candidatos ao curso de Medicina.

05 de setembro de 2025 às 18:03
António Sousa Pereira, reitor da Universidade do Porto Foto: Ricardo Jr
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O ministro da Educação manifestou esta sexta-feira "enorme desilusão" face ao reitor da Universidade do Porto, que acusou de mentir sobre alegadas pressões para aceitar candidatos ao curso de Medicina, e disse que aceitaria a sua demissão.

"Quero começar por dizer, de forma muito clara, que o senhor reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, mentiu. O mais alto representante de uma das mais importantes instituições de educação do nosso país mentiu", afirmou Fernando Alexandre no início de uma conferência de imprensa.

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A conferência de imprensa tinha sido agendada para apresentar as medidas aprovadas na quinta-feira pelo Conselho de Ministros para o setor da educação, mas o governante começou por responder a uma polémica relacionada com o mestrado integrado em Medicina da Universidade do Porto.

Em causa está uma notícia do jornal Expresso, a quem o reitor daquela instituição denunciou ter recebido pressões de várias pessoas "influentes", sem querer adiantar nomes, para deixar entrar na Faculdade de Medicina 30 candidatos que não tinham obtido a classificação mínima na prova exigida no curso especial de acesso para licenciados em outras áreas.

O assunto, escreve o Expresso, chegou ao ministro da Educação, que ligou ao reitor a manifestar disponibilidade para que se criassem vagas extraordinárias de modo a que estes alunos (que não tinham obtido a classificação mínima na prova exigida no concurso especial de acesso para licenciados em outras áreas) tivessem lugar na Faculdade de Medicina.

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Sublinhando que o problema foi criado pela própria Universidade, através da Faculdade de Medicina, Fernando Alexandre afirmou na conferência de imprensa que foi o próprio reitor a contactar o ministro.

O ministro da Educação, Ciência e Inovação deixou duras críticas a António Sousa Pereira, manifestando "enorme desilusão" e disse mesmo que aceitaria um pedido de demissão do dirigente, se este a apresentasse.

"Eu confesso que não pensava que algum dia, nestas funções, ouvisse um dirigente máximo de uma instituição de ensino superior a mentir como o reitor do Porto fez", afirmou.

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Num esclarecimento enviado às redações ao início da manhã, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) já tinha recusado ter pressionado o reitor da Universidade do Porto a admitir candidatos ao curso de Medicina de forma irregular e ter sugerido qualquer solução que violasse enquadramento legal em vigor.

No comunicado, o gabinete de Fernando Alexandre escrevia que o Concurso Especial de Acesso ao Mestrado Integrado em Medicina por Titulares de Grau de Licenciado é da exclusiva competência das instituições, neste caso, da Universidade do Porto e da sua Faculdade de Medicina, que nomeiam uma Comissão de Seleção.

Segundo a Inspeção-Geral da Educação e Ciência, acrescenta a tutela, "essa Comissão de Seleção, em desconformidade com o regulamento aprovado pela própria instituição, alterou a nota mínima de 14 para 10 valores na Prova de Conhecimentos, o que permitiu a admissão de mais 30 candidatos, além dos sete que cumpriam o requisito dos 14 valores".

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A lista dos 37 candidatos admitidos foi publicada pela faculdade, antes de homologada pelo reitor, que posteriormente decidiu não o fazer por violação do regulamento.

"O professor António Sousa Pereira deixou avolumar um imbróglio que em nada dignifica uma instituição tão prestigiada como a Universidade do Porto, nem as suas funções de dirigente máximo", lamentou o ministro, relatando que a sua intervenção no caso seguiu-se a um contacto feito pelo próprio reitor, em que o ministro manifestou disponibilidade "para aprovar a criação de vagas supranumerárias, caso houvesse suporte legal".

O MECI requereu, então, um parecer à Inspeção-Geral de Educação e Ciência, que concluiu que não existia base legal para a abertura dessas vagas.

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"Lamento, uma vez mais, que o mais alto dirigente de uma das mais prestigiadas instituições do nosso sistema educativo tenha mentido e posto em causa o meu bom nome, o que não posso admitir", insistiu Fernando Alexandre, que acusou ainda o reitor de não ter tido capacidade de resolver um problema criado pela própria instituição.

Lamentando também as expectativas frustradas dos estudantes, o ministro sublinhou a necessidade de apurar responsabilidades, considerando que isso é algo que cabe, no entanto, à própria universidade.

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