Morreu José Luís Martinho da Mouta Liz, figura omnipresente ao lado de Otelo Saraiva de Carvalho

Fundador das FP-25 tinha 85 anos. Foi condenado a 17 anos de prisão, mas acabou amnistiado por lei votada na AR.

22 de junho de 2025 às 01:30
José Mouta Liz, fundador das FP-25, faleceu aos 86 anos Foto: "x"
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José Luís Martinho da Mouta Liz, falecido na passada sexta-feira, com 85 anos de idade, teve uma vida de montanha-russa desde militante do Grupo de Bancários do MES (Movimento de Esquerda Socialista), logo a seguir ao 25 de Abril, a bem-sucedido homem de negócios nas últimas décadas. Pelo meio revelou-se figura omnipresente ao lado de Otelo Saraiva de Carvalho e fundador negacionista das FP-25 de Abril, organização terrorista da extrema-esquerda. No respetivo processo judicial foi réu condenado a 17 anos de prisão efetiva pelo Supremo Tribunal de Justiça, mas acabou amnistiado por lei votada na Assembleia da República.

A notícia da morte de Mouta Liz, que se encontrava internado nos cuidados paliativos do hospital privado CUF Tejo, em Lisboa, surgiu em primeira mão, segundo o semanário ‘Expresso’, numa partilha de Facebook de Manuel Castelo-Branco, filho de Gaspar Castelo-Branco, antigo diretor dos Serviços Prisionais, morto à porta de casa, com dois tiros na nuca, num atentado perpetrado pelas FP-25, em fevereiro de 1986.

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Além de figura proeminente à volta de Otelo, sobretudo a partir da campanha para as presidenciais de 1976, Mouta Liz multiplicou-se em intervenções a nível partidário e de grupos ativistas que preconizavam a violência armada como forma de ação política. É ainda, reconhecidamente, um dos fundadores do Projeto Global/FP-25 de Abril, mesmo se há três anos escreveu um livro conjuntamente com o advogado Romeu Francês em que desmente tudo. A sua atitude negacionista parece-se com os que proclamam que o planeta Terra é plano. Investigações policiais ao longo da década de 80 envolveram-no numa série de atos terroristas, incluindo assaltos como o ataque a uma carrinha de transporte de dinheiro feito em pleno centro de Lisboa, em 1984. O roubo terá rendido 108 mil contos (cerca de 540 mil euros atuais). Em junho daquele ano, a Judiciária tentou prendê-lo no seu local de trabalho no Banco de Portugal, mas Mouta Liz logrou fugir. Foi enfim detido em setembro.

No julgamento foi defendido por Salgado Zenha, advogado com experiência na defesa de oposicionistas no tempo da ditadura do Estado Novo, mas não escapou, em 1.ª instância, a uma pena de 15 anos de cadeia que o Supremo Tribunal fixou em 17 anos. Não teve, porém, de cumpri-la porque por iniciativa de Mário Soares, então Presidente da República, a Assembleia aprovou a amnistia de “todas as infrações com motivações políticas” entre junho de 1976 e julho de 1991. Passado este período, Mouta Liz começou por trabalhar numa discoteca e tornou-se num bem-sucedido homem de negócios, com importante património de bens ao luar.

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