Neurocientista refere que as nossas crenças podem mudar o tipo de cérebro que temos

Pessoas que tendem a ser rígidas na forma como os cérebros processam a informação, tendem também a ser atraídas "por ideologias rígidas e a levá-las ao extremo".

06 de dezembro de 2025 às 10:00
Cérebro Foto: Getty Images
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A neurocientista Leor Zmigrod afirma, em entrevista à Lusa, que as crenças podem mudar o tipo de cérebro e que as investigações mostram que existem diferenças na estrutura cerebral entre pessoas que seguem diferentes ideologias.

A autora de "O Cérebro Ideológico", que aborda as ligações entre a ideologia política e a biologia do cérebro, conta como surgiu a ideia do livro e como chegou à conclusão que aqueles que têm o pensamento cognitivo mais rígido tendem também a ser ideologicamente mais rígidos.

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Depois ter investigado sobre o tema em Cambridge e publicado os resultados em revistas académicas, os quais receberam muita atenção dos media porque "havia algo na ciência que realmente surpreendia e despertava o interesse", veio a ideia do livro.

Porque as ideologias não são apenas coisas que existem na política e sociedade, "mas podem realmente entrar nos nossos corpos de formas reais e perigosas (...) quis escrever sobre isso", apresentando o assunto às pessoas "e provocá-las a refletir, para estimular a discussão sobre como devemos reavaliar as nossas crenças depois de compreendermos o que essas crenças podem fazer aos nossos cérebros", explica Leor Zmigrod, considerada pioneira na área da neurociência política.

O que se observou nas suas experiências científicas e de outros neurocientistas políticos é que se pode "ligar a personalidade das pessoas, até mesmo a sua estrutura cerebral, com as ideologias que escolhem e o quão intensamente decidem abraçar essas ideologias".

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Por exemplo, "na minha investigação, examinei a rigidez cognitiva, que é uma característica que todos nós temos em algum grau, alguns de nós são demasiado rígidos cognitivamente, outros são muito mais flexíveis", diz.

Para medir a rigidez cognitiva, não se questiona "o quão rígido acha que é, porque somos surpreendentemente maus a conhecermo-nos", mas antes "convido as pessoas a fazerem testes e jogos neuropsicológicos que medem a sua rigidez inconsciente".

"O que descobri (...) é que as pessoas que são mais rígidas no seu pensamento, que têm dificuldade em mudar em resposta às evidências, que têm dificuldade em se adaptar (...) e que veem tudo muito preto e branco, os pensadores cognitivamente mais rígidos também tendem a ser os ideologicamente mais rígidos", relata.

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Observa-se que "tendem a apoiar a violência ideológica em nome da sua ideologia, seja ela qual for e que, no espectro político, vemos que os pensadores cognitivamente mais rígidos existem tanto na extrema-esquerda como na extrema-direita", sublinha.

Existe uma "espécie de curva em forma de U nos dados e o que isto nos diz é que as pessoas que, geralmente, no seu dia a dia, tendem a ser rígidas na forma como os seus cérebros processam a informação, tendem também a ser atraídas por ideologias rígidas e a levá-las ao extremo", continua a neurocientista.

Seguindo esta linha, "podemos aprofundar ainda mais o cérebro e, através desta investigação, descobrimos que existem diferenças na estrutura cerebral entre os que acreditam em diferentes ideologias".

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Além disso, "descobrimos que acontecem diferentes processos neurais e ocorrem mudanças fisiológicas quando uma pessoa se radicaliza por uma ideologia. E, mais importante, estas alterações são físicas e biológicas, podemos vê-las, e isso é fascinante e assustador ao mesmo tempo", sublinha.

Isto "mostra-nos que as nossas crenças podem mudar o tipo de cérebro que temos e é por isso que as crenças que escolhemos são muito, muito importantes", aponta a neurocientista.

Questionada se os resultados da investigação são o que se esperava, Leor Zmigrod diz que, de muitas formas, "vão contra algumas expectativas da área".

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Por exemplo, durante muito tempo assumiu-se que apenas quem acreditava em ideologias de direita tendia a ser rígido (rigidez cognitiva) por causa da tradição, de manter as coisas como estão, explica.

Na verdade, quando se aplica medidas objetivas e testes inconscientes, "vemos que, na realidade, não importa muito aquilo em que as pessoas acreditam, mas sim como acreditam e quão rigidamente pensam".

Isso surpreende muitos e também "pode ser controverso porque as pessoas não gostam de pensar que, se estão de um lado do espectro político, podem ter algumas semelhanças psicológicas e neurobiológicas com pessoas que acreditam numa ideologia completamente oposta", enfatiza.

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