Novas tarifas dos EUA podem ser "oportunidade" para calçado português

"Os produtores portugueses têm de se preparar para um acréscimo da concorrência nos seus mercados tradicionais", sublinha Vasco Rodrigues.

03 de abril de 2025 às 12:41
Calçado português Foto: Direitos Reservados
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As exportações de calçado português para os Estados Unidos deverão passar a ser taxadas a 20%, mas esta poderá ser uma oportunidade de reforço da quota face aos 34% aplicados à China e 46% ao Vietname, segundo a Universidade Católica.

"Esta decisão constitui uma oportunidade para reforçar a quota de mercado do calçado português nos EUA", considerando a diferença entre as tarifas aplicadas ao calçado proveniente de diferentes países, afirma o responsável do Gabinete de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica do Porto, citado num comunicado divulgado hoje pela Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS).

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Ainda assim, nota Vasco Rodrigues, no imediato "estas tarifas implicam que o calçado importado vá ficar mais caro, o que vai desincentivar o consumo".

O responsável do Católica realça ainda ser importante perceber "o impacto noutros mercados", já que, "com dificuldades acrescidas de acesso ao mercado americano, os produtores chineses e vietnamitas vão certamente reforçar os esforços de penetração no mercado europeu e noutras geografias".

"Os produtores portugueses têm de se preparar para um acréscimo da concorrência nos seus mercados tradicionais", sublinha.

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Anunciadas na quarta-feira pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre todas as importações e sobretaxas para os países considerados particularmente hostis ao comércio "não apanharam a indústria portuguesa de calçado desprevenida", segundo garante a APICCAPS.

"Do ponto de vista do princípio, rejeitamos medidas protecionistas. Pelo contrário, somos sempre favoráveis ao comércio livre, justo e equilibrado. Ainda assim, estávamos preparados para este momento, uma vez que estamos a finalizar um fortíssimo investimento - 120 milhões de euros - em domínios como automação, robótica ou sustentabilidade", afirma o porta-voz da associação.

Paulo Gonçalves garante, por isso, que "o setor não vai desistir do mercado americano", onde está "para durar", destacando que o Plano Estratégico do 'Cluster' do Calçado 2030 selecionou 145 cidades prioritárias, 30% das quais se localizam nos EUA.

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"Entre as economias avançadas, os EUA são o país que oferece melhores perspetivas", enfatiza, considerando que "o setor do calçado tem hoje muito melhores condições para abordar ao mercado norte-americano, nomeadamente na sequência dos investimentos em curso nas áreas da automação e sustentabilidade".

De acordo com o 'World Footwear Yearbook', os EUA são o maior mercado mundial de calçado. Anualmente, importam mais de 1.986 milhões de pares de calçado, num valor próximo dos 26.000 milhões de dólares (cerca de 23.525 milhões de euros).

A China é tradicionalmente o maior fornecedor do mercado, com uma quota próxima dos 60% (o equivalente a 1.200 milhões de pares), seguida de Vietname (quota de 23% referente a 461 milhões de pares) e da Indonésia (quota de 6% alusiva a 129 milhões de pares em 2023).

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Para Portugal, os EUA são apontados como "um mercado estratégico", sendo atualmente o 6.º mercado de destino das exportações do setor do calçado.

Na última década, as exportações portuguesas de calçado para os Estados Unidos duplicaram, atingindo valores próximos dos 100 milhões de euros no final de 2024.

"Ainda que já exportemos mais de 90% da produção para 170 países, consideramos o mercado norte-americano estratégico e a grande aposta da indústria portuguesa de calçado para a próxima década", remata Paulo Gonçalves.

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O Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou na quarta-feira novas tarifas norte-americanas de 20% a produtos importados da União Europeia (UE) e que acrescem às de 25% sobre os setores automóvel, aço e alumínio.

As novas tarifas de Trump são uma tentativa de fazer crescer a indústria dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que pune os países por aquilo que disse serem anos de práticas comerciais desleais.

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