Patriarca de Lisboa quer cidade aberta ao próximo e a quem procura uma vida melhor
Rui Valério salientou que "Lisboa tem construído a sua identidade não só à sombra da sua geografia que a torna porta de acolhimento a quem chega e porto de abrigo a quem a procura".
O patriarca de Lisboa, Rui Valério, defendeu este sábado uma cidade aberta ao próximo, a quem procura uma vida melhor e que olhe "cada rosto não como anónimo ou inimigo, mas como irmão".
Falando na cerimónia "Compromisso com a Cidade", organizada pelo Patriarcado, que juntou autoridades civis e militares para se associarem às celebrações do Jubileu Católico, Rui Valério salientou que "Lisboa tem construído a sua identidade não só à sombra da sua geografia que a torna porta de acolhimento a quem chega e porto de abrigo a quem a procura".
A capital portuguesa é um "verdadeiro lugar de encontro" e a "sua identidade mais profunda está construída à sombra da sua alma cristã", uma "cidade enraizada no húmus do Evangelho", justificou.
Por isso, a Igreja assume um "compromisso com a cidade" que "brota essencialmente da condição humana e cristã".
"Todos somos chamados a cuidar da casa comum e chamados a comprometer-nos com a nossa cidade", disse, apelando a que se olhe "cada rosto não como anónimo ou inimigo mas como irmão", porque a construção de cada cidade "significa construir relação" com o outro.
No caso de Lisboa, ao longo da sua história, "a cidade atraiu gente de todos os lados, situações e condições que vinham em busca de melhor vida", e ofereceu "oportunidades a todos, a jovens e menos jovens".
"Queremos que a nossa e as nossas cidades continuem a acalentar essa mística", disse o patriarca, que recordou o acidente no Elevador da Glória, na semana passada.
"Lisboa tem sido assolada por tantas tragédias, a última das quais aconteceu nos últimos dias", mas sob os "escombros do descarrilamento irrompeu a luz da solidariedade", disse Rui Valério, horas depois de o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, ter presidido a uma cerimónia em memória das vítimas.
A cerimónia desta tarde inclui vários representantes das autoridades portuguesas num compromisso cívico perante a sociedade, no seguimento do apelo feito pela Igreja Católica.
O administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, Guilherme de Oliveira Martins, elogiou a decisão do Patriarcado de realizar uma sessão solene com as autoridades políticas para celebrar o ano jubilar católico (que se comemora a cada 25 anos desde o ano zero).
"O compromisso com a cidade constitui uma exigência destes tempos", disse o responsável, que defendeu uma "cultura de paz e justiça onde todos caibam".
"Rejeitamos as visões maniqueístas típicas das nações violentas que dividem o mundo entre os bons e os maus", disse.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, confessou uma "funda alegria pessoal, como político, como cristão e católico e como político cristão" pela presença no evento do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Papa Leão XIV.
Na parte final da sua intervenção, o governante evocou o episódio bíblico da Torre de Babel, no qual "Deus, supostamente, como castigo, - ou como, eu diria, solução preventiva para que o seu poder não fosse desafiado, - fez com que cada um daqueles que trabalhava [na construção da torre] falasse uma língua diferente".
"Deus, para reverter Babel, Jesus para reverter Babel, os apóstolos de Jesus para reverter em Babel, não reduziram todas as línguas a uma língua única. Mantiveram cada um a falar a sua língua, mas todos a serem capazes de se entender. Este é o projeto cristão para a sociedade internacional e este é o compromisso que os diplomatas com que trabalho todos os dias têm com a cidade", considerou.
Numa intervenção dedicada ao "compromisso com a Paz", o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), general José Nunes da Fonseca, reconheceu que pode parecer "paradoxal associar a instituição militar à paz, porque é que ela prepara pessoas, forças e meios, dotando-os de capacidades bélicas".
Contudo, o general esclareceu que "a finalidade primeira de uma força militar é dissuadir a violência, para preservar vivas e comunidades, para evitar agressões e proteger os mais frágeis, para fazer prevalecer a estabilidade".
Já Graça Amaral, vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, reconheceu que a magistratura não pode ignorar os novos desafios, como o "excesso de processos" e a "pressão mediática e social", assegurando a "difícil tarefa de manter a confiança da sociedade" no sistema.
"Vivemos num tempo de maior escrutínio público", mas "não somos infalíveis e não devemos fingir que o somos", e, embora seja "verdade que a justiça é lenta, complexa e difícil", a solução "não depende só de nós, magistratura judicial", disse, defendendo que a resposta "pode ser melhor se for mais próxima, se for mais humana" e se "souber escutar".
Por seu turno, Luís Carrilho, diretor nacional da PSP, recordou o trabalho da instituição em matérias como a violência doméstica, apoio aos idosos e o programa Escola Segura, como empenho do compromisso com o bem-estar dos cidadãos.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt