Programa Alimentar Mundial alerta para conjugação de choques em Moçambique

Dois milhões de moçambicanos estão em situação de insegurança alimentar, dos quais 148 mil necessitam de "assistência humanitária urgente", de acordo com dados revelados pelas autoridades.

14 de agosto de 2025 às 08:13
Cabaz de alimentos Foto: DR
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O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou que a conjugação de choques climáticos, conflitos e esgotamento das reservas alimentares ameaçam agravar a insegurança alimentar em Moçambique, com 4,36 milhões de pessoas com necessidades humanitárias e de proteção "urgentes".

De acordo com o mais recente relatório operacional daquela agência da Organização das Nações Unidas (ONU), os eventos climáticos extremos como a seca e os ciclones lideram o número de afetados, com cerca de 3,5 milhões de pessoas, além do conflito armado no norte do país, com mais de 763 mil pessoas.

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"Durante o primeiro semestre de 2025, a situação humanitária e de segurança em Cabo Delgado deteriorou-se ainda mais, com ataques intensificados por parte de grupos armados não estatais, deslocando mais de 48.000 pessoas desde janeiro até ao início de julho", lê-se no documento.

Para aquela agência da ONU, a situação marca uma "continuação da volátil" situação da segurança no norte do país, "agravando as vulnerabilidades humanitárias e sobrecarregando as capacidades de resposta locais, numa altura em que os recursos continuam a reduzir".

"Moçambique continua a ser um dos países africanos mais expostos a choques climáticos extremos, com os efeitos da seca induzida pelo 'El Niño' a afetarem ainda mais os já elevados níveis de insegurança alimentar", avança.

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Segundo o PAM, devido à situação, muitas áreas, principalmente no centro e norte do país, enfrentam longos períodos sem chuva significativa, com temperaturas em algumas partes muito acima da média sazonal, prejudicando gravemente a sementeira e a colheita, acelerando o esgotamento dos 'stocks' alimentares e levando as famílias rurais a "níveis mais profundos de vulnerabilidade".

"Em resposta, foi lançado um apelo contra a seca em setembro, com o objetivo de ajudar 1,1 milhões das pessoas mais vulneráveis em todos os distritos afetados pela seca. No entanto, em junho de 2025, apenas 40,5% da população-alvo foi atingida", refere, apontando ainda para o problema no financiamento a assistência humanitária.

A agência da ONU explica ainda que a época ciclónica 2024-2025 em Moçambique foi "excecionalmente intensa", com três grandes ciclones tropicais, num intervalo de três meses, que deixaram um rasto de destruição principalmente nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, "interrompendo gravemente os meios de subsistência e a produção agrícola".

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"Apesar da escala das necessidades, as respostas humanitárias -- particularmente na área da segurança alimentar e dos meios de subsistência -- foram significativamente subfinanciadas e de âmbito limitado", acrescenta.

Dois milhões de moçambicanos estão em situação de insegurança alimentar, dos quais 148 mil necessitam de "assistência humanitária urgente", afirmou na terça-feira o Governo.

A informação foi avançada pelo porta-voz do Conselho de Ministros de Moçambique, Inocêncio Impissa, com os dados preliminares da avaliação da segurança alimentar no período após a época chuvosa, realizada em março e abril em 11 milhões de cidadãos de 66 distritos.

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Só entre dezembro e março últimos, na época ciclónica, o país foi atingido por três ciclones - incluindo o Chido, o mais grave -, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país.

Os eventos extremos provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.

O responsável acrescentou que pelo menos 148 mil pessoas encontram-se em situação de emergência, "necessitando de assistência humanitária urgente".

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A província de Cabo Delgado, situada no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.

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