Proprietários alertam para risco de "justiça privada" nas ocupações ilegais de casas
Presidente da ALP criticou a inoperância policial nestes casos: "A própria polícia, quando é chamada, diz que não consegue fazer nada".
O presidente da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP), Luís Menezes Leitão, defendeu esta terça-feira a necessidade de uma resposta rápida e eficaz do Estado às ocupações ilegais de imóveis, alertando para o risco de surgirem "formas ilegais de justiça privada".
"Aparecem formas ilegais de justiça privada quando o próprio Estado não consegue ser eficaz, como está a acontecer na vizinha Espanha", afirmou, durante a audição que está a decorrer na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, requerida pelo CDS-PP no âmbito da apreciação, na especialidade, de projetos de lei do Chega, Iniciativa Liberal e PSD.
"Começa a surgir algo que a mim, como juiz, me preocupa muito, que são formas ilegais de justiça privada. Quando isto acontece significa que o Estado de Direito está a falhar", reforçou.
O responsável comparou a situação atual aos "tempos do PREC", recordando que "não havia ninguém que estivesse dentro do propósito da própria propriedade" e que chegou a escrever um livro sobre esse período.
O presidente da ALP criticou ainda a inoperância policial nestes casos: "A própria polícia, quando é chamada, diz que não consegue fazer nada [...], porque se não virem as pessoas a entrarem na casa, em flagrante delito, não vai acontecer nada. Tirá-los de lá é quase completamente impossível".
Luís Menezes Leitão considerou "positivo" que os diferentes projetos apresentados possam ser "unificados", destacando como exemplo a proposta de eliminação da exigência de violência ou ameaça grave para a criminalização da ocupação ilegal.
"O Código Penal de 1982 [passou] a exigir violência ou ameaça grave para tipificar criminalmente as situações de ocupação, o que (...) deixa totalmente fora muitas situações", criticou, defendendo que "bastaria a entrada ilícita no imóvel" para que fosse considerado crime.
O presidente da ALP elogiou também o reforço dos poderes das autoridades policiais previsto nas iniciativas e a possibilidade de restituição provisória do imóvel.
"Genericamente, penso que, neste quadro, é positivo que seja feita esta [reforma]", reforçou.
Em julho, a Assembleia da República aprovou, na generalidade, projetos de lei de PS, Chega e Iniciativa Liberal e um projeto de resolução do CDS-PP para aumentar as penas para as ocupações ilegais de imóveis.
Através de um projeto de lei, o PSD propõe a criminalização da conduta de quem invadir ou ocupar uma habitação, prevendo penas de prisão até dois anos ou multa até 240 dias, as quais quer ver agravadas nas situações em que houver recurso a violência, se trate de uma habitação própria e permanente ou houver intenção de gerar lucro.
O projeto de lei da IL quer que quem ocupe ilegalmente imóveis de terceiros possa ser expulso no período máximo de 48 horas. Os liberais pretendem que a "violação de domicílio e usurpação de coisa imóvel" seja adicionada ao conjunto de crimes previstos na lei (como ameaça, coação ou perseguição) que atualmente permitem a um juiz obrigar à retirada dos criminosos da habitação.
Também o Chega propõe que seja dado um prazo de 48 horas para a desocupação do imóvel, ou que seja imediata em caso de flagrante delito.
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