Rede Anti-Pobreza reivindica que pobreza não é problema dos pobres mas da sociedade
Na UE existem mais de 93 milhões de pessoas em situação de pobreza, mais de dois milhões delas em Portugal.
A presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal pediu esta sexta-feira prioridade ao fim da pobreza, considerando que esse "não é um problema dos pobres", mas sim "da sociedade e da forma como ela funciona".
A luta contra a pobreza e a sua erradicação "deve ser uma prioridade, para que as democracias se reforcem e a economia avance, porque a situação de pobreza não é um problema dos pobres, é um problema da sociedade e da forma como ela funciona", disse Maria Joaquina Madeira.
A responsável falava à agência Lusa no âmbito de um almoço/debate com organizações da sociedade civil e representantes portugueses no Parlamento Europeu para refletir sobre a luta contra a pobreza e as propostas para a defesa de uma Europa Social.
Segundo a Rede Europeia Anti-Pobreza de Portugal (EAPN Portugal) existem mais de 93 milhões de pessoas em situação de pobreza e/ou exclusão social na União Europeia (UE), mais de dois milhões delas em Portugal.
Em Portugal, afirmou Maria Joaquina Madeira, tem havido um crescimento económico confortável, um crescimento do PIB e um aumento do salário mínimo nacional, mas tal "não chegou às pessoas mais pobres": há 20% da população a viver com um valor igual ou inferior a 630 euros.
E essa é só a pobreza material, ainda que a pobreza não seja apenas sobre questões de rendimento, sendo também questões de acesso à saúde, à escola bem-sucedida, à integração num trabalho de qualidade, a uma vida digna e de qualidade.
A presidente recordou um relatório recente europeu que dá conta de que mais de 50% dos portugueses inquiridos reconhece que é urgente travar a luta contra a pobreza.
"A situação não afeta só as pessoas em situação de pobreza, afeta o desenvolvimento do país, porque as pessoas são pouco contributivas também para o desenvolvimento, portanto trabalhar a combater a pobreza é uma forma de investimento e não um desperdício de dinheiro", avisou.
Acrescentou que a agenda política deve pôr como prioridade o combate à pobreza, "como uma questão de desenvolvimento económico e social da Europa".
E caminha a Europa num bom sentido? Maria Joaquina Madeira disse que há sinais, que há uma preocupação, agora até com a habitação, um problema com um grande impacto, especialmente nas crianças.
E disse que é preciso força política. Sobre Portugal, aguarda que o Governo dê sinais de que a pobreza está na agenda política.
A pobreza, frisou, não é um problema só do Ministério do Trabalho e Segurança Social, embora seja importante minimizar os efeitos da pobreza, a proteção social, bem como o trabalho das IPSS. Mas a causa e a raiz da pobreza é a "sociedade e os modelos sociais e económicos que ela desenvolve".
No debate, a eurodeputada do PS Isilda Gomes destacou que uma sociedade com fome e pobreza nunca será uma sociedade democrática.
E, como Joel Moriano, representando o PCP, falou das perspetivas sobre a estratégia europeia de combate à pobreza, que a Comissão Europeia irá apresentar em breve.
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