Sindicato alerta para falta de docentes no Superior se carreiras não forem valorizadas
"É o que está a acontecer no ensino básico e secundário, e vai demorar muito tempo a recuperar", disse o presidente do sindicato.
O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) alertou, esta quarta-feira, que o problema da falta de professores nas escolas alargar-se-á em breve também às universidades se as carreiras não foram valorizadas, desde logo com aumentos salariais.
"É o que está a acontecer no ensino básico e secundário, e vai demorar muito tempo a recuperar. Vai acontecer também no ensino superior e vai ser um processo muito mais rápido", alertou o presidente do SNESup.
Em declarações à agência Lusa a propósito da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2026 (OE2026), José Moreira elogiou o reforço das verbas para o Ensino Superior, Ciência e Inovação, mas apontou a ausência de medidas de valorização dos profissionais.
Sublinhando que o poder de compra dos docentes e dos investigadores caiu mais de 30% nas últimas duas décadas, o dirigente sindical alertou que as instituições estão a perder capacidade de recrutamento, num contexto em que a idade média dos profissionais aumenta e a maioria começa a aproximar-se da reforma.
"Quando este processo começar, em dois ou três anos o sistema pode entrar em rutura, porque não vai haver capacidade de repor os docentes e os investigadores que são necessários para que o sistema científico e o sistema do ensino superior continuem a funcionar", alertou.
Admitindo que possa existir, da parte do Governo, sensibilidade para o problema, José Moreira considerou que "não estão a ser dados os passos" necessários para o prevenir.
"Estamos à beira de uma tempestade perfeita", acrescentou o presidente do SNESup, insistindo que "a remuneração dos docentes e investigadores, neste momento, não torna as carreiras atrativas nem para os nacionais, nem para atrair cientistas que venham de outros países".
Em julho, o ministro da Educação, Ciência e Inovação manifestou a intenção de olhar para as carreiras docentes e de investigação científica na sequência do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, criando uma carreira única com perfis distintos.
Quanto à unificação das carreiras, José Moreira disse que o SNESup é "agnóstico" e insistiu que a prioridade deveria ser a melhoria das condições de trabalho.
"A criação de uma única carreira poderá ser um fator importante para haver também uma recomposição remuneratória. O que nos deixa apreensivos é que nada disto está espelhado na lei do orçamento", lamentou.
A proposta de OE2026, que começou, esta quarta-feira, a ser discutida na especialidade após ser aprovada na generalidade, com votos a favor de PSD e CDS-PP e abstenções de PS, PAN e JPP, prevê para o ensino superior, ciência e inovação uma despesa total consolidada de 3,9 mil milhões de euros, mais 296,8 milhões de euros face à estimativa de execução de 2025.
As universidades e institutos politécnicos representam 82,5% da despesa e a FCT 10,1%.
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