Vítimas dos incêndios sem apoios do Estado

Famílias de Treixedo ficaram sem nada. Apoios oficiais tardam em chegar. Povo ajuda-se.

11 de novembro de 2017 às 09:19
Raquel, incêndios, fogos, Daniel Ferreira Foto: Direitos Reservados
Armando Roque, incêndios, fogos Foto: Direitos Reservados

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Daniel recebe o salário mínimo. Raquel é desempregada. Com eles os três filhos, Guilherme, Joana e Gustavo, de 9 e 5 anos e 10 meses. Perderam tudo no fogo que chegou como "bombas a cair do céu", a 15 de outubro, à aldeia de Treixedo, Santa Comba Dão. Os bens de uma vida de sacrifício ficaram em cinzas. Eles salvaram-se "só com a roupa no corpo", conta Guilherme. Vivem agora numa casa emprestada. Com comida, roupa, brinquedos e livros emprestados. Do Estado nada lhes chegou.

Naquela noite em Treixedo, foram todos cedo para a cama. "Tinha faltado a luz", conta Alice, 58 anos. Foi o sono leve de Raquel, de 26, a salvar a família. "Eram 23h00 e ouvi os vizinhos a gritar… Já vinha lá o lume. Eles dormiam ferrados. Se não tivesse acordado, ficávamos aqui. Foi segundos…", conta, recordando que não se viu um bombeiro ou GNR: "Eles não conseguiam passar. Só às 07h00 apareceram uns militares".

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O fogo caía do céu e andava pelas ruas varrido pelo vento. Foram destruídas nove casas de primeira habitação. Em Treixedo, ninguém morreu graças a Armando Roque, 53 anos, antigo emigrante em França.

"Vi a serra vermelha e já tudo ardia. Coloquei mais de 20 vizinhos na loja [armazém] por ser forrada a placa. Molhei as paredes, tapei os buracos. Os idosos sossegaram a rezar o terço pelos dedos. Se eles morressem, eu tinha de morrer com eles. Fui eu que os meti aqui…", recorda.

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A sua casa foi uma das que ardeu. Três semanas após o fogo, pouco ou nada ainda se mexeu no entulho. Do Estado, zero. "Vou ter que sair outra vez lá para fora [emigrar]. Vou recuperar a casa", assegura Armando.

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