"As pessoas com formação em literacia tendem a pagar mais por notícias em formato digital", afirma o investigador Miguel Paisana.
O investigador Miguel Paisana afirma, em entrevista à Lusa, que a literacia para os media influencia o comportamento das pessoas, mas não a sua perceção sobre as notícias, segundo conclusões do Digital News Report Portugal 2025 (DNRPT25), esta terça-feira, divulgado.
"A literacia para os media influencia os comportamentos das pessoas, no entanto, não influencia as suas percepções sobre o jornalismo e sobre as notícias", diz Miguel Paisana, que é investigador do Obercom, CIES-ISCTE e do Iberifier - Observatório Ibérico de Meios Digitais.
O DNRPT25 é produzido anualmente pelo OberCom - Observatório da Comunicação desde 2015, publicado a par do relatório global do RISJ - Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Miguel Paisana destaca três temas "particularmente interessantes" no relatório, entre os quais a formação em literacia mediática.
"As pessoas com formação em literacia tendem a pagar mais por notícias em formato digital" e a aceder "a notícias 'online' de forma direta", ou seja, aos seus 'sites', e também "verificam factos de forma mais frequente e participam mais no debate sobre notícias", aponta o investigador.
"Parece haver uma correlação entre o facto de as pessoas terem algum tipo de formação literacia para os media" e "terem comportamentos mais positivos face a notícias", prossegue.
Quanto à hipótese de as pessoas com este tipo de formação terem mais confiança nas notícias, tal não se verifica.
"Há um impacto nos comportamentos, mas não na perceção sobre o que as pessoas têm dos jornalismos", refere, recordando que o OberCom está envolvido há muitos anos no tema da literacia para os media, que é uma questão "importante".
Miguel Paisana destaca que quando se promove este tipo de iniciativas (formação), os ganhos são a médio e longo prazo.
"Não vamos ver os ganhos no curto prazo, mas no médio e no longo prazo há ganhos, portanto, mesmo seja para as marcas, seja para as instituições oficiais", há aqui "claramente uma influência positiva da literacia para os media", reforça o investigador, apontando que este é um "dado muito positivo" do DNRPT25.
Outro dos aspetos do estudo é que "cerca de 4 em cada 10 portugueses" consideram que "as redes sociais removem pouco conteúdo".
Neste âmbito, "estamos a falar das questões da moderação, da filtragem de conteúdos" e, apesar de serem 39%, que não é uma maioria, é "uma proporção significativa de pessoas que acham que as plataformas devem ter um papel ativo na moderação do debate público em torno da informação e das notícias".
Isto está em "contraponto com aquilo que é a tendência geral das redes, que é de recuarem, portanto, naquilo que são os próprios sistemas internos de verificação da informação e fazer o outsourcing dessa tarefa para a comunidade", diz, apontado que é um aspeto "curioso".
Outro dos temas abordados no estudo é a inteligência artificial (IA), que já tinha sido abordada no relatório de 2024, mas que agora é aprofundada.
"As pessoas continuam a olhar para o jornalista, ou seja, como uma âncora de confiança, digamos assim, como credibilidade naquilo que é a sua perceção do que é a notícia, no que eu acho que é importante e é interessante", salienta o investigador.
No relatório, é explorado o uso da IA para o consumo de notícias "e aqui há outro aspeto também interessante, que as pessoas olham para a inteligência artificial como positiva, mas mais em termos de conforto e qualidade do consumo de notícias", onde se inclui a tradução, resumo de notícias, entre outros.
Portanto, "há alguma personalização de notícias também", em que as pessoas veem aspetos positivos naquilo que pode melhorar a sua qualidade de consumo. Em sentido inverso, "há maior ceticismo" quanto ao papel da IA na produção de notícias, "sobretudo com um pendor mais autónomo".
O relatório aponta também que os portugueses "são relativamente ativos na procura de verificação de informação", mantendo-se "a prevalência de atores como as marcas de notícias em que as pessoas confiam, as fontes oficiais, como por exemplo o 'site' do governo, e também os 'fact-checkers', que já se conseguiram consolidar" e ganhar relevância.
No caso dos motores de busca, os portugueses "usam em proporção significativa", diz.
Aliás, "somos dos poucos mercados europeus em que os motores de busca têm mais prevalência do que as redes sociais para o consumo de informação, acesso à informação", elo que "temos esta preferência bastante significativa por esse elemento", aponta.
Algumas das tendências internacionais sobre desinformação têm a ver com o facto dos 'influencers' terem um papel preponderante no quotidiano informativo, como é o caso dos EUA, em que houve 'podcasts' e 'youtubers' que tiveram um papel importante na definição das eleições, refere.
Contudo, em Portugal "metade dos portugueses" afirmam-se "preocupados com a desinformação com origem em 'influencers' e personalidades 'online'", aponta.
Esta é uma vertente "do ecossistema mediático português que está pouco regulada", refere.
"Mais de 4 em cada 10 portugueses estão preocupados com desinformação com origem em políticos ou atores políticos ou partidos políticos portugueses e também 40% com origem em governos estrangeiros, políticos ou partidos políticos estrangeiros", aponta.
Proporções que "não são esmagadoras, mas eu diria que já são muito significativas. Isto aqui é um, eu diria que é talvez o dado mais preocupante, que a desinformação vai tornar-se mais sofisticada", adverte o investigador, e as pessoas estão alertadas para isso, o que é "positivo em si".
O investigador destacou ainda o papel da imprensa regional e local, que apesar do impacto limitado, continua "a ter um papel preponderante para certas demografias, nomeadamente as mais velhas", que muitas vezes estão esquecidas do processo informativo das grandes marcas nacionais.
A imprensa regional "tem aqui um papel fundamental da inclusão informativa de pessoas que, se calhar, de outra forma, podem não ter acesso", remata Miguel Paisana.
No âmbito do DNRPT25 foram inquiridos 2.012 pessoas.
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