A Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja tem estado debaixo de fogo por parte dos católicos mais conservadores. Arrasam o relatório, que validou 512 testemunhos e aponta para um número mínimo de 4815 vítimas, e atacam os membros da comissão. Para os críticos, os números apresentados são especulativos e muitos testemunhos, sob a capa do anonimato, são difamatórios. Há quem se queixe de perseguição à Igreja.
Na apresentação do relatório da comissão, em fevereiro, foram lidos alguns testemunhos de vítimas de abusos. "Chocou muita gente, mas é importante que se tenha a noção de que os abusos que lemos estão longe de serem os mais horríveis daqueles que tomámos conhecimento através do nosso estudo", revela Laborinho Lúcio, que fez parte da comissão. "Eu gostaria muito de acreditar na possibilidade de a Igreja compreender o que está em jogo", diz o antigo ministro da Justiça, em entrevista ao jornal ‘Região de Leiria’, sublinhando que é "fundamental" a Igreja ter as declarações das vítimas. Laborinho Lúcio classifica de "infelizes" declarações de alguns bispos e pede à Igreja que tome uma posição inequívoca: "Tem de dizer de forma clara, publicamente, em primeiro lugar, que durante décadas ocultou esta realidade."
"Ninguém pode perseguir criminalmente um eventual abusador já morto, mas o abuso mantém-se e a vítima também. O direito à indemnização também se mantém", considera Laborinho Lúcio, explicando o porquê da lista incluir nomes de sacerdotes que já faleceram. "Há uma responsabilidade da Igreja no sentido de reparar o mal que se produziu nas vítimas", refere.
"É necessário fazer para o País aquilo que fizemos para a Igreja, saber qual é o estado desta tragédia na sociedade portuguesa e quais são as medidas a tomar", defende Laborinho Lúcio, referindo-se aos abusos de menores.
Católicos criticam bispo do Porto Mais de três dezenas de católicos do Porto escreveram uma carta aberta a D. Manuel Linda, a propósito do escândalo de abusos sexuais na Igreja. Lamentam a "falta de sentido de urgência e de clareza" e criticam as "não decisões" do bispo do Porto. "Não podemos calar a nossa dor e comunhão com o sofrimento das vítimas dos abusos sexuais. E não podemos calar, também, o desconforto pelos sinais que não confirmam a sintonia, nem com a urgência, nem com o consolo da clareza", escrevem os subscritores da carta.