Recolha de informação demorou cinco meses e exigiu o envio de cerca de 150 pedidos formais, permitindo reconstruir o incidente com rigor apenas em agosto.
Os peritos que investigam o apagão ibérico destacaram a dificuldade de recolha de dados e recusam-se a atribuir culpados, sublinhando que o relatório factual se centra na análise técnica do incidente e serve de base para recomendações futuras.
Durante a apresentação do relatório factual do apagão de 28 de abril, o mais grave em mais de 20 anos no sistema elétrico europeu, Klaus Kaschnitz, da APG (Austrian Power Grid) e co-líder do painel de especialistas da Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E, na sigla em inglês), explicou que a investigação enfrentou um processo "muito desafiante" devido à dificuldade de obter informação completa de operadores e geradores, incluindo de terceiros que não consentiram o envio dos dados.
"Alguns dados simplesmente não existem", disse, referindo-se sobretudo a unidades pequenas, como painéis solares domésticos. A recolha de informação demorou cinco meses e exigiu o envio de cerca de 150 pedidos formais, permitindo reconstruir o incidente com rigor apenas em agosto.
Klaus Kaschnitz e Damian Cortinas, presidente do Conselho da ENTSO-E, sublinharam que o relatório não tem como objetivo apontar responsáveis, mas sim analisar tecnicamente o incidente. "O nosso foco é compreender os factos e usar essa informação para evitar que algo semelhante volte a acontecer, não atribuir culpas", explicou Damian Cortinas.
Segundo Klaus Kaschnitz, a investigação identificou múltiplas oscilações de voltagem e frequências atípicas antes do apagão, culminando em três eventos principais que levaram à perda de sincronismo com a rede europeia.
Apesar da natureza inédita do colapso, a restauração da rede foi rápida, com Portugal a recuperar totalmente a ligação de alta tensão pouco depois da meia-noite e Espanha às 04h00 do dia seguinte.
O presidente do Conselho da ENTSO-E esclareceu o papel das interligações internacionais, em particular sobre a ligação entre Portugal e França. "O tamanho da interligação não teve impacto no apagão, nem no início nem na resolução. O problema foi local, no sul de Espanha. A existência de interligações em geral ajudou apenas na recuperação do sistema, permitindo restabelecer a tensão de forma coordenada, mas não poderia ter prevenido o incidente", afirmou.
Klaus Kaschnitz destacou que o apagão evidenciou um fenómeno novo: sobretensões em cascata que exigem controlo local de voltagem. "A voltagem precisa de ser gerida localmente, perto do problema. Todas as unidades, renováveis ou convencionais, podem contribuir para o controlo de voltagem, desde que cumpram os requisitos técnicos", explicou.
O relatório da ENTSO-E sublinha que reforçar a capacidade de controlo de voltagem em toda a rede é essencial para prevenir incidentes semelhantes. A investigação prosseguirá com análise detalhada das oscilações locais, da interação entre geradores e consumidores, e da eficácia dos planos de defesa do sistema, com o objetivo de aumentar a resiliência do sistema elétrico europeu.
Damian Cortinas sublinhou que o relatório factual serve de base para o relatório final, previsto para o primeiro trimestre de 2026, que incluirá recomendações técnicas e regulatórias destinadas a prevenir incidentes semelhantes na Península Ibérica e na Europa.
"O nosso objetivo é prevenir que volte a acontecer, não apenas em Espanha e Portugal, mas em toda a Europa", afirmou Damian Cortinas, lembrando que o incidente revelou um fenómeno novo: 'blackouts' causados por sobretensões em cascata, que exigem controlo local de tensão, uma função que pode ser cumprida por todas as formas de geração, renovável ou convencional, desde que estejam implementados os requisitos técnicos adequados.
Klaus Kaschnitz acrescentou que a investigação irá aprofundar o estudo das oscilações locais, da interação entre geradores e consumidores e da forma como a rede responde em situações extremas, com o objetivo de aumentar a resiliência do sistema elétrico europeu.
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