Dois rebocadores deslocaram 12 mil painéis solares, que juntos teriam o tamanho de quatro campos de futebol, para o ponto de fixação nas águas da albufeira do Alqueva, no Alentejo, naquele que será o arranque do maior parque solar flutuante da Europa, a funcionar no próximo mês.
Construída pela EDP, a principal empresa pública do país, no maior lago artificial da Europa Ocidental, a ilha flutuante faz parte do plano de Portugal para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis importados, cujos preços subiram desde a invasão russa à Ucrânia.
Com uma enorme exposição solar e sujeito aos ventos atlânticos, Portugal acelerou a sua mudança para as energias renováveis uma vez que, apesar de não utilizar quase nenhum hidrocarboneto russo, as centrais elétricas alimentadas a gás ainda sentem o aperto do aumento dos preços dos combustíveis.
Miguel Patena, diretor do grupo da EDP, responsável pelo projeto solar, disse, na quinta-feira, que a eletricidade produzida pelo parque flutuante custaria apenas um terço da gerada a partir de uma central alimentada a gás.
Os painéis no reservatório de Alqueva, utilizados para gerar energia hidroelétrica, produzirão 7,5 gigawatt/hora (GWh) de eletricidade por ano, e serão complementados por baterias de lítio para armazenar 2 GWh. Os painéis solares serão capazes de abastecer de energia 1.500 famílias ou um terço das necessidades das vizinhas Moura e Portel.
"Este projeto é o maior parque solar flutuante de uma barragem hidroelétrica da Europa, é uma referência muito boa", disse Patena.
Painéis solares montados em pontões, lagos ou até no mar já foram instalados em vários locais, desde na Califórnia, nos Estados Unidos da América, a lagos industriais poluídos na China, numa tentativa de reduzir as emissões de CO2.
Os painéis flutuantes têm a vantagem de não requerer imóveis valiosos e, a par disso, os dos reservatórios utilizados para energia hidroelétrica são particularmente rentáveis, uma vez que podem ser conectados às ligações existentes da rede eléctrica. O excesso de energia gerada em dias de sol pode bombear água para o lago para ser armazenada e posteriormente utilizada em dias nublados ou até durante a noite.
Ana Paula Marques, membro do conselho executivo da EDP, disse que a guerra na Ucrânia mostrou a necessidade de acelerar a mudança para as energias renováveis. Acrescentou ainda que o projeto no Alqueva fazia parte da estratégia da EDP para "se tornar 100% verde até 2030", com a energia hidroelétrica e outras formas renováveis a representar atualmente 78% dos 25,6 GW de capacidade instalada da EDP.
Em 2017, a empresa instalou um projeto-piloto solar flutuante com 840 painéis na barragem do Alto Rabagão, o primeiro na Europa a testar como a energia hídrica e solar se poderiam complementar.
A EDP já tem planos para expandir o projeto do Alqueva. Em abril, assegurou o direito de construir uma segunda quinta flutuante com 70 MW de capacidade instalada.