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Quando as agulhas fazem de anestesia

As mãos de Mitsuharu Tsuchiya percorrem as pernas até encontrarem o local exacto para espetar a agulha. Depois, seguem o mapa do corpo, sobem ao abdómen e voltam a perfurar pele.

13 de julho de 2008 às 00:30

Bastam apenas quatro agulhas, ligadas durante 20 minutos a um aparelho de corrente eléctrica, para que o mestre em acupunctura obtenha o efeito desejado: a paciente deixa de sentir da cintura para baixo. O adormecimento dos membros dura uma hora. É o tempo suficiente para que, dentro do bloco operatório, o radiologista Martins Pisco leve a cabo a sua operação. Sem anestesistas.

No Hospital de St. Louis, em Lisboa, as doentes podem escolher substituir a anestesia local pela acupunctura. É o único local do Mundo onde o tratamento para os miomas do útero, através da embolização, é conjugado com a técnica alternativa. Desde 2006, 53 pessoas já optaram pelas agulhas.

Mitsuharu Tsuchiya é japonês e anestesista de formação, mas há décadas que pôs de lado o recurso a medicamentos. Em Portugal há 35 anos, fazia tratamentos de acupunctura nas suas clínicas. Até que o médico Martins Pisco o convidou para trabalhar consigo. 'A primeira doente foi uma técnica que trabalhava com ele. Perguntou-me se podia usar a acupunctura. Eu já o conhecia há muito anos e aceitei. Os resultados foram óptimos', conta o médico. Com esta técnica, não há remédios para as dores antes da operação. O único problema é quando a operação se prolonga por mais de uma hora. Casos raros para Martins Pisco, que costuma terminar as suas intervenções em 25 minutos.

O MEU CASO: A MÉDICA QUE RECUSOU OS REMÉDIOS

Isabel Brito está deitada numa maca, prestes a entrar para a sala de operações, onde lhe será colocado um cateter na virilha e introduzido um líquido até ao útero. Não levou uma única injecção para as dores, não tomou um único comprimido, mas está confiante de que não vai sentir nada. Aos 42 anos, já experimentou alguns tratamento de acupunctura, mas é a primeira vez que vai utilizar a técnica antes de uma operação.

Médica, diz não ter preconceitos em relação ao uso das técnicas da medicina tradicional chinesa. 'Tirei o curso na Venezuela e, muito por influência dos EUA, há bastante abertura' para estas alternativas, refere.

Durante a operação, Isabel Brito continua a sorrir. A incisão na pele já foi feita, ela não pestanejou. O médico continua a injectar o líquido nas artérias do útero, ela não sente nada. A intervenção acaba e continua a falar como se nada fosse. 'Não senti qualquer dor. Vou recomendar aos meus pacientes.' Já tinha sido operada antes aos miomas, dessa vez com anestesia. E refere que as diferenças são muitas. Não tem náuseas nem mal-estar, está mais relaxada e diz que a recuperação será mais rápida.

PERFIL

É médica de família em Braga e tem 42 anos. Não tem filhos e eles não fazem parte dos seus planos. Decidiu submeter-se a uma operação de embolização para tratar os fibromiomas.

 TÉCNICAS

EMBOLIZAÇÃO

É uma técnica menos invasiva do que a cirurgia e consiste em interromper a corrente sanguínea nas artérias do útero. Sem alimentação, os fibromiomas (tumores benignos) reduzem de tamanho.

PÓS-OPERATÓRIO

Não necessita de internamento. Duas horas depois o doente já se pode levantar.

ELECTRO-ACUPUNCTURA

A agulha bloqueia e faz libertar endorfina, que anestesia. Estímulos eléctricos criam uma corrente inversa à dos nervos.

SHIATSU

Durante a operação, a paciente é massajada na cabeça.

 

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