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Sapadores florestais esperam por valorização de carreira sem receio de avaliações

Associações querem valorização da carreira de sapadores florestais, face ao risco da profissão.

28 de agosto de 2025 às 19:15

As associações de proprietários florestais defendem a valorização da carreira de sapadores florestais, devido ao elevado desgaste e risco da profissão, e não receiam ser avaliados pelo seu trabalho ao longo do ano na prevenção de incêndios rurais.

"Pedimos a valorização da carreira dos sapadores", porque é uma atividade "de desgaste" e "exige também muito esforço e muito risco no verão", e "queremos também mais dinheiro para as associações, as organizações de produtores florestais, para poder pagar melhor às equipas", afirmou Luís Damas.

Em declarações à Lusa, o presidente da direção da Federação Nacional de Associações de Proprietários Florestais (FNAPF), que junta 41 organizações do norte, centro e sul do país, defendeu que uma maior valorização da carreira permitirá reter os melhores profissionais.

Nos balanços de incêndios rurais destacam-se as ocorrências com mais danos, mas Luís Damas salientou o trabalho dos sapadores florestais e "os fogos que não tiveram história", pois "as primeiras intervenções destas equipas são imensas, nos anos todos, e pouparam muitos milhões de euros ao Estado".

"Cada intervenção com uma equipa de sapadores que não dá um fogo grande, não se gasta meios de combate, helicópteros, aviões, e a floresta não arde", frisou o dirigente da FNAPF, que tem sete equipas de sapadores florestais.

O também dirigente da Associação dos Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação explicou que se trata de "um trabalho de sapa, que não dá nas vistas no verão, porque normalmente andam todo o ano na floresta e depois também fazem apoio ao rescaldo".

"Portanto, estão em pontos estratégicos aprovados pelo plano municipal de defesa da floresta dos municípios e não estão nos quartéis", notou, acrescentando que, como conhecem as áreas florestais em que trabalham durante o inverno, conseguem "chegar rapidamente" aos pontos de ignição, ao contrário de outros elementos destacados para o combate, muitas vezes de corporações de meios urbanos distantes.

Para Luís Damas, esse conhecimento do território "é uma mais-valia" e os sapadores florestais "são avaliados todos os anos pelo trabalho que fazem, pelo desempenho que têm nos fogos".

Segundo o relatório de 2024 da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), divulgado em junho, a vigilância móvel terrestre, entre 6 de maio e 5 de novembro, empenhou "50.312 patrulhas GNR, 2.046 das Forças Armadas, 225 da Autoridade Marítima Nacional, 905 da PSP, 61 bombeiros, 34.494 sapadores florestais, 2.325 da EMIF [Equipas Municipais de Intervenção Florestal], 1.123 vigilantes da natureza e 4. 274 de outras forças".

Na rede secundária de gestão de combustíveis, o programa de sapadores florestais (PSF) executou 1.262 hectares (ha), relativamente ao serviço público prestado ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a que acrescem 4.912 ha de rede secundária em serviço normal, totalizando 6.174 ha.

Os sapadores florestais têm que "trabalhar para o ICNF mais ou menos 110 dias por ano, 60 de prevenção e os restantes de serviço público", em faixas de contenção, "na floresta e não ao pé das casas", notou Luís Damas.

"Nestes últimos dias, na Serra da Estrela, quem lutou muito ao pé da Torre foi a equipa de sapadores, porque aquilo é trabalho apeado e os carros de bombeiros não vão lá, tem que ser a pé, com material de sapador", exemplificou o responsável da FNAPF.

Desde a criação do PSF, em 1999, foram realizadas auditorias por entidades externas em 2010, 2015 e 2022, e todos os anos as equipas de sapadores têm de submeter ao ICNF planos de atividades a desenvolver no ano, relatórios semestrais e trimestral de julho a setembro sobre o trabalho de vigilância.

"Temos um controle ao semestre, um controle trimestral e depois o relatório final todos os anos, e há entidades que às vezes não recebem porque o relatório tem que ser retificado, e às vezes há redução de verbas por não ter um elemento ou não fez uma área", explicou Luís Damas, considerando que "se há algum programa mais controlado ou mais auditado é mesmo o programa de sapadores".

O relatório de avaliação do PSF 2011-2021, realizado pelo ForestWise - Laboratório Colaborativo para Gestão Integrada da Floresta e do Fogo, identificou oito desafios principais, tendo como central o "aumento de apoio financeiro" às equipas, "com impacto em todos os outros desafios".

Nesses desafios cabem o recrutamento de sapadores, a sua profissionalização e qualificação, o acesso a equipamento adequado e a melhoria do desempenho das equipas, melhor cooperação entre entidades, a sustentabilidade das equipas e maior valorização e reconhecimento do PSF.

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