Ir para a escola sem objetos pesados, como livros e cadernos, é um sonho para muitos alunos, mas é a realidade de uma turma do 12.º ano da Escola Secundária Quinta do Marquês, em Oeiras, que já se habituou a um modelo de ensino livre de papel, e não só.
Na aula a que o Correio da Manhã assistiu, professores e estudantes escrevem nos ecrãs dos tablets e de quadros interativos, onde o acesso à Internet é permanente. A dinâmica destas aulas do futuro é diferente das atuais, sendo que os alunos e os docentes estão satisfeitos com os resultados.
A escola aceitou o convite para participar no Creative Classrooms Lab, um projeto-piloto europeu que tem como objetivo avaliar as potencialidades da utilização de tablets nas salas. Além da inexistência de papel, um aluno sair do lugar para ir resolver um problema ao quadro tornou-se obsoleto, uma vez que todos os dispositivos estão ligados em rede e o professor pode escolher qual deles quer projetar no quadro interativo.
Os custos dos 32 tablets distribuídos entre os 25 alunos e os sete docentes da turma foram suportados por uma marca tecnológica. O projeto inicia agora o seu segundo ano. Júlia Tainha, diretora da escola, diz ao CM que este "tem evoluído de forma bastante positiva", considerando-o uma mais-valia para os estudantes.
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O caminho para o futuro
Pelo sexto ano consecutivo, a vanguarda do ensino vai ser debatida no Havai, por mais de 90 especialistas e 1500 professores nos dias 6 e 7 de novembro. Okhwa Lee, especialista em design educativo futurista e uma das principais conferencistas, afirma ao CM que o atual modelo de um docente a ensinar vários alunos vai dar lugar a "um estudante e vários professores online ou offline". Lee acrescenta que o sistema educativo vai tornar-se "mais individualizado", mas, ao mesmo tempo, "as escolas vão continuar a existir".
Esta é uma opinião partilhada por uma equipa de investigadores da Comissão Europeia. Num relatório recente, os especialistas preveem que, nos próximos quatro ou cinco anos, o ensino mais personalizado vai ser uma realidade.
No que diz respeito à tecnologia no ambiente escolar, Vânia Neto, responsável pela área de Educação da Microsoft Portugal, refere que a combinação da utilização de "dispositivos móveis", como tablets, e da cloud é um dos caminhos para o futuro da educação.
António Gonçalves, professor de Biologia e um dos coordenadores do projeto na escola de Oeiras, acredita que este "está no bom caminho" e é já capaz de identificar uma das grandes vantagens da utilização dos tablets: a comunicação dentro da sala de aula. De acordo com o docente, estes dispositivos permitem mesmo inverter os papéis na aula, na medida em passam a ser os alunos a pesquisar sobre um determinado tema e a falar sobre ele.
Para já, a principal crítica feita por alunos e professores centra-se nos conteúdos disponíveis. Carlos Lopes, professor de Português, admite que estes "ainda estão aquém do que se desejaria", e Filipa Castelão, aluna do 12.º ano, refere que "os ebooks têm que ser mais evoluídos".
Tecnologias de vanguarda
José Pinto, business manager da EDIGMA, considera que as mesas digitais multitáctil (vários utilizadores ao mesmo tempo) "são um caminho inevitável para os próximos 10 a 15 anos, dependendo do nível de investimento". Contudo, adverte que tem que ser criado um "modelo de negócio com um ciclo de renovação financeiramente ajustado", devido à rapidez com que a tecnologia fica ultrapassada.
Já António Câmara, CEO da YDreams, acredita mesmo que as tecnologias como a realidade virtual e a realidade aumentada "vão estar todas presentes de diferentes formas nas nossas vidas e nas nossas escolas".
Rosalia Vargas, presidente da Ciência Viva, também sublinha que "as tecnologias de comunicação são ferramentas indispensáveis": "O maior benefício que a tecnologia trará à educação é, sem dúvida, a possibilidade de se aprender quando e onde se quiser. É essa a verdadeira mudança."
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