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Resíduos eletrónicos são mina de materiais críticos só aproveitados a metade

Indica a análise que a Europa pode recuperar mais dos materiais essenciais, melhorando a recolha, o design e a reciclagem de REE.

13 de outubro de 2025 às 23:15

Os resíduos elétricos e eletrónicos (REE) da Europa disponibilizam anualmente um milhão de toneladas de matérias-primas críticas, essenciais para alimentar as novas tecnologias verdes, infraestruturas digitais ou defesa, mas só metade é aproveitada, indica um relatório publicado esta segunda-feira.

A análise tem em conta os REE como computadores, telefones, cabos ou eletrodomésticos dos 27 países da União Europeia (UE), Reino Unido, Suíça, Islândia e Noruega (UE27+4), que contêm cerca de um milhão de toneladas de matérias-primas críticas "disponíveis" em cada ano.

No entanto, segundo o relatório "Perspetivas de Matérias-Primas Críticas para Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos", que usa dados de 2022, das 10,7 milhões de toneladas de REE gerados (20 quilos por pessoa) apenas foram recolhidas e tratados adequadamente e em conformidade com os regulamentos da UE 5,7 milhões de toneladas, ou seja 54%.

Indica a análise que a Europa pode recuperar mais dos materiais essenciais, melhorando a recolha, o design e a reciclagem de REE.

O relatório foi feito pelo consórcio FutuRaM, financiado pelo programa Horizonte Europa, da União Europeia e é publicado um dia antes do Dia Internacional do Lixo Eletrónico, que se assinala na terça-feira.

Os REE contêm, em termos gerais, 29 matérias-primas críticas, totalizando um milhão de toneladas em 2022. Como só pouco mais de metade dos REE foram tratadas de forma correta, terão sido recuperadas 500.000 toneladas de matérias-primas críticas.

Dessas, perderam-se cerca de 100.000 toneladas, principalmente elementos de terras raras em ímanes e pós fluorescentes, pelo que no final só se recuperou 400.000 toneladas de matérias-primas críticas.

Neste valor incluíam-se 162.000 toneladas de cobre, 207.000 toneladas de alumínio, 12.000 toneladas de silício, 1.000 toneladas de tungsténio e duas toneladas de paládio.

Segundo um comunicado sobre o relatório, da responsabilidade da Fórum WEEE, uma associação de organizações ligadas ao desperdício eletrónico, as grandes perdas acontecem com as 3,3 milhões de toneladas misturadas com sucata metálica, as 700 toneladas de REE para aterros ou incineradas, ou as 400 toneladas exportadas para reutilização.

Para 2050 a perspetiva é que haja mais resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos, estimando-se no relatório que passe dos 10,7 milhões de toneladas de 2022 para um valor entre 12,5 e 19 milhões de toneladas anuais (UE27+4).

Quanto à quantidade de matérias-primas críticas incorporadas neste fluxo, deverá aumentar de cerca de um milhão de toneladas de 2022 para entre 1,2 e 1,9 milhões de toneladas por ano até 2050.

Consoante as escolhas políticas poderão ser recuperadas entre 0,9 e 1,5 milhões de toneladas por ano até 2050.

Os responsáveis pelo estudo frisam a importância da circularidade, que reduz a pressão ambiental, diminui o risco de fugas perigosas e garante que a Europa tem uma fonte resiliente de metais como cobre, alumínio e paládio.

As matérias-primas críticas estão presentes na vida diária das pessoas, desde o cobre em cabos e placas aos metais do grupo platina em placas de circuito.

Em menor quantidade, mas mais caros, o paládio, neodímio, disprósio, tântalo, gálio e outros são usados em computadores portáteis, ecrãs táteis, secadores de cabelo, berbequins elétricos, comandos de jogos e dispositivos médicos.

A Comissária Europeia para o Ambiente, Resiliência Hídrica e Economia Circular Competitiva, Jessika Roswall, citada no documento, afirmou: "A Europa depende dos países terceiros para mais de 90% das suas matérias-primas essenciais, mas reciclamos apenas 1% delas. Precisamos de uma verdadeira mudança de mentalidade na forma como a Europa recolhe, desmonta e processa esta montanha de lixo eletrónico em rápido crescimento, transformando-a numa nova fonte de riqueza".

E Kees Baldé, do FutuRaM : "O lixo eletrónico da Europa não é lixo, é um recurso multibilionário à espera de ser explorado".

Magdalena Charytanowicz, do Fórum WEEE, diz que o Dia Internacional do Lixo Eletrónico serve para recordar que a circularidade começa em casa: "Cada telefone guardado numa gaveta, cada eletrodoméstico avariado guardado numa garagem e cada cabo deitado para o lixo representa valor perdido e uma oportunidade perdida de manter matérias-primas essenciais em circulação".

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