Brincando em serviço

Por que será que os miúdos estão a preferir as ‘séries’ aos desenhos animados? A Disney acaba de se empoleirar no cocuruto do top dos canais mais vistos da TV paga – o Cartoon Network liderava desde 2002.

19 de julho de 2009 às 00:30
Brincando em serviço
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A programação do Disney Channel é quase toda de séries com ‘pessoas reais’ (‘Hannah Montana’, ‘Hotel, Doce Hotel’, etc.) O tema é fascinante e juro pela vossa avó que voltarei a ele. Mas acontece que, recentemente, entraram em vigor, em vários países, normas éticas para a propaganda dirigida a crianças.

Tais normas condenam o apelo imperativo do consumo orientado directamente à infância (nas Amoreiras, até outro dia havia uma loja: O Pai Dá – credo, como eu a odiava!). O código também combate "a noção de que o consumo proporciona superioridade ou inferioridade". Claro que se perpetraram crimes horríveis em nome da ética, mas duvido que o laxismo ou a permissividade sejam o remédio.

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O mundo contemporâneo parece subscrever Stendhal: "Um filho é um credor enviado pela natureza." E nem umcredor tão infantil. No Canal Panda, miúdasde dez anos (sou péssimo a calcular idades,especialmente a minha), vestidas como odaliscas num serralho, bamboleiam-se em gingas concupiscentes, a venderem CD.

Inúmeros anúncios, para a mesma faixa etária, apregoam ‘fábricas de jóias’, maquilhagem, vernizes para as unhas.Enfim: as meninas já não brincam às casinhas, com tachos e fogões de faz-de-conta. Passaram de fadinhas-do-lar a dondocas e cortesãs (não admira que as jovens de hoje, como os marmanjos de sempre, não saibam estrelar um ovo). Culpa de Freud, que sexualizou a criança e a chamou "o pai do homem"? Claro que as pestinhas não são nem nunca foram querubins (algumas são mais chatas do que o canal Parlamento). Mas Freud jamais disse que a psique infantil era igual à dos adultos. Em tais anúncios, a publicidade porta-se como a proxeneta de uma sociedade pedófila. A contrapartida é a obsessão dos adultos, de serem adolescentes vitalícios.

Não sou totó e percebo, por exemplo, por que os hipermercados metem rebuçados ao pé das caixas registadoras. E que as quinquilharias hodiernas dispensam a criatividade – basta-lhes colar o rótulo de NOVO! (suponho que até já haja ábacos ‘novos’). Mas não haverá limite para este suborno entre pais e filhos? Bolas, se a felicidade existe (não ponho a minha mão no fogo), é a certeza de sermos amados – apesar de sermos como somos.

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