BRUNO NOGUEIRA: NÃO SEI QUANDO PARAR
Aos 21 anos, Bruno Nogueira tem alcançado um sucesso que nem ele esperava. Apresentador do 'Curto Circuito', na SIC Radical, e humorista do 'Levanta-te e Ri', na SIC, é cómico por natureza, mas assume-se sobretudo como actor. Sem limites.
- Correio da Manhã – Quando escolheu ser actor/comediante?
Bruno Nogueira – Quando acabei o 12. º ano, tinha que pensar se ia para a faculdade mas decidi que ia fazer teatro. Os meus pais adoraram... [risos] Já sabia que ia entrar em divergência com eles mas, sabendo disso, ainda mais me apeteceu [risos]. A minha irmã (Marisa) foi das poucas pessoas que me apoiou realmente. Ela foi modelo e percebe o que é escolher uma profissão destas. Quando é uma mulher parece que diz: "Quero ir para p..." Se for um homem, é como se fosse um chulo, ou drogado. [risos] Mas agora os meus pais apoiam-me incondicionalmente.
– Sente-se actor ou comediante?
– Sou actor. Se tivesse que ficar só com uma profissão era a de actor, incontestavelmente. Mas não há uma área de que goste mais. Adoro o meu trabalho de apresentador no 'Curto Circuito' (SIC Radical), em que sou 'entertainer'/parvo; o 'Levanta-te e Ri' (SIC) dá-me oportunidade de fazer os meus textos, expôr os meus pontos de vista e mostrar o meu material... Salve seja! [risos]
– Imagina-se num papel com maior intensidade dramática?
– Sim. Detesto rótulos e agora estou marcado pela comédia e dificilmente me vou descolar. Mas gostava de tentar outros estilos.
– Fazer rir é um estado de espírito ou uma obrigação profissional?
– As pessoas ou nascem cómicas e parvas ou não. Não se pode aprender a ser engraçado, senão soa a falso. Nunca levo nada a sério. Às vezes vejo situações ridículas de pessoas que se levam demasiado a sério. Na minha cabeça é tudo muito mais simples.
– A comédia está muito em evidência. Porquê?
– O 'Levanta-te e Ri' trouxe dezenas de novos humoristas e a moda da 'stand up comedy' para Portugal. Não existia nada assim, o grande público não conhecia e os novos talentos não tinham oportunidade de se mostrar.
– O Marco Horácio [que o convidou para o 'Levanta-te e Ri'] diz que o Bruno é uma das suas referências na 'stand up comedy'...
– Ai ele diz isso? (pausa) Nem sabia. É muito bom. Ele é das pessoas mais profissionais que eu conheço... [risos] Isto agora vai parecer uma troca de galhardetes. É um excelente humorista e é também uma referência para mim. Ele é a cara da nova geração de humor.
– Que outras referências tem?
– Evito ver outros 'stand up comediants' porque detesto colagens e tenho medo de depois tentar importar o estilo para Portugal. Odeio plágios e já vi muitos e acho decadente copiar material de outras pessoas.
– Então onde se inspira?
– No dia-a-dia, em coisas que muita gente pensa e não diz por pudor. Eu digo o que penso, atiro tudo cá para fora. Quando escrevia textos com o Marco Horácio, ele era como um filtro mais velho - "Oh, Bruno, isso é engraçado, mas tens a noção de que se disseres isso em televisão acabas de trabalhar amanhã? É só para te avisar" [risos]. A mim não me preocupa muito se as pessoas de quem falo ficam ofendidas. Se o público se ri é porque se identifica. Tem que se jogar com o que se sabe que as pessoas pensam mas não dizem.
– E o reconhecimento, sente que o seu nome já é popular?
Sim, é inevitável. A televisão é absolutamente potente. Eu não sei lidar com isto. Quando passa uma pessoa e olha para mim, não sei reagir, fico com tiques... (risos) Parece que estou a ser julgado ao segundo. Se antes entrasse num bar e partisse um copo, era maluco; agora se o fizer sou vedeta.
– Rir é mesmo o melhor remédio?
– Para tudo. O Marco Horácio disse-me que gostava que eu fizesse 10 minutos de 'stand up comedy' no funeral dele. Não sei se conseguiria, mas rir é mesmo remédio para quase tudo. Lembro-me uma vez quando era miúdo em que estava com um amigo meu e o pai dele estava a dar-lhe umas chapadas. E eu pus-me atrás e ainda o fazia rir mais. O meu amigo ria e apanhava cada vez mais. Isto é mau de contar, mas pelo menos ele levava estalos a rir. Eu não sei quando parar. Esqueço-me dos limites e desligo.
Aos 18 anos, apostou no teatro, fez um curso no Instituto de Artes do Espectáculo (IAE) e logo depois entrou para a Arte 6, uma escola de actores. No final, rumou ao Brasil para ingressar num curso da Globo. Regressado a Lisboa protagonizou 'Lata', uma peça que, depois da Arte 6, subiu ao palco no Teatro da Barraca e ainda no Auditório Carlos Paredes. Entretanto, recebeu um convite para ser actor da 'produtora de piadas' Produções Fictícias. As peças cómicas 'Jardins de Inverno' e 'Manobras de Diversão' – que volta à cena em Dezembro ao Teatro de São Luiz, em Lisboa – surgiram entretanto, seguiu-se o convite para o 'Levanta-te e Ri', no início deste ano, e agora também como co-apresentador do programa da SIC Radical 'Curto Circuito'.
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