“Estive na moda por dinheiro, não porque queria ser top model”

É portuense de gema e veio a lisboa iniciar-se na representação. Aos 31 anos, a manequim e nutricionista exibiu a sua sensualidade numa revista masculina

05 de julho de 2013 às 17:25
andreia teles, televisão, destinos cruzados Foto: Bruno Colaço
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Como está a correr a sua estreia na representação em ‘Destinos Cruzados’?

No começo foi assustador, mas estou a gostar muito. Quando a novela arrancou a personagem não estava para ser tão complexa. A Victória estava destinada a ser apenas uma mulher fútil, mas agora vai ter problemas com o álcool, a droga...

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O que foi mais assustador nesta nova experiência?

Foi ter chegado sem bagagem de representação e integrar um elenco com grandes atores que me habituei a ver na televisão. Mas não me faltou apoio, sobretudo dos atores do meu núcleo. Todos me ajudaram.

Como foi o exercício de memorização de textos?

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Temos sempre receio de não conseguir memorizar as falas, mas o nosso cérebro é uma máquina, adapta-se a tudo. Foi gradual e hoje já decoro imensos textos.

E como foi beijar um desconhecido?

Essas situações mais íntimas custam bastante. Mas tenho me apercebido de que por muitos anos de experiência que se tenha é sempre desconfortável. No começo achava que estas cenas só eram difíceis para os ‘maçaricos’...

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Como veio parar aos castings da Plural?

Há muito tempo que fazia algumas participações especiais para a Plural, coisas pontuais. Em 2010 fiz um workshop, mas nunca tinha sido chamada para um casting para personagem. Aconteceu e vim na desportiva. Encontrei mulheres maravilhosas, manequins e caras conhecidas. Correu bem e acabei por ser apurada.

É difícil lidar com o lado obscuro da personagem, que sofre uma overdose?

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É, porque nunca na minha vida tive contacto com os sentimentos de raiva, desalento e depressão provocados pelo álcool e a droga. Mas os textos estão muito bem escritos e ajudam-me imenso a interpretar a personagem.

Como foi visionar as suas primeiras cenas?

No começo custou um bocadinho. Não estamos habituados a ver-nos representar e só encontramos defeitos. Agora já tenho mais distanciamento e consigo ver o que está menos bem e o que posso corrigir.

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Esta novela apostou muito na sensualidade feminina. Que acha da opção?

A novela começou com essa faceta, mas agora a feminilidade está mais sóbria. Não tem cenas fortes. Fez-se muito show off à volta disso.

As mulheres do Norte estão bem representadas nesta novela...

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É verdade. Temos imensas mulheres do Norte a fazer TV. E há outros que pensamos ser de Lisboa porque já cá estão há muitos anos, como o Adriano Luz.

Não se dá pelo seu sotaque...

Só numa situação mais emocional, como uma discussão, não o consigo disfarçar. E tenho algum controlo por parte da direção de atores. Mas achava piada fazer um papel a assumir mais o meu sotaque.

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Já a reconhecem na rua?

Às vezes. E muitos ficam na dúvida se serei eu ou não, uma vez que no dia a dia visto-me de maneira completamente diferente da minha personagem. Mas a abordagem no Porto é muito emotiva. As pessoas ficam muito orgulhosas por verem alguém da sua cidade na novela.

A Andreia continua a trabalhar como manequim?

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Ainda me aparecem alguns trabalhos. Há muitos anúncios para mulheres da minha idade e cada vez mais existe o conceito de não quererem manequins em anúncios, as marcas acham que é negativo, uma vez que as consumidoras não se identificam com aquelas mulheres. Hoje pretende-se mulheres mais reais.

Em que idade termina, em Portugal, a carreira de um manequim?

Com a minha idade está mais do que terminada. As mulheres, por norma, param de trabalhar aos 25 ou 26 anos. Os homens têm uma carreira mais duradoura, podem chegar aos 40 e tal anos.

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Isso não é discriminatório?

Faz sentido, porque a moda exige uma mulher muito magra, com ar angelical ou andrógino, e as mulheres, a partir de certa idade, começam a ganhar mais formas. Já não é assim com o homem que funciona mais comercialmente. Quanto mais idade tiver, mais charme adquire. E trabalham mais depois dos 30 anos do que quando têm menos idade. Todavia, a nível de anúncios, as mulheres continuam a trabalhar até tarde.

Ser manequim implica ter muitas regras de vida?

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Sim. Mas a parte genética: ser alta, magra, é a mais importante. Quando me iniciei na moda ouvi muito a frase: "A mulher é que tem de caber dentro da roupa".

Com que idade se estreou?

Com 17 anos, mas hoje em dia há meninas a iniciarem-se com 14 e 15 anos.

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É muito cedo?

Hoje em dia as gerações amadurecem mais cedo. Aos 17 anos era mais inocente do que miúdas de hoje com 15. E até o corpo ganha formas mais cedo. Mas antes dos 18 anos é cedo. Jamais deixaria a minha filha entrar na moda com 14 ou 15 anos, porque este universo pode ser muito bom, mas também assustador. E se a jovem tiver um bom volume de trabalho, a moda vai interferir com os estudos. É preciso saber gerir isto tudo e, hoje em dia, vê-se mais pais iludidos do que os filhos, porque sabem que o mundo da moda abre muitas portas.

Os manequins portugueses estão bem posicionados no Mundo?

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Cada vez mais vemos portugueses no estrangeiro, mas é preciso muito estofo porque o universo de trabalho é super- competitivo. Nunca tive esse espírito. Nem nunca me passou pela cabeça tentar uma carreira lá fora. Estive na moda por dinheiro, não porque queria ser top model!

Fale-nos da experiência como apresentadora e do ‘Sempre a Somar’ (TVI).

Comecei no Porto Canal onde fiz ‘Brinquedos de Luxo’, onde só se falava dos objetos mais caros do Mundo. Foi um projeto muito engraçado. Seguiu-se o ‘Sempre a Somar’, na TVI.

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Foi difícil manter-se em direto, horas a fio, a convencer o público a telefonar?

Foi das coisas mais difíceis que fiz na vida. Era um direto a falar de nada. O conceito inicial era interessante, mas o programa acabou por não ser assim. Comecei a fazer parceria com o Manuel Melo. E depois apareceu outra dupla para nos revezar, uma vez que andávamos exaustos. Mais tarde, a TVI optou por colocar as mulheres sozinhas a apresentar. Após seis ou nove meses fiquei esgotada. Nunca fui noctívaga e o programa começava às três da manhã e acabava às cinco.

Onde se sente mais à vontade, na apresentação ou na representação?

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São coisas diferentes. A representação dá-me um gozo tremendo, porque me obriga a sair da minha zona de conforto. É muito bom testar-nos. Mas também gosto muito da apresentação, sou mais eu. E se numa situação ignoramos a câmara, noutra temos de falar para ela.

Depois fez ‘Portugal Low Cost’ para a Academia RTP?

Juntei-me a duas amigas para o projeto ‘Portugal Low Cost’, que foi aprovado e concretizado por nós. Em 2011 e 2012 estivemos com a Academia RTP a fazer esse programa sobre viajar com pouco dinheiro. Os circuitos eram feitos de carro e pesquisámos os locais mais baratos para pernoitar, comer… Fizemos guião, orçamentos... Foi um megadesafio, que me marcou muito.

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Foi capa da ‘Maxim’ em maio. Foi a primeira vez que fez este tipo de trabalho?

Para uma revista masculina sim. A experiência foi muito gira. Tive uma reunião com o diretor da revista e disse-lhe que se fosse dentro de um perfil de moda, uma coisa bonita e nada provocadora, a faria. Correu tudo muito bem e gostei do resultado final.

Aceitaria voltar a fazer um desafio idêntico?

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Dentro do mesmo registo, sim.

Que ganha uma atriz ou manequim com um trabalho destes?

Na minha idade é estranho fazer uma capa para uma revista masculina. Aos 31 anos nunca estamos à espera. Mas é um mimo para o nosso ego. E, em termos profissionais, nunca trabalhei muito esta vertente. Mas foi uma experiência engraçada.

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