Fazer o que gosto dá-me boa energia

Vinte e um anos depois de começar a apresentar música e a ler notícias aos microfones da Rádio Clube da Parede, a ‘menina da Linha’ faz furor na TV. Clara de Sousa, pivô do ‘1.º Jornal’ da SIC, vai agora estrear-se como jurada no programa de entretenimento ‘Família Superstar’.

31 de agosto de 2007 às 00:00
Fazer o que gosto dá-me boa energia Foto: Vítor Mota
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- Que caminho trilhou como jornalista, desde a rádio até chegar a pivô do ‘1.º Jornal’?

- Comecei com 19 anos no Rádio Clube da Parede, na altura das rádios piratas. Fazíamos um programa com música. Poucos meses passaram até começar a ler notícias, porque, na altura, o director da rádio achou que eu tinha uma boa voz. Comecei a acumular as duas funções, sem ter definido muito bem o que queria.

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- Quais eram as outras opções?

- Entrara para a Faculdade há pouco tempo e queria ser professora de Português e de Inglês. Arádio era uma brincadeira. Mas a verdade é que já lá vão 21 anos desde que tudo começou… Até 1992, altura em que pedi a minha carteira profissional, há 15 anos, acumulei as duas funções. Tanto lia notícias como apresentava. Na fase mais avançada da Rádio Marginal, como rádio legalizada, já era a sério. Comecei a escrever notícias, a fazer reportagem, programas… trabalhava das sete da manhã às cinco da tarde, ‘non stop’. Acumulei várias funções até que, na altura, o meu director me convidou para ser directora de Informação da Rádio Marginal. Foi-me, então, atribuída carteira e tornei-me jornalista profissional. Tinha de prescindir de algo e o jornalismo era o que me preenchia mais.

- Qual o programa de música que mais gostou de apresentar?

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- O ‘Sonho Americano’, que passava blues, soul music, vozes negras… É o meu género.

- Na altura imaginava-se pivô de televisão?

- Bem, ainda estava na rádio, em 1991, e já fazia um programa de televisão. Fui convidada pela RTP para apresentar ‘É Desporto’, sobre desportos radicais. Era pivô desse programa e também fazia reportagens. Foi a minha primeira impressão em televisão. Mas não me passava pela cabeça, na altura, vir a ser pivô de noticiários em TV, quando o eram Henrique Garcia, José Eduardo Moniz e outras grandes referências da Informação. Até que, no final de 1992, surgiu na Rádio Marginal o convite da TVI a pedir repórteres.

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- Como foi seleccionada para a TVI?

- Os consultores norte-americanos que testavam as pessoas pediram-me para improvisar sobre uma matéria e, agradados com a minha prestação, disseram: ‘Ela vai para pivô’. Acabei por ser o pivô do primeiro noticiário da TVI, em Fevereiro de 1993.

- Como se prepara para apresentar os noticiários?

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- É muito stressante, mas, quem tem treino de rádio, com noticiários de hora a hora ou, até, como na Rádio Marginal, de meia em meia hora, acaba por o fazer facilmente. É mais difícil para quem vem dos jornais, habituado a um dia inteiro para preparar uma notícia. O ritmo da televisão não me deixou impressionada. No noticiário da manhã começamos cedo. Mas há quem comece mais cedo do que eu, para ir para a rua fazer reportagens. O ‘1.º Jornal’ é mais stressante do que o ‘Jornal da Noite’, em termos de gestão do tempo. Temos de fazer muito trabalho em muito pouco tempo, às vezes com os repórteres a chegarem com as propostas das reportagens já durante o jornal. A partir das 11h30 ou meio-dia, começo a escrever verdadeiramente o que vou dizer no noticiário. Por vezes, falamos de improviso, porque nem dá tempo de escrever. O pivô tem de estar sempre preparado para o improviso e ser conhecedor do assunto que o repórter foi fazer. Ou seja, só respiramos fundo quando o noticiário chega ao fim.

- Então, prefere o horário da noite?

- Gosto de todos os horários. Nessas coisas, sou muito metódica e acho que temos de ser profissionais. Temos de pensar: ‘Onde é que a empresa mais precisa de mim?’ E estar onde é preciso. Já me aconteceu fazer, no mesmo dia, o ‘1.º Jornal’ e o ‘Jornal da Noite’. Mas são situações pontuais, em que, por exemplo, alguém adoece. Neste momento, faço o ‘1.º Jornal’ e, esporadicamente, o ‘Jornal da Noite’.

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-Como faz, quando algum tema a impressiona, para controlar as emoções?

- Nalguns casos, é-nos muito difícil controlar as emoções. Temos de fazer um grande esforço, sejamos pivôs homens ou mulheres. Às vezes, vamos buscar forças nem sei onde! Acho que é cá dentro. Temos de ter um grande arcaboiço, caso contrário levamos aquele peso todo para casa. Temos de saber filtrar essas coisas! Às vezes, falta-me a distância emocional de que precisava.

- Houve um momento particularmente marcante?

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- Foi o caso do recente acidente de avião no Brasil. Eu sabia que uma das vítimas era irmão de um colega e eu não o podia ainda dizer aos telespectadores. Obviamente que transparece sempre alguma emoção quando há uma grande tragédia. As pessoas não sabem como isso mexe pessoalmente comigo... Foi também o caso da queda da ponte em Castelo de Paiva. Um jornalista tem de ser uma pessoa forte, porque pode acontecer-lhe ver muita coisa, mas tem de ganhar forças e seguir em frente. O objectivo é fazer o trabalho. O melhor que pode!

- A Clara transmite uma energia muito positiva. Há algum segredo para isso?

- É adorar o que faço, o meu trabalho. Acho que a resolução para todas as frustrações laborais que há no mundo seria as pessoas, de facto, fazerem aquilo de que gostam. A partir daí, essa energia está sempre lá. E é só isso, não há segredo nenhum. Gosto muito do que faço.

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- A SIC é muito forte na informação e na reportagem. Às vezes, apetece-lhe sair em reportagem?

- Já fiz algumas coisas, como a primeira grande entrevista a José Mourinho depois de ele ir para Inglaterra, em que mostrou a sua faceta mais simpática . Mas sair em trabalho, sobretudo para grandes reportagens, implica ausentarmo-nos mesmo. E a casa não pode prescindir assim dos pivôs. Até porque nós temos repórteres que o fazem maravilhosamente bem.

- Vai haver uma remodelação na redacção da SIC e novas plataformas multimédia. Será um grande desafio para os jornalistas?

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- Claro que sim, sobretudo porque está a tentar-se, com os mesmos recursos e as mesmas pessoas, fazer mais e gerir melhor toda a componente técnica e humana que a redacção tem na SIC e na SIC Notícias. Tanto o Carlos Rodrigues como o Rodrigo Guedes de Carvalho [que vão integrar a Direcção de Informação] vão ser dois pilares para conseguir tirar o que de melhor a redacção tem, em termos de gestão das pessoas, do tempo, das reportagens e da distribuição do que é feito. Daí o papel das multiplataformas, de rentabilizar o que se faz.

- Acha que se pode esperar alguma melhoria nas audiências da SIC, que têm vindo a descer?

- No meu caso, no ‘1.º Jornal’, temos tido audiências bastante boas. Nalgumas semanas, conseguimos ganhar, andamos sempre muito próximos da RTP, às vezes à frente. Temo-nos batido bem! E acredito que as coisas vão melhorar. Eu sou uma optimista por natureza!

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- A SIC não tem boas audiências, mas atinge bons ‘targets’ (alvos) comerciais. Isso reduz as preocupações da estação?

- A nível comercial, até é mais vantajoso para a SIC ter o ‘target’ comercial do que o universo geral das audiências.

- A Clara vê alguma telenovela?

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- Vejo. A ‘Vingança’. Desde o primeiro episódio.

- O que mais a prende à TV a nível de entretenimento?

- Gosto de um bom concurso. Desde criança. E de programas de talentos, como o ‘Ídolos’.

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- Vai ser membro do júri em ‘Família Superstar’. É uma experiência inédita para si?

- Nunca participei num júri e acho que vou, basicamente, ser eu própria e aplicar critérios de qualidade em termos vocais. Sei cantar, sempre o fiz, e sei reconhecer uma boa voz. É um misto de trabalho e prazer neste programa. Além disso, o jornalista é, por natureza, um júri da actualidade, da realidade que o rodeia. Afinal, todos os dias seleccionamos as notícias que vão para o ar e muitas têm de ficar de fora. A confiança do Pedro Costa [subdirector de Programas da SIC], que criou este formato original e me convidou, é, para mim, muito importante. Ele respeita-me e acha-me uma jurada credível.

- Vai cantar durante o programa?

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- Não, não, só na brincadeira! Fi-lo nas promoções dos spots da carrinha ‘Pão de Forma’. Aí cantei um bocadinho. Posso dizer que, até aqui, na selecção das famílias, divertimo-nos imenso e acho que isso vai passar para o público.

- Na sua opinião, ‘Família Superstar’ pode concorrer com uma ‘Operação Triunfo’?

- Sim! Mas o maior júri vai ser o público.

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- Encara enveredar pelo entretenimento?

- Gosto desta experiência, mas nunca me passaria pela cabeça seguir carreira por aí. Continuo a apostar, como sempre, e essa é que é a minha vida, no jornalismo! É o que faz sentido para mim. Por isso, nem sequer é um desvio de caminho. Digamos que é um part-time de Verão.

- Como lidam os seus filhos, o Manuel e a Maria, com a exposição pública dos pais?

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- Estão habituados desde que nasceram. Não ligam absolutamente nada.

- Vê-se muita televisão em sua casa?

- Alguma. Por exemplo, os meus filhos são fãs de ‘Chiquititas’ [SIC] e do canal Panda.

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APRESENTA 'JORNAL DA NOITE’ ATÉ AO DIA 15 DE SETEMBRO

A pivô do ‘1.º Jornal’ da SIC anunciou à Correio TV que substitui, a partir de amanhã, e até 15 de Setembro, Rodrigo Guedes de Carvalho no ‘Jornal da Noite’

A PAUSA: “SÃO UMAS FÉRIAS MEIO A TRABALHAR"

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“Tenho férias na Informação, mas como tinha trabalho para ‘Família Superstar’, consegui ter uma semana com os meus filhos fora de Lisboa. Depois, passaram uns dias com o pai e eu aproveito para fazer o resto da selecção das famílias” que vão ao concurso da SIC, diz Clara de Sousa. “São umas férias meio a trabalhar, mas tenho muito tempo para descansar”.

Clara de Sousa tem 39 anos e é natural do Estoril. Foi casada com Francisco Penim, director de programas da SIC, de quem tem dois filhos, Manuel, de 11 anos, e Maria, de oito. Começou a trabalhar no Rádio Clube da Parede aos 19 anos. Jornalista profissional desde 1992, é pivô do ‘1.º Jornal’ e, às vezes, do ‘Jornal da Noite’, na SIC.

‘FAMÍLIA SUPERSTAR’

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O formato original da SIC começa pelos castings e ‘cromos’. As galas virão depois.

Formato: Talent show

Estreia: 2 de Setembro

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Canal: SIC

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