Pormenores do caso ‘Face Oculta’ revelados em livro de ex-diretor da PJ de Aveiro

Inspetor Teófilo Santiago colocou, com o jornalista Eduardo Dâmaso, as suas memórias sobre o caso na obra 'Escutas'.

28 de maio de 2024 às 12:49
Inspetor Teófilo Santiago colocou, com o jornalista Eduardo Dâmaso, as suas memórias nesta obra Foto: José Gageiro
José Sócrates foi apanhado em 11 escutas telefónicas Foto: Inês Gomes Lourenço

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Deveria chamar-se ‘Amigo dos Amigos’, mas ficou conhecido como caso ‘Face Oculta’. Foi um dos processos que mais abalou o País e cuja investigação foi liderada por Teófilo Santiago, então diretor da PJ de Aveiro. Memórias que deram origem ao livro ‘Insubmisso’, que tem como coautor o jornalista Eduardo Dâmaso, e onde são relatados os bastidores deste e de muitos outros casos. São excertos que o Correio da Manhã revela esta semana.

"O telemóvel tocou e foi um Sócrates apático que recebeu Vara com uma metáfora sobre os resultados eleitorais. Queixou-se do "murro no estômago" dado pelos eleitores, o que permitiu um breve momento de humor a Armando Vara, corrigindo a leitura do seu amigo : «No estômago? Foi mais um murro nos tomates!». Sócrates acrescenta mesmo: "Foi um pontapé nos tomates". Nesta tarde de 13 de junho, foi a primeira vez que o então primeiro-ministro e líder do PS surgiu nas intercepções telefónicas do processo ‘Face Oculta’", descreve Eduardo Dâmaso no livro, que será apresentado quinta-feira na Feira do Livro de Lisboa por João Miguel Tavares, e a 20 de junho em Aveiro.

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O caso ‘Face Oculta’ investigava em 2009 o favorecimento a empresas de Manuel Godinho. Logo se percebeu que estava também em curso uma tentativa de controlo da comunicação social, que passava pelo negócio PT/TVI e no qual o nome de Sócrates foi logo mencionado. "As referências ao ‘chefe’ são múltiplas. Há uma preocupação permanente de Armando Vara em acompanhar os passos da operação, e as recomendações para que ‘a coisa’ fosse feita de forma discreta, de maneira a evitar que se tornasse conhecido o interesse de Sócrates no negócio, são reiteradas", conta o inspetor.

Os factos deram origem a uma chamada "extensão procedimental". As 11 escutas foram destruídas em 2010. "Tratou-se de um procedimento administrativo, que ninguém sabe o que é, e que serviu apenas para o procurador-geral da República, cortar cerce a investigação que tanto o incomodava", recorda Teófilo Santiago.

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Os resumos das conversas do negócio PT/TVI constam no livro. A imprensa era um alvo. "Rui Pedro diz que há outro ativo que está à venda, mas que esses não podem ser eles a comprá-lo : ‘O Correio da Manhã’. Armando Vara diz que isso compra-se", lê-se.

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