Reuniões secretas

A manhã começa cheia de fumo na sala de uma biblioteca de Lisboa. À mesa, oito homens de fato e gravata fumam charutos, bebem uísque. Sente-se a tensão dos poderosos. Na verdade, a de ‘Corrupção’, é de noite, num palacete algures fora da cidade, e a cena tresanda a conspiração.

18 de agosto de 2007 às 00:00
Reuniões secretas Foto: Bruno Colaço
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O décor é imponente, mais parece um centro de estratégias militares. Aqui não se discute ataques mas sim esquemas de defesa. O processo ‘Envelope Chinês’ já arrancou e o ‘empresário’ (João Ricardo), o ‘inspector amigo’ (José Raposo), o ‘vice-presidente’ (Virgílio Castelo), o ‘presidente dos árbitros’ (Miguel Guilherme), o ‘juiz-presidente’ (Ruy de Carvalho), o ‘Almirante’ (José Eduardo), o ‘presidente’ (Nicolau Breyner) e o seu ‘advogado’ (André Gomes) têm de delinear uma nova estratégia de acção.

Comenta-se os “métodos”, fala-se de escutas, de árbitros, de juízes, de empreiteiros... Soltam-se piadas machistas sobre “orientações sexuais”. Mas o tom do encontro é sério; afinal, “os tempos são outros”, como diz o ‘juiz-presidente’, muito bem (des)penteado, a lembrar Lourenço Pinto, também referido no livro ‘Eu, Carolina’, que inspira a trama de João Botelho.

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“Vou fazer uns planos-extra”, avisa o realizador. A câmara vai trocando de posição, de um lado para o outro da mesa, concentrando-se em núcleos distintos de actores. São mais imagens de rostos, mais expressões e reacções aos diálogos em curso, planos que podem revelar-se essenciais para imprimir mais ritmo à acção na fase de montagem do filme.

“Que grupo de académicos!”, brinca André Gomes, fora de cena, fitando a conversa que a câmara fixa em Ruy de Carvalho, José Eduardo e Nicolau Breyner.

O diálogo, agora, obriga a atenção redobrada. “Ficaremos a saber o que bebem, quanto bebem, o que comem e com quem comem”, diz o ‘Almirante’. Pausa para risota. “Quem comem?”, ironiza Breyner. A frase não é fácil, dá origem a enganos, mas há-de sair na perfeição. “Que sorte, tenho tão bons actores!”, diz Botelho.

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Mais à tarde, num tempo diferente – logo no início do filme –, a cena a rodar reporta a uma época de maior liberdade em que os proveitos do futebol são ‘lavados’ pelas mãos de um ‘banqueiro’ (António Cid), numa troca de números, juros que o ‘presidente’ quer sempre mais altos.

Nicolau Breyner e André Gomes são actores mas bem podiam ser... tenores. Numa pausa entre a rodagem de cenas, os dois prolongaram para fora do ‘set’ a cumplicidade das suas personagens e foi vê-los (e ouvi-los) a cantar. ‘Tosca’ foi a ópera escolhida pelos dois exímios tenores e o realizador João Botelho não resistiu à actuação inesperada: “Vou pôr-vos a cantar no filme”.

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