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"A televisão não é o centro das nossas vidas"

Após 12 anos de ausência regressou ao pequeno ecrã, no TVI24. Casada com Luís Marinho, administrador da RTP, Paula Magalhães diz que o trabalho não interfere na vida privada

12 de junho de 2009 às 00:00

Que balanço faz das 15 edições de ‘Portugal, Português’ que já apresentou no TVI24?

São muito positivas, principalmente pelo feed-back que tenho recebido. Do público e dos autarcas. Alguns nunca tinham vindo à televisão e aceitaram estar no ‘Portugal, Português’. E é muito interessante descobrir facetas dos autarcas, que, em meios mais pequenos, são pais, mães, psicólogos...

Como viveu este regresso ao ecrã?

Há duas coisas muito marcantes neste meu regresso: foi inesperado e tranquilo. Propuseram-me apresentar o ‘Portugal, Português’, no TVI24, e eu aceitei. Nessa altura, entrei num período de grande ansiedade, não sabia como me iriam receber as pessoas, como estava a minha cara, mas depois o regresso revelou-se muito tranquilo, talvez fruto da experiência, da idade, da preparação. Nunca tinha sentido este à-vontade em frente às câmaras como sinto agora.

 

Sente-se desprendida em relação à imagem?

É um desprendimento que julgo muito saudável em relação ao aparecer ou não no ecrã. O desprendimento em relação à imagem.

Com o TVI24, a Paula volta ao ecrã após uma ausência de 12 nos. Como explica ter estado tanto tempo afastada?

Não sei. São contingências, decisões da Direcção de Informação. Nunca deixei de ser jornalista, que é o que eu sou, e nunca deixei de trabalhar. Estive sempre nos bastidores.

A trabalhar em que editorias?

No Internacional. E, há dois anos, regressei à Sociedade.

Que arestas limaria no ‘Portugal, Português’?

Há sempre arestas para limar. Gostava de ter mais reportagem, de ir mais aos sítios, sair mais do estúdio, para dar voz ao munícipe. E de falar menos...

Falar menos?...

Penso que às vezes faço muitas perguntas. Creio que agora começo a ficar mais calma.

Já tinha feito informação regional?

Estreei-me na RTP com o ‘País, País’, quando comecei a minha carreira. E depois tive outra experiência de informação regional num jornal do José Eduardo Moniz, que durava hora e meia. Entrávamos em directo de vários pontos do País. Com este programa, no TVI24, foi o regresso às origens.

Quando é que o programa entrevista autarcas dos Açores e da Madeira?

Já estamos a tratar disso. Em Junho teremos autarcas dos Açores no programa.

Que mudou no jornalismo desde que se estreou, com 18 anos?

Mudou a rapidez da informação, porque há concorrência. Comecei a escrever em ‘azert’ [máquina] e agora temos os computadores. Montamos nós as nossas peças. Não havia o Google para pesquisar, era preciso ir ao arquivo. Hoje pode fazer-se mais jornalismo sentado se as pessoas forem calonas. Mas a base do jornalismo não pode mudar: a isenção, a credibilidade, a honestidade.

O que lhe deixa mais saudades desse tempo?

As campainhas dos ‘urgentes’.

Recorda-se de alguns acontecimentos em cuja cobertura esteve envolvida?

A morte de Sá Carneiro, o acidente de Alcafache, o incêndio do Chiado, a segunda visita a Portugal de João Paulo II, a primeira presidência portuguesa da União Europeia – que me levou quatro meses a Bruxelas –, os primeiros transplantes ao coração, as primeiras inseminações artificiais...

Guarda alguns desses trabalhos seus?

Não. Não gosto de ficar nostálgica ou deprimida. Passado é passado. Fiz o melhor que sabia na altura e hoje tento fazer cada vez melhor. Tive uma vida cheia.

Que é que recorda de menos positivo?

Ando a fazer psicoterapia, e uma das coisas que aprendi é a não dar importância às coisas negativas. Sempre fui uma optimista e agora aprendi a ser muito mais.

Se já era optimista por natureza, que a levou a procurar a psicoterapia?

Porque era uma optimista mentirosa. Tentava fazer os outros felizes e não era feliz comigo. Aprendi a racionalizar as coisas, aprendi que não há só televisão, que não há famílias perfeitas, um Mundo perfeito... Que há problemas que podem não ter solução mas que podem ser minimizados.

Nunca se arrependeu de ser jornalista?

Muitas vezes. A ponto de me apetecer mudar de vida. Porque é cansativo, desgastante, difícil conciliar a vida profissional com a vida pessoal. Às vezes apetece mudar, e acredito que, um dia, vá mudar. Pode ser que me torne assessora ou vá viver para o campo.

Também dá aulas?

Dou uma disciplina de jornalismo televisivo na Universidade Autónoma de Lisboa. É um desafio permanente, que me obriga também a aprender.

Que ideia do jornalismo têm os seus alunos?

Muitos julgam que é fácil ser-se jornalista. E querem ser repórteres de guerra.

Têm uma ideia muito romântica da profissão...

Muito, muito. Ambicionam tornar-se conhecidos, esquecendo que há grandes jornalistas da nossa praça cujo rosto não é muito conhecido. Quando lhes falo de Cáceres Monteiro ou de Adelino Gomes, não os conhecem.

Como é partilhar casamento, filhos, casa, trabalho, com outro jornalista?

Sobre trabalho, fala-se o essencial. Não fazemos das televisões o centro das nossas vidas. Ao todo temos quatro filhos, e nos tempos livres namoramos, ouvimos música. Vemos pouca televisão. Em nossa casa não se vê televisão à hora do jantar nem se atende telemóveis. A hora do jantar é sagrada para a família.

Tem sido tranquilo trabalhar numa estação ganhadora como a TVI?

Eu não ganho ao share. Faço sempre o melhor que posso e o melhor que sei, no cabo ou na generalista. Mas é óptimo ser-se líder.

DOZE ANOS NA RTP: “NÃO QUERIA SER SÓ A MIÚDA GIRA”

 

Ter chumbado no ano propedêutico, que dava acesso à universidade, mudou a vida de Paula Magalhães: “Tinha de estar um ano parada, e como já tinha vontade de ser jornalista bati à porta de vários jornais de Braga, onde vivia. Fiz um estágio no ‘Correio do Minho’ e depois abriu-se uma vaga na RTP, à qual me candidatei. Comecei a conduzir o ‘País, País’. Passou depois para Lisboa:  “Comecei a apresentar o ‘Telejornal’ com José Eduardo Moniz. Mais tarde com Raul Durão e, depois, com Manuel Menezes”, recorda a jornalista, que diz ter passado na RTP “os melhores anos” da sua vida. “Frequentei o Centro de Formação da RTP, um dos melhores da Europa. Fiz vários cursos. Queria aprender mais.”

PEFIL

 

Paula Magalhães nasceu em Braga há 47 anos. Aos 18 anos, entrou na RTP, onde começou por apresentar o ‘País, País’. Poucos meses depois, a jornalista e José Eduardo Moniz eram o rosto do ‘Telejornal’. Na estação pública, destacou-se na cobertura da morte de Sá Carneiro, acidente de Alcafache, incêndio do Chiado e a segunda visita de João Paulo II a Portugal. Depois de 12 anos ao serviço da RTP, a jornalista mudou-se para a TVI, um ano antes do arranque da estação. Com 29 anos de profissão, dá também aulas na Universidade Autónoma de Lisboa. Paula Magalhães é casada com Luís Marinho, administrador da RTP. Tem dois filhos, Gonçalo, com 24 anos, e Tomás, com 14 anos.

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